A Polícia Civil de São Paulo informou nessa terça-feira que o professor Silmar Júnior Madeira, morto em tiroteio durante ataque de uma quadrilha em Itamonte, no Sul de Minas, foi sequestrado pelos bandidos. “Ele foi feito refém”, garantiu o delegado da Divisão de Investigação de Crimes contra o Patrimônio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes. Segundo ele, inquérito complementar foi aberto para apurar as circunstâncias da morte do rapaz, que dava aula em um curso técnico de medicina do trabalho. Pesa a favor dele o depoimento de uma testemunha, que relatou ter visto o professor ser sequestrado para dirigir para o bando. Ele foi baleado junto com os criminosos, na madrugada de sábado, quando uma operação policial desarticulou um grupo paulista especializado em explosões de caixas eletrônicos. Além de Silmar, nove pessoas morreram . Seis foram presas e 10 continuam sendo investigadas.
O professor não usava colete à prova de bala no dia do confronto.
Nessa terça-feira, as polícias Civil e Militar fizeram uma operação em Itamonte para recolher provas para o inquérito. De acordo com o delegado do Deic, o chefe do bando foi morto na operação e pelo menos três dos 10 criminosos que vêm sendo procurados já foram identificados. “O chefe acabou morto. O bando está desestruturado. Perdeu seus principais executores. Aqueles que tinham coragem de cometer os crimes, de matar. Quem sobrou está correndo para não ser preso”, afirma Fontes. Segundo ele, todos os sobreviventes que estão detidos foram ouvidos ontem. “Alguns confessaram que foram lá (em Itamonte) para praticar o crime e assumiram, ainda, outros ataques em Minas e São Paulo.
CONSTRANGIMENTO
A circulação de uma mensagem na internet escrita por um delegado que participou da operação em Itamonte gerou constrangimento entre as polícias Militar e Civil de Minas. No texto, o policial André Barleta, de São Lourenço, também no Sul mineiro, narra detalhes da atuação de colegas na operação.
No depoimento pós-confronto, Barleta descreve as equipes paulistas que atuaram em Minas na operação como “grupos da elite da PC-SP que inicialmente estavam meio de narizinho em pé conosco”. Segundo ele, ao final da ação os paulistas olhavam para os policiais civis de Minas com admiração. Ele estendeu suas críticas à Superintendência da Polícia Civil mineira, por falta de munição, equipamentos e armamento reserva para policiais que atuam em confrontos, operações ou em viagens.
A resposta da PM partiu do chefe da assessoria de comunicação da corporação, tenente-coronel Alberto Luiz. Ele classificou o texto de Barleta como “deselegante” e “de mau gosto” e reforça que a PM atuou de forma conjunta com as polícias Civil de Minas e São Paulo, além da PRF. “O trabalho foi integrado. Naquele caso, não havia uma divisão de tarefas. Todas as ações eram conjuntas. Ninguém é melhor do que ninguém.
O delegado André Barleta foi procurado ontem pelo Estado de Minas, mas não foi localizado nem retornou as ligações. De acordo com o delegado João Euzébio, chefe do 17º Distrito Policial de Pouso Alegre, ao qual pertence a Delegacia de São Lourenço, o colega agiu por impulso. “Ele estava um pouco perdido, mas já voltou ao normal. Eu era um dos que estavam à frente da operação e a PM atuou ativamente com a Civil de Minas e de São Paulo”, disse. O delegado do Deic, Ruy Fontes, também afirmou que todas as corporações agiram em conjunto.
As críticas também foram rebatidas pelo Superintendente da Polícia Civil em Minas, delegado Jeferson Botelho. Segundo ele, a gestão da corporação é pautada pelo respeito e investimento em equipamentos e armamentos que garantam boas condições de trabalho aos policiais.
Estado vai expandir parcerias
O episódio de Itamonte, no Sul de Minas, vai ter um caráter preventivo e pedagógico, na opinião do secretário de estado de Defesa Social (Seds), Rômulo Ferraz, pelo fato de a quadrilha desmantelada já ter atacado agências bancárias de nove municípios mineiros e 14 paulistas. Ferraz anunciou que Minas vai unir forças como os estados da Bahia e Espírito Santo, a exemplo da parceria feita há um ano com São Paulo e Rio de Janeiro, para conter o crime organizado.
Rômulo Ferraz afirmou que os trabalhos das polícias estarão concentrados principalmente no Triângulo Mineiro e Sul, regiões em que facções criminosas transitam pelas divisas praticando delitos, entre eles a explosão de caixas eletrônicos, que vem se tornando frequente.
Segundo Ferraz, há um ano foi lançada a Operação Divisas, feita uma vez por mês em mais de 100 pontos do estado em parceria com a Polícia Rodoviária Federal. Em 2012, disse o secretário, foi adotada uma estratégia para conter a explosão de caixas que não foi bem sucedida. “Estávamos nos concentrando muito no comércio de explosivos. Infelizmente, conter esse aspecto é mais complexo, porque demanda um trabalho conjugado, que é mais difícil, com o próprio Exército Brasileiro”, explicou.
Em 2013, a estratégia mudou. “Passamos a buscar mais o trabalho de inteligência e monitoramento dessas quadrilhas.” Também no ano passado, segundo ele, foi criada uma equipe especial do Deoesp para apurar esse tipo de crime. As explosões de caixas diminuíram 17% no segundo semestre, afirmou..