Maria da Conceição Silva acordou nessa terça-feira às 6h da manhã, no barracão em que mora no Bairro Paquetá, em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte, sem a menor noção do tamanho da repercussão da reportagem publicada pelo EM mostrando o que anda fazendo depois de uma passagem de sete meses pelo Mercado Central como faxineira e, depois, recepcionista de turistas. Foram muitas as mensagens no em.com, no Facebook, Twitter e em outras ferramentas usadas pelos leitores para comentar as reportagens do jornal. A mulher franzina, de 43 anos, que, além de dominar bem o português, fala fluentemente quatro idiomas – inglês, espanhol, italiano e holandês – e se comunica em outros dois – alemão e hebraico –, sem dominá-los, saiu de casa sem ver o jornal ou acessar a internet. Não teve tempo, pois pegaria no batente às 7h, numa jornada até as 17h, com pequena pausa para almoçar. Mas ontem a jornada terminou mais cedo, pouco antes das 16h. Em dia normal de trabalho carrega cerca de 4 mil tijolos em um carrinho de mão até as pilhas de secagem. Ganha R$ 740.
Maria da Conceição não altera o tom de voz em circunstância alguma, nem quando soube que um leitor duvidou de suas qualificações, até mesmo se sabe conversar em português, e indagou se não há algo de errado com a personalidade dela. “Não tenho distúrbio mental nem nenhum tipo de descontrole emocional. Sou uma pessoa, pelo que já passei, capaz de me controlar diante de situações de alto risco.” Sobre a língua pátria, responde: “Tive um primo, paraibano, Anésio Leão, que me apoiou e me corrigiu no português. De acordo com a Wikipédia, Anésio (1900-1987) foi político em Campina Grande (PB). Autodidata e poliglota, foi autor de conceituadas gramáticas e do livro de poesias Gritos d'Alma. “Eu não falo gírias. Todos têm direito a opinião”, diz.
MANIFESTAÇÕES
Sobre as manifestações de apoio agradeceu e se manifesta solidária a Mona Liza Ferreira, que, formada em administração e com três línguas estrangeiras na ponta da língua – espanhol, francês, e inglês – está desempregada. “Por mais que pareça tudo difícil, Mona Liza, lute sempre.” Alguns leitores sugeriram a ela trabalhar como vendedora de loja, recebendo salário mínimo. Mas para ela seria maquiar uma realidade. Se não for um trabalho condizente com as habilidade que tem, prefere a camiseta simples, o boné azul, as luvas e o par de tênis surrado na cerâmica, perto de casa, sem gasto com roupa, maquiagem e condução. “Quanto a propostas de emprego, vou para onde Deus me guiar.” Maria da Conceição pediu para repetir o e-mail: conceicaoleeuw@gmail.com.