Jornal Estado de Minas

Carros do transporte clandestino estão envolvidos em 40% dos 15 mil acidentes

Estimativa do DER é de estimativa é de 506 clandestinos acidentados por mês. Risco aumenta com greve de rodoviários e carnaval

Passageiros embarcam em carro particular na 040, em frente à Ceasa, sentido sete lagoas - Foto: Fotos: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS


A greve dos rodoviários e a proximidade do carnaval, quando mais gente viaja pelas estradas, não só evidenciam o perigo, mas servem de alerta para o aumento do risco de mais acidentes causados por veículos que fazem transporte clandestino de passageiros nas rodovias. Os números são altos no estado. Dos 15.168 carros de passeio que se envolveram em acidentes de trânsito nas estradas estaduais mineiras no ano passado, 6.067 (40%) eram suspeitos de fazer transporte ilegal. A estimativa é de 506 veículos clandestinos acidentados por mês, em média.

Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), os acidentes são mais frequentes em feriados prolongados, quando de cada 10 veículos de passeio acidentados e suspeitos de transporte remunerado ilegal, quatro são clandestinos. Eles se envolvem em colisões, queda de abismo, capotamento e tombamento.

A maior dificuldade do órgão de trânsito é obter a confissão do motorista e dos passageiros de que o transporte é pago. Muitas vezes, os fiscais conseguem a confirmação conversando com parentes das vítimas dos acidentes, que não conhecem o condutor nem os demais passageiros.
Os fiscais também levantam antecedentes dos veículos acidentados e descobrem que muitos já haviam sido apreendidos pela mesma ilegalidade. “Naturalmente, a vítima de acidente não confessa que contratou o serviço para não ser conivente com a ilegalidade. Não podemos punir ninguém sem prova explícita”, lamenta o diretor de fiscalização do DER-MG, João Afonso Baeta.

São 5 mil veículos, entre vans, carros de passeio, ônibus e microônibus cadastrados para fretes regulares, além de 8 mil ônibus do transporte intermunicipal no estado, segundo o órgão. A estimativa é de que existam outros 20 mil veículos clandestinos de todas as categorias e modelos espalhados pelo estado.

“Muitos perueiros estão trocando vans e ônibus por carros de passeio para driblar a fiscalização”, informou Baeta. Em função disso, o DER faz operações para coibir o abuso. No carnaval, serão 400 agentes de fiscalização e 101 veículos, com apoio de policiais militares e rodoviários. Nos últimos 15 meses, a média mensal é de 10 mil veículos abordados pelo DER em operações, dos quais 1,1 mil são retidos por algum tipo de irregularidade.

A chegada da folia traz mais preocupação, devido à presença de mais gente viajando. “O potencial de acidentes envolvendo veículos clandestinos é 10 vez maior do que o transporte regular. Quando eles se envolvem em acidentes, só muito tempo depois é que a gente fica sabendo que era clandestino”, afirmou o diretor de fiscalização, lembrando que nesses casos as vítimas não são cobertas pelo seguro de vida, como no transporte regulamentado.

Dos 20 mil veículos clandestinos no estado, 11 mil (55%) circulam na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo o DER-MG. Outros 9 mil (45%) estão espalhados pelo interior, dos quais 5,4 mil nas regiões Norte, Vale do Mucuri, Rio Doce e Jequinhonha. As cidades com maior concentração de perueiros nessas regiões são Montes Claros, Teófilo Otoni, Araçuaí, Pedra Azul e Governador Valadares. Outros 3,6 mil dos 9 mil carros clandestinos do interior estão em outras regiões, principalmente na Noroeste, com destaque para Paracatu, João Pinheiro, Unaí e Arinos.
Baeta esclarece que a carona solidária é permitida, quando