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Estado de Minas

Polícia confirma que professor foi assassinado durante cerco a bandidos em Itamonte

Polícia de São Paulo diz que um dos mortos em Itamonte pode ter sido sequestrado pelos bandidos. Namorada dele defende inocência


postado em 25/02/2014 06:00 / atualizado em 25/02/2014 07:18

Morto no tiroteio, Silmar Madeira, de 31 anos, tinha duas filhas e dava aula de segurança no trabalho(foto: REPRODUÇÃO NO FACEBOOK)
Morto no tiroteio, Silmar Madeira, de 31 anos, tinha duas filhas e dava aula de segurança no trabalho (foto: REPRODUÇÃO NO FACEBOOK)

Itamonte – Duas pessoas conhecidas na cidade sofreram de perto com o terror que assolou o município de 13 mil habitantes no fim de semana: um herói por acaso e uma vítima da crueldade de uma facção criminosa. De um lado, a Polícia Civil de São Paulo já dá praticamente como certo o fato de que o professor de segurança do trabalho Silmar Madeira Júnior, de 31 anos, foi sequestrado pelos criminosos e morto durante troca de tiros na madrugada de sábado. Ele não faria parte da quadrilha, ao contrário do que indicaram inicialmente as investigações do Departameto de Estadual de Investigações Criminosas (Deic) de São Paulo. De outro lado, o empresário e taxista Zélio Morais salvou a pele de um primo ao pedir aos assaltantes em fuga para levarem o seu carro em vez do dele na noite de domingo. Mas acabou ele mesmo sendo levado e obrigado a dirigir.

Em um bairro vizinho ao de Zélio, a namorada de Silmar Madeira Júnior está indignada com as acusações contra ele. Em entrevista ao Estado de Minas, sob a condição de anonimato (o medo de vingança é grande no município), a jovem, de 19 anos, garante que o namorado estava com ela até por volta das 2h30. Mensagem de celular trocada entre eles, às 2h42, pode servir de álibi. “Cheguei", diz a moça, minutos depois de descer do carro em rua paralela à sua casa, confirmando ter entrado em casa. "Tá!", responde Silmar. Os dois se encontraram às 22h30 para ir a um restaurante e, ao retornar, ficaram conversando no carro. Segundo ela, tudo estava normal e ele não fez nada suspeito. Na noite do tiroteio, ele usava um Palio vermelho porque seu Kadett branco estava na oficina mecânica.

Por morar longe de onde ocorreu o tiroteio, ela só soube da morte de Silmar na manhã seguinte. Pouco depois, um vizinho teria ido à casa dele dizer ter visto o sequestro do rapaz por criminoso armados. "As evidências de que ele era inocente são muitas", diz a jovem, ao lado da mãe e de um amigo da família. Uma testemunha disse ter visto Silmar ser rendido por criminosos.

Morador da vizinha Itanhandu, Silmar tinha duas filhas e dava aula de segurança do trabalho em escolas de ensino técnico da região. Aluna do rapaz 11 anos mais velho, a jovem o conheceu em um curso e há cinco meses começaram a namorar. "Tudo que tinha foi lutado", diz ela.

A Polícia Civil investiga se Silmar era inocente ou se um informante da quadrilha. Além do relato da namorada e da testemunha, pesa em favor dele o fato de, diferentemente dos demais participantes da ação, estar sem colete à prova de balas no momento do ataque e portar documentos.

“A dúvida agora é se a presença de Silmar era voluntária ou coercitiva. Ainda não temos elementos suficientes para comprovar a inocência”, afirmou o delegado João Euzébio, chefe do 17º DP de Pouso Alegre. Já o chefe da Divisão de Investigação de Crimes contra o Patrimônio (Deic) de São Paulo, delegado Ruy Ferraz Fontes, explicou por que Silmar se tornou alvo durante o tiroteio. “Ele veio dirigindo um dos veículos e furou o bloqueio policial. Se ele era inocente, estava sequestrado e pode ter sido usado como escudo por pessoas que atiraram na polícia. Se inocente, isso vai ser declarado, o que não significa que o estado é responsável pela morte dele, já que ele estava com o bando”, afirmou Fontes.

Em Itamonte, o clima permanece tenso. Na Casa de Caridade de Itamonte, unidade médica da cidade, PMs fortemente armados faziam a patrulha na porta para monitorar um suspeito internado. Ele sofreu um acidente de moto e, depois de conferir a ficha criminal, a polícia suspeitou da participação dele.

Comerciante virou refém

Às margens da BR-354, na saída de Itamonte e bem próximo de onde no dia anterior quatro pessoas foram mortas em troca de tiros com policiais, Zélio Morais servia pizzas para os fregueses do restaurante Taberna d'Minas. Por volta das 20h, dois criminosos entraram no estabelecimento. Armados com um fuzil e um revólver calibre 38, calmamente, eles disseram precisar de um carro para fugir. O alvo inicial era o EcoSport do primo, mas, como o veículo não é segurado, o empresário pediu para que os dois levassem seu táxi. Sem saber que teria que acompanhá-los estrada afora até cruzar as divisas de São Paulo ou do Rio de Janeiro, a cerca de 50 quilômetros dali. “Eu iria ficar apavorado. Ele é mais experiente do que eu", diz em tom aliviado o primo de Zélio, que, pouco depois de fechar seu restaurante, foi até o do parente para comer uma fatia de pizza.

A história parecia ter chegado ao fim. A sensação de medo aos poucos se dissipava com a morte de nove criminosos em Itamonte. Mas, aos gritos, no Centro na cidade, uma mulher anunciava o possível retorno dos bandidos que aterrorizaram o município. Minutos depois do assalto de Zélio, amigos e parentes que testemunharam o sequestro chamaram a Polícia Militar para tentar bloquear o veículo na estrada. Foi pedido apoio às polícias de São Paulo e do Rio. Uma viatura da Polícia Rodoviária Federal seguiu pela rodovia que desemboca da Via Dutra, ligação entre os dois estados vizinhos. Pouco depois, junto de um PM, amigos de Zélio seguiram pelo mesma rodovia.

Com Zélio ao volante do seu táxi, os criminosos fizeram refeição (os dois haviam se escondido por mais de 40 horas em uma mata) numa lanchonete de um posto de gasolina e abasteceram o carro. O comerciante informou que não foi ameaçado e que viu um dos bandidos com R$ 700. Em seguida, os assaltantes fugiram para São Paulo, onde trocaram tiros com policiais e furaram um bloqueio em Caçapava. Depois, em São José dos Campos, a PM atravessou uma carreta na Via Dutra. Os dois ladrões saíram do táxi e tentaram fugir a pé, atirando de fuzil. Um foi morto e o outro levou quatro tiros e sobreviveu, porque estava de colete, mas acabou preso. Zélio ficou dentro do carro abaixado e não se feriu. De volta para casa, ainda apavorado, ele preferiu se resguardar no apoio de amigos e familiares. Viaturas da PM cercaram o bairro para tentar impedir tentativa de resgate do preso internado no hospital municipal.


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