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Estado de Minas

Acidentes em BH e Betim expõem dificuldade no controle de veículos de cargas

Retroescavadeira caiu de um caminhão na Contorno, em BH, e carreta tombou na Fernão Dias


postado em 19/02/2014 06:00 / atualizado em 19/02/2014 07:07

Motorista do caminhão do qual caiu a retroescavadeira no tobogã da Avenida do Contorno ficará impune, porque fugiu e a autuação só é feita com flagrante(foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)
Motorista do caminhão do qual caiu a retroescavadeira no tobogã da Avenida do Contorno ficará impune, porque fugiu e a autuação só é feita com flagrante (foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Dois acidentes causaram transtornos gigantes. O primeiro em plena Avenida do Contorno, no Bairro Funcionários, Centro-Sul de BH, onde um motorista abusou da imprudência numa via onde não poderia circular ao tentar subir o tobogã com um caminhão carregado com uma retroescavadeira. Ele fugiu depois que a máquina caiu no asfalto e deu muito trabalho para ser retirada. Na Fernão Dias, em Betim, o tombamento de uma carreta de cimento deixou pistas fechadas durante 24 horas e causou congestionamento de mais de 10 quilômetros, demonstrando que mesmo em rodovia privatizada a desinterdição em caso de acidentes é problemática.

O acidente na Contorno assustou moradores e pedestres no início da manhã de ontem. A retroescavadeira caiu da carroceria do caminhão e ficou escorada em uma palmeira, quase na esquina com a Rua Piumhi. Ninguém ficou ferido e nenhum veículo foi atingido. O acidente chama a atenção para o controle dos veículos pesados em áreas restritas da cidade. No ano passado, a Polícia Militar, a Guarda Municipal e a BHTrans autuaram 477 motoristas de caminhões, uma média de 1,3 veículo por dia transitando em local proibido. Somente ontem, enquanto guardas municipais trabalhavam na ocorrência da retroescavadeira, 10 caminhões foram autuados em flagrante no tobogã da Contorno. Além da imprudência dos motoristas de carga pesada, a fiscalização insuficiente, feita por radar apenas na Avenida Nossa Senhora do Carmo, contribui para aumento de risco de acidentes.

No trecho do acidente, a BHTrans proibiu 24 horas por dia o trânsito de veículos com capacidade acima de 5 toneladas ou com mais de 6,5 metros de comprimento, o que agravaria a situação do motorista que fugiu do local após a queda da máquina pesada. Mas, como ele não apareceu, nem a multa por “transitar em locais e horários não permitidos pela regulamentação estabelecida pela autoridade competente”, conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), foi aplicada.

O tenente-coronel Edvaldo Piccinini, comandante do Batalhão de Trânsito da PM (BPTran), explicou que só é possível autuar se o caminhão for flagrado por uma autoridade de trânsito habilitada para multar. O militar admite que só o peso da máquina já supera a capacidade permitida pelo trecho, mas sem o flagrante não há multa. Segundo o Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran), a Polícia Civil só investiga casos com vítimas, o que significa que o motorista infrator ficará impune.

Piccinini não concorda que haja falhas na fiscalização. Ele afirma que é impossível manter um militar do batalhão em cada trecho com restrição para veículos pesados, uma vez que o BPTran tem inúmeras atribuições e só de ocorrências de trânsito atende cerca de 200 por dia. “A melhor solução seria investir na fiscalização eletrônica, como já acontece na Avenida Nossa Senhora do Carmo”, afirma o tenente-coronel.

Mesmo privatizada, a BR-381 não consegue se livrar de problemas crônicos como desinterdição lenta. Tombamento da carreta manteve via fechada por 24 horas(foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)
Mesmo privatizada, a BR-381 não consegue se livrar de problemas crônicos como desinterdição lenta. Tombamento da carreta manteve via fechada por 24 horas (foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS)

FLAGRANTE
Em 2013, 158 caminhões com capacidade acima de 5 toneladas ou comprimento acima de 6,5 metros foram flagrados pelo radar da via. Nos demais corredores e áreas restritas, PM e Guarda Municipal registraram 319 infrações em todo o ano passado. Este ano, as duas corporações já anotaram 57 multas, todas referentes a janeiro.

