Jornal Estado de Minas

Viagem inaugural do BRT/Move tem estações inacabadas e corredores em obras

Prefeito de BH faz viagem inaugural para testar o Move, mas reportagem do EM constata que sistema precisa de melhorias para transportar passageiros com mais conforto e segurança. BHTrans considera que dificuldades de motoristas serão contornadas durante os treinamentos sem passageiros

Mateus Parreiras
Viagens que marcaram oficialmente abertura da fase de testes operacionais foram feitas entre a área central e a Estação de Integração São Gabriel - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press


Entre estações ainda em fase de conclusão e corredores por onde ônibus articulados de 19 metros de comprimento trafegam em meio a operários e máquinas, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), fez ontem a viagem inaugural da fase de testes de operação do Move, o BRT de Belo Horizonte. A equipe do Estado de Minas acompanhou o deslocamento de um desses veículos e a operação dos corredores nos pouco mais de sete quilômetros entre as estações de integração da região central e São Gabriel. O conforto do ar-condicionado é um grande avanço para quem vai enfrentar percursos em veículos de transportes cheios no dia a dia, mas o trajeto está longe de ser tão suave quanto o realizado por um vagão do metrô.


Ao lado de vereadores, técnicos da BHTrans e profissionais da área de transportes, Lacerda esteve na estação na Avenida Paraná, altura do cruzamento com a Rua dos Tamóios, na Região Centro-Sul, e viu que muitos ajustes ainda precisam ser feitos. Ainda que seja a unidade mais adiantada em termos de obras, as instalações passam longe de estarem terminadas. Do forro do teto de armações de metal e plástico, cabos elétricos ainda pendiam sem conexão em 40 pontos. Só duas portas automáticas, das quatro existentes, funcionavam, sendo que nas demais falta a montagem de material elétrico e a colocação de vidros.

- Foto: Um dos focos de reclamação dos passageiros que usam diariamente a Estação Diamante, no Barreiro, também está presente em todas as estações do Move. São as barras estreitas que fazem as vezes de bancos e servem apenas para que as pessoas se apoiem enquanto aguardam a chegada do ônibus. Outro incômodo para quem vai esperar para embarcar é o ruído intenso do motor dos veículos, que reverbera pelo teto e instalações da estação, chegando a atingir 84 decibéis, segundo medição realizada pelo EM.

É como se os passageiros tivessem de suportar o barulho de uma esmerilhadeira em funcionamento ao seu lado, enquanto esperam para embarcar. Para a BHTrans, entretanto, essas situações não representarão problemas, já que a empresa espera que o tempo de permanência nas estações seja de 2 a 10 minutos. “É como em um metrô. A pessoa entra e logo embarca. Ou desembarca na estação e em pouco tempo entra em outra linha”, disse o diretor de Transporte Público da BHTrans, Daniel Marx Couto.

Exatamente às 10h15 o prefeito embarcou no ônibus do Move e tomou um dos assentos à frente. Jornalistas, assessores e outros profissionais ocuparam todos os espaços do veículo, que pode transportar mais de 140 passageiros. Puderam observar que a arrancada do veículo articulado é mais suave do que a de um ônibus comum do sistema BHBus. Descer o forte aclive da Avenida Paraná não foi problema para o Move, que fez o contorno após a Rua dos Tupis sem incomodar muito quem estava apoiado nos balaustres ou sentado. Na curva da Avenida Santos Dumont, onde o Move muda de sentido para seguir para a Avenida Cristiano Machado, o motorista, que foi escolhido por ser um dos mais experientes disponíveis, precisou parar no início da manobra e acertar o veículo para fazer a curva. A BHTrans considera que isso não atrapalhará a operação dos veículos quando vários deles dividirem o corredor e tiverem de fazer a mesma curva com passageiros.

