Jornal Estado de Minas

Taxistas de Belo Horizonte adotam botão de pânico para escapar da violência

Vítimas de cinco assaltos por dia, em média, profissionais equipamento é usado para denunciar passageiros suspeitos

Junia Oliveira

"Tentei ganhar tempo até a polícia chegar. Graças ao sistema, consegui me safar" - M., taxista há 11 anos, que recorreu ao botão de pânico durante corrida - Foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

Para conter uma média de cinco assaltos por dia, os taxistas de Belo Horizonte se organizam como podem para evitar o perigo. A tecnologia virou arma contra bandidos. Pelo celular ou num simples botão, os motoristas pedem ajuda aos colegas e a uma central de monitoramento, inédita no país, para evitar um desfecho trágico durante corridas suspeitas, principalmente à noite. A quantidade de crimes é estimada pelo sindicato da categoria, que espera, em breve, uma reunião com os órgãos de segurança pública para cobrar providências para prevenção.

Desde 2010, seis profissionais foram assassinados em BH e na região metropolitana, segundo o Sindicato dos Taxistas (Sincavir). O último ocorreu no fim de semana. Uma das iniciativas para a segurança da categoria é pioneira no Brasil. Trata-se de um botão antipânico, sistema fixo instalado em 500 táxis de BH.
Em caso de perigo, basta apertar um dos dois botões. O sinal é enviado a uma central, que acompanha os motoristas 24 horas por dia.

Diante do acionamento do sistema ou de um telefonema, uma equipe de pronta resposta entra em ação imediatamente, com o apoio da Polícia Militar. O equipamento é bancado com recursos das propagandas feitas no vidro traseiro dos veículos – em troca do direito de anunciar, a empresa deve fazer o rastreamento. “Todos os dias há ocorrências e, entre o que aderiram ao sistema, recuperamos 100% dos carros em casos de roubos e conseguimos evitar muitos assaltos”, informou o diretor da CPN Mídia Táxi BH, Sávio Silvério.

Na praça há 11 anos, o taxista M. escapou de um assalto graças ao dispositivo. Ele estava em uma tarde na Avenida João César de Oliveira, no Bairro Eldorado, em Contagem, quando uma mulher de aproximadamente 40 anos deu sinal. Com ela, inesperadamente, entraram dois jovens, rumo a Betim, na região metropolitana. “Eles eram estranhos e falavam gíria. Achei que fossem filhos dela, até o momento em que, num ponto ermo da Via Expressa, ela disse que estava apenas dando carona a eles”, contou. Nesse momento, ele apertou o botão.

A mulher pagou metade da corrida e desceu do veículo.
Antes de chegar ao destino, o carro foi bloqueado pela central. M. simulou ter um problema mecânico. Ao ver a reação da dupla, que o ameaçou de assalto, pediu calma e garantiu que continuariam a corrida. “Tentei ganhar tempo até a polícia chegar, o que demorou ainda uns 30 minutos”, relata. O motorista foi escoltado pela PM para sair da região. “Graças ao sistema, consegui me safar”, disse. Para M., outra segurança são os aplicativos de celular para chamar um táxi. “O número do IP é registrado na administradora do aplicativo e há cadastro do cliente. A possibilidade de assalto é mais baixa”, afirma.

Outros aplicativos se tornaram aliados.
Um deles é o “zello” e tem angariado cada dia mais motoristas, que, em caso de passageiro suspeito, enviam uma mensagem ao grupo. Os colegas chamam a PM. “Qualquer meio de se organizar para trazer mais segurança é válido”, destaca o presidente do Sincavir, Ricardo Faeda. Ele reclama que os taxistas, na maioria dos casos, apenas fazem teste do bafômetro. Aos passageiros nunca é pedida identificação. O sindicato e as lideranças dos segmentos vão solicitar reunião com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e o Comando de Policiamento da Capital (CPC), para discutir medidas, além das já adotadas, para evitar assaltos.

A coronel Cláudia Romualdo, comandante do CPC, informou que a PM mantém operações rotineiras de abordagem a táxis e reuniões periódicas com o sindicato, nas quais os motoristas indicam pontos sensíveis para averiguação.

Categoria quer PM mais ágil

Outra demanda dos taxistas será tentar agilizar o registro de boletins de ocorrência ou disponibilizar o serviço pela internet. Muitos motoristas desistem de fazê-lo por causa da morosidade, o que acaba criando uma subnotificação nos números oficiais.

Essa demora deixou ainda mais fragilizado o taxista Newton Evandro Seabra, de 52. Ele foi assaltado mais de 10 vezes e, na última delas, ficou mais de seis horas na delegacia. O motorista já teve um carro com o dispositivo antipânico e, agora, já convenceu o dono do novo veículo a instalá-lo também. No último crime, o bandido anunciou o assalto quando estavam no Bairro Nacional, destino da corrida, às 3h40. “Ele desceu do carro com a arma na minha cabeça, não tive tempo nem de acionar o botão. Ele me disse para não olhar para trás e eu saí correndo. Quando virei à direita, me deparei com uma viatura da polícia”, conta.

Evandro lembra que o bandido saiu do carro em movimento e conseguiu fugir, mesmo sendo alvo dos tiros da PM. “Fiquei sem condições psicológicas de trabalhar, pensei até em abandonar a profissão”, afirmou. “Numa situação dessa, você tem que ter a linguagem do bandido, porque ele está com uma arma e a gente, com o poder de Deus.”

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