O gerente de trânsito da Guarda Municipal, José Anísio Pereira Júnior, admite que a fiscalização dá margem para os infratores e que isso acontece porque nem todos se submetem aos caminhos corretos por conta da maior distância percorrida. “Eles aproveitam as brechas e encaram imaginando que não serão pegos. Estamos em uma época com muitas obras em BH, o que aumenta a demanda dos caminhões pesados”, diz. Ele completa lembrando que a Guarda Municipal está atenta ao problema e analisa rotas usadas pelos infratores para autuá-los. “No caso de ontem, vamos analisar de onde veio esse caminhão, para inibir novos desrespeitos”, afirma.

Para retirar a retroescavadeira foram necessários dois reboques pesados da BHTrans. Ambos tiveram que passar por cima do canteiro central, o que causou danos no passeio e no jardim, mas a empresa informou que fará os reparos. Nas ruas, a reação da população foi de susto. “Isso aí é lugar de subir?”, questionou a dona de casa Loide Missias Resende Claussen, de 58 anos. “O cara que sobe uma avenida dessa com esse peso não tem cabeça”, afirmou o técnico em edificações Juliano Vieira, de 37.

O fazendeiro Demerval Guimarães se apresentou como tio do dono da escavadeira e informou que o motorista errou uma marcha no momento que estava no tobogã. “Ele ficou com medo e foi embora”, disse. Ele não quis dar detalhes do motivo de o condutor estar em local proibido.

 

 

 

Um dia tombado na Fernão Dias

 

O tombamento de uma caminhão carregado de cimento evidenciou novamente as dificuldades operacionais para a rápida liberação de rodovias em acidentes com veículos pesados. Motoristas e passageiros que circulavam pela BR-381 enfrentaram filas de até 11 quilômetros no sentido SP/BH. O trecho é administrado pela concessionária Autopista Fernão Dias. Mesmo se tratando de uma via privatizada, depois de 24 horas do acidente a estrada ainda estava parcialmente interditada para a retirada da carreta.

O empresário Nelson Antônio da Silva, dono da NC Transportes, responsável pelo veículo, que, segundo ele, levava 31 toneladas de cimento para São Carlos (SP), afirmou que não teve qualquer apoio da administradora da rodovia para resolver o problema. “Pago mensalmente R$ 3 mil de pedágio e a única coisa que os funcionários da Autopista disseram, no começo da manhã, era para que eu providenciasse a retirada da carreta e limpasse a pista. Não deram nenhum apoio operacional, nem mesmo indicaram empresas que poderiam fazer o serviço. Com isso, somente às 14h teve início o serviço de remoção para liberar as pistas”, explicou.

A Autopista Fernão Dias informou que é responsável pela liberação da pista em caso de acidentes, mas não é responsável pelo trasbordo da carga, o que possibilitaria o destombamento do veículo com rapidez. No caso de ontem, a concessionária disse que foi necessária a mobilização de um equipamento com capacidade de remoção maior (guindaste) do que os guinchos que possui por obrigação contratual. Nesses casos, a empresa diz que comunica o responsável pela carga e orienta sobre acionamentos de recursos próprios.

DESGOVERNADO
O acidente aconteceu no km 501 da BR-381, às 21h da segunda-feira, em Betim, na Grande BH. O motorista da carreta, carregada com cimento, que seguia no sentido BH/SP, perdeu o controle do veículo, invadiu a pista contrária, bateu de frente com um caminhão e tombou em seguida, com o veículo ficando totalmente atravessado na via. O carreteiro sofreu escoriações leves e o condutor do caminhão foi socorrido com fratura em uma perna, no Hospital Regional de Betim. Um desvio teve que ser improvisado, mas ainda assim o trânsito ficou congestionado.

O inspetor Aristides Júnior, da Polícia Rodoviária Federal, informou que foi registrada ocorrência do acidente, porém, a liberação das pistas, como outras providências para o trânsito fluir, ficam por conta da concessionária. “Normalmente, quando a Autopista tem equipamentos apropriados para a retirada de veículos acidentados, a administradora toma as providências de imediato. Já a PRF, nesse tipo de ocorrência, aciona o responsável pelo veículo. Mas acidente com carga é uma situação complexa. Cada caso tem procedimentos diferentes e nem sempre dá para resolver a situação em curto prazo”.


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