Saiba mais sobre o transporte público de BH no blog Faixa Exclusiva


Marcas As marcas dos treinamentos de motoristas já podem ser vistas ao longo de todos os corredores exclusivos. Nas plataformas das estações há arranhões de veículos que passaram raspando a lataria ao tentar executar a manobra de atracagem, quando se aproximam dos acessos em nível para embarque e desembarque de passageiros. As linhas de tachões amarelos que delimitam essa aproximação também estão marcadas pela borracha dos pneus. “Os testes são feitos para isso mesmo.

Os motoristas estão usando veículos de última geração, daqueles que rodam em países de primeiro mundo. E como muda o modal, a forma de aproximação e os procedimentos de embarque e desembarque precisam se adaptar a isso”, disse o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), Joel Paschoaline.

Durante a viagem, em velocidade reduzida, a sensação de continuidade que deveria ser experimentada pelos passageiros num deslocamento feito dentro de corredor exclusivo é quebrada todas as vezes que o ônibus articulado precisa parar num cruzamento com semáforo, o que corre sobretudo no Centro de BH. A aproximação e a parada na estação de transferência no canteiro central da Avenida Cristiano Machado foi rápida e precisa. Depois de um aviso sonoro, as portas do veículo se abrem e os passageiros desembarcam sem problemas. Na Estação São Gabriel, as instalações que serão usadas pelos passageiros desse sistema ainda não puderam ser testadas pelo prefeito, já que não estão prontas e só deverão se encontrar em condições para a operação comercial – com usuários – em 8 de março. O prefeito aprovou a viagem. “Trabalhamos muito nesse projeto entre 2009 e 2010 e, quando o governo federal divulgar a última lista com a situação das obras para a Copa do Mundo, BH terá uma posição de destaque. Só não vamos terminar a Via 710, que foi adiada”, afirmou.

Prefeito aprova sistema, apesar de pendências que devem ser resolvidas - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA PressPrefeito confirma a extensão das linhas


O prefeito Marcio Lacerda aproveitou o giro pelos corredores do Move para anunciar mais obras de ampliação do sistema. Como antecipou a reportagem do EM no dia 3, serão mais 81,5 quilômetros de vias adaptadas para que circulem ônibus articulados e segregação em pistas já existentes para o sistema de ônibus simples (padron), que é conhecido como BRT Light ou BRT Leve. Uma das primeiras vias a receber o sistema será a Avenida Amazonas.
“Já temos os recursos assegurados para essas intervenções, de R$ 377 milhões. Com isso vamos interligar o sistema”, disse Lacerda.

Entre as aplicações de verbas previstas, R$ 90 milhões serão usados para a implantação da Estação de Integração do Bairro São José, R$ 50 milhões para as adaptações da Avenida Vilarinho, que deverá contar com mais um viaduto e mais uma trincheira, e o restante dos recursos aplicados em intervenções nos demais corredores. Para comprar a frota de 430 veículos que vão rodar em BH, as empresas de ônibus investiram cerca de R$ 250 milhões. “Quando as estações estiverem prontas, as empresas vão gerenciar esses espaços e organizar a segurança”, disse Lacerda.

O prefeito informou também que em maio o projeto executivo do metrô de Belo Horizonte deverá ser entregue e o processo licitatório, iniciado. “Se não houver ações judiciais contestando, poderemos começar as obras ainda neste ano”, disse. 

Clique e veja a galeria de fotos do protesto - Foto: Leandro Couri/EM/DA PressProtesto em tom de carnaval


Um ato de protesto em tom de ironia, com direito a tapete vermelho, contagem regressiva e espumante foi feito ontem pelo movimento Pula Catraca! para marcar a inauguração simbólica do transporte rápido por ônibus (BRT), o Move, como é chamado o novo sistema de coletivos em Belo Horizonte, previsto para começar a operar ontem. Cerca de 40 manifestantes saíram da Praça da Estação, no Centro, e ocuparam uma das estações da Avenida Santos Dumont, na mesma região, tocando e cantando marchinhas de carnaval. As músicas faziam críticas ao transporte público na capital. A Guarda Municipal e a Polícia Militar estiveram no local, mas o ato foi pacífico e não houve confusão.

.