Pedro Ferreira
Emoção, aplausos e lágrimas ontem de manhã na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Tudo para festejar a volta de frei Cláudio van Balen à celebração da missa das 11h, a mais concorrida e tradicional da paróquia. Aos 81 anos, 50 dos quais dedicados ao templo, o religioso havia sido afastado de suas funções em 26 de janeiro, o que causou protestos do grupo de paroquianos que se identifica e segue as orientações do religioso e culminou com uma crise entre o padre e seus superiores. A paz só foi alcançada no início da semana passada, quando foi anunciado o retorno do padre às celebrações de sexta-feira, às 19h, e do domingo, às 11h. Frei Cláudio procurou evitar declarações polêmicas. “Não pode haver vanglória vitoriosa. Ninguém ganhou. Quem ganhou foi a Igreja e a Igreja é do povo. Não estamos aqui para celebrar a vitória. Não me sinto à vontade”, disse o padre durante a celebração.
A euforia aumentou quando frei Cláudio, com oito minutos de atraso, subiu ao altar, sendo aplaudido por vários minutos. Ele deu início ao ofício e muita gente levantou smartphones e tablets para gravar o momento em vídeos e fotos. Frei Cláudio quis saber dos fiéis se alguém tinha algo a perguntar. “O sal da sua terra está perdendo o sabor?”, quis saber um homem. “Ninguém pode julgar em causa própria”, disse o padre, falando que caberia aos fiéis a resposta. Ainda procurando evitar o clima de vitória, o padre lembrou que seu retorno às atividades religiosas na paróquia não tem o apoio unânime na comunidade e que há na internet um documento, com mais de duas mil assinaturas, o acusando de herege.
VEIO DE LONGE
Moradora de Araxá, no Alto Paranaíba, a administradora de empresa Beatriz Pereira Almeida, de 68 anos, contou que viajou 367 quilômetros para assistir à celebração de frei Cláudio. “Assim como venho a BH para os bons shows, vim para ver frei Cláudio. A linha dele é moderna”, disse a administradora. A dona de casa Nair Gonçalves Rodrigues, de 65, mora em Ribeirão das Neves, região metropolitana, e enfrentou uma longa fila depois da missa para abraçar o religioso e pedir que ele abençoasse seu escapulário. Ela já estava indo embora quando pagou R$ 30 por um livro de autoria dele, Artesão da fé, à venda no adro, e retornou para pedir autógrafo. “É a primeira vez que participo de uma missa dele. Senti uma vibração positiva quando cheguei perto dele e chorei. Só Deus mesmo”, disse Nair, emocionada. “Ele fala a linguagem do povo. Ele interpreta a Bíblia para o povo. Chorei”, comentou outra fiel.
A professora aposentada Maria José Ruggio Starling fez um poema para o padre e aguardou na fila para homenageá-lo. “Ressurgistes gigante do caos para superar toda a injustiça. No amplexo com a miséria e da dor, cultivar o fruto da própria vida”, diz o texto. “Para mim, frei Cláudio é a humildade em pessoa, a compreensão e a humanização. Ele é a reintegração das forças em favor da vida”, disse Maria José. “Estou feliz com a volta dele. Eu amo esse padre. É a missa mais bonita que já vi. É espetacular”, comentou outra senhora.
O ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, o economista Paulo Haddad, disse que sempre vai às missas celebradas por frei Cláudio, e comentou o afastamento do padre e seu posterior retorno. “Acho que foi um grupo minoritário, com uma atitude medieval, desatualizada historicamente, que fez o movimento inexpressivo para afastá-lo e teve a resposta apropriada da maioria da comunidade do Sion. Prevaleceram a justiça e a democracia”, disse Haddad.
Frei Cláudio disse que estava emocionado com a volta à missa das 11h e considerou a demonstração dos fiéis um exagero. “É como uma minhoca que procura um buraquinho para se esconder. Na verdade, não estou de volta. Nunca saí daqui”, disse o padre.