Pedro Rocha Franco
Enviado especial
O aumento da renda e o maior giro de dinheiro levaram os bancos a instalar mais agências em Itamonte, atraindo a cobiça das quadrilhas especializadas em ataques a caixas eletrônicos na região. Nos últimos dois anos, duas agências foram inauguradas na cidade, aumentando para cinco o número de estabelecimentos desse tipo. A instalação de mais uma agência já foi anunciada e, para os moradores, a movimentação de dinheiro, aliada à proximidade das divisas de Rio e São Paulo, transformou o município em alvo preferencial dos criminosos.
"Foi-se o tempo em que todo mundo se conhecia", diz a aposentada Odete Carvalho, que, de casa, ao lado da Praça Francisco Mira, escutou desde o início a troca de tiros entre policiais e a quadrilha. Lá morreram quatro dos nove assaltantes abatidos pela polícia, enquanto a senhora rezava pela proteção da mãe e de três irmãos excepcionais. "A cidade fica mais confiante. Desde novembro, quando ocorreu o primeiro ataque, estava todo mundo naquela expectativa de deitar e não saber o que ia acontecer de madrugada. Anoitecia e cada um ia para a sua casa. Ficou certa cisma. Descaracteriza a cidade", diz ela, que fez questão de aplaudir os policiais da sacada de casa depois da ação de sábado.
Quem também lembra o trauma resultante do primeiro assalto, em novembro, é o empresário Alexandre José da Fonseca. Ele conta que desde o ataque de 2013 passou a ter a companhia da filha, de 6 anos, e do enteado, de 12, na cama do casal toda noite. Com medo, as crianças buscam proteção no quarto dos pais. "Criou-se o pânico. A gente não sabe o que está acontecendo", relata ele. Vizinho de rua do "quartel", em novembro ele ouviu os ataques à unidade policial e viu surgir dentro de casa a mira a laser da arma de um dos criminosos. Desta vez, pelo menos três tiros acertaram o portão e o muro da casa. "O pessoal está acostumado a isso nas cidades grandes, mas, em cidade pequena, deixa a sensação de impotência", afirma.
De helicóptero, a PM fez rastreamento em busca dos fugitivos, mas ninguém foi preso. De casa, o caminhoneiro Amilson Florência Cavalcante escutou os tiros e, ao terminar o confronto, saiu para ver o que havia ocorrido. "A cidade é pacata. Isso é coisa de Hollywood", relembra ele, que contou 25 marcas de tiro em um dos carros. De lembrança, o medo que tudo se repita, além de uma das milhares de cápsulas de fuzil e pistola que ficaram espalhadas no chão.