O espetáculo tem que continuar – e os maiores astros e estrelas são as crianças e jovens dedicados a atividades como artes plásticas, dança, teatro, música e esportes para melhorar o despenho escolar, propiciar o convívio saudável entre a garotada e fortalecer a cidadania. Quatro organizações sem fins lucrativos vencedoras do Prêmio Itaú-Unicef 2013 em Minas Gerais, oferecido pela Fundação Itaú Social e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), comemoram o reconhecimento e mantêm vivos – e, claro, em constante movimento – projetos socioeducativos e culturais conduzidos na capital e no interior.
Em Minas, foram agraciados o Ser Criança – Educação Pelo Brinquedo, do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (categoria grande porte); Arte D’Aki, do Centro de Promoção e Assistência Social Ana Bernardina (Cepas), em BH (médio porte); Inter-Ação Lúdica Legitimidade, do Centro de Referência da Infância e Preservação da Vida – Casa Guará, em Brumadinho, na Grande BH (pequeno porte); e Gente na Roda, da Oscip 8 de março, de Almenara, no Vale do Jequitinhonha (microporte). Nesta edição do programa, com 2.713 inscritos, a final, em São Paulo, reuniu 32 projetos sociais, recebendo menção honrosa o mineiro Ser Criança – Educação Pelo Brinquedo, do CPCD.
No Bairro Novo Aarão Reis, na Região Norte da capital, o Cepas Ana Bernardina envolve 229 crianças e jovens de 6 a 18 anos no projeto Arte D’Aki, levando para o cotidiano deles nomes contemporâneos como Vik Muniz, artista plástico brasileiro de fama internacional, o pintor e escultor pernambucano Romero Britto e os premiados designers de móveis Humberto e Fernando, os Irmãos Campana.
“Na Oficina de Artes Visuais, a turma fez uma releitura da obras dos artistas e se espelhou neles para criar objetos. No caso de Vik Muniz, eles usaram material descartável, da mesma forma que o artista recorre ao lixo para fazer seus quadros”, conta o coordenador da oficina Wesley Camilo de Moraes Andrade. Sem perder o pique e inspirada nos Irmãos Campana, a meninada fez cadeiras com barbante. Para as lixeiras elaboradas com cola e jornal, as formas e cores de Romero Britto serviram de modelo.
“Nosso objetivo é fomentar a arte na comunidade e, principalmente, permitir o acesso dos jovens à cultura, o que ainda é muito difícil para certas camadas sociais”, analisa o pedagogo Wesley. Além das artes visuais, o projeto contempla oficinas de dança – balé clássico, contemporâneo, jazz, hip hop, ritmos baianos e sapateado –, esportes (jogos e brincadeiras) e teatro. Esse último, especialmente, mostra que o “show tem que continuar”.
“Os benefícios para os jovens são muitos. Uma pesquisa da Fundação Itaú indicou que as crianças com presença constante nas atividades tiveram melhor rendimento em sala de aula, em especial em língua portuguesa, com aumento na nota média para 8,05 pontos”, diz o pedagogo, lembrando que 90% dos jovens que frequentam o espaço, quatro horas por dia, vivem em situação de risco social.
Doses de ética e cuidado No Bairro Casa Branca, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Centro de Referência da Infância e Preservação da Vida – Casa Guará, existente há 10 anos, conduz o projeto Inter-Ação Lúdica Legitimidade. Com atividades internas e externas, a organização oferece oficinas de capoeira, teatro e circo, contação de história, violão, artes plásticas e programas videoeducativos, que são itinerantes e têm como atração o Cine Guará. No total, há mais de 80 crianças envolvidas nas atividades sociais, ecológicas, artísticas e educativas”, diz o gestor social José Carlos Ferreira. A Casa Guará é mantida com recursos do Fundo da Infância e Adolescência (FIA) e parcerias. “As ações são importantes para despertar o espírito de cidadania”, acredita o gestor.
José Carlos destaca que “os princípios da ética e do cuidado” norteiam a missão e as propostas da entidade na região de Brumadinho e entorno. “O público alvo são crianças e adolescentes e, por meio deles, buscamos os núcleos familiares, com intervenções cooperativas, transversais e interdisciplinares”, afirma. Os instrumentos oferecidos à comunidade têm o viés da reciclagem, bioconstrução etc. e oferecem oficinas, debates e eventos comemorativos.
Com 30 anos de história, completados há um mês, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) atua em três cidades mineiras – Raposos, Araçuaí e Curvelo –, seis cidades no Maranhão e em Vargem Grande Paulista (SP), com atendimento a faixas etárias variadas. Em Araçuaí, está o projeto Ser Criança – Educação pelo Brinquedo que recebeu o Prêmio Itaú-Unicef de Minas Gerais na categoria grande porte e menção honrosa na final em São Paulo. Segundo os coordenadores, o Ser Criança atende a cerca de 300 meninos e meninas, de seis a 14 anos, que passam em torno de quatro horas na entidade: quem estuda de manhã vai à tarde e vice-versa. “Há reconhecimento e mais visibilidade”, dizem os coordenadores.
O objetivo do projeto, como o próprio nome diz, é “aprender brincando”, por meio de jogos que facilitam a aprendizagem de matemática, português e demais matérias. Além da sala de aula, crianças e adolescentes têm atividades ao ar livre na horta e depois ficam sabendo como preparar os alimentos na cozinha experimental.
Incentivo a quem se articula com políticas públicas
Criado em 1995, sob coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) – organização da sociedade civil –, o Prêmio Itaú-Unicef é pioneiro ao estimular experiências de educação integral no Brasil. A iniciativa visa reconhecer e estimular o trabalho de organizações sem fins lucrativos que contribuam, em articulação com políticas públicas de educação e assistência social e em parceria com escolas públicas, para ampliar a aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens.
De acordo com o vice-presidente da Fundação Itaú Social, Antonio Matias, as crianças e jovens precisam de programas e políticas educacionais cada vez mais abrangentes para ter acesso a uma formação plena e de qualidade no Brasil. “O tema educação integral se fortalece cada vez mais na agenda social e política brasileira. Pioneiro na indução de ações socioeducativas que vão além do currículo tradicional e envolvem diversos saberes e setores da comunidade, o prêmio dá visibilidade a projetos que podem ser exemplos de boas práticas.”
Conforme os organizadores, o prêmio favorece ações como oferta de cursos presenciais e a distância, realização de debates e seminários, produção de materiais e de publicações com conteúdos voltados para a reflexão e orientação da prática de gestores e educadores. Assim, as organizações participantes podem ampliar o debate sobre educação integral, socializar as práticas desenvolvidas com seus respectivos públicos e formar redes sociais.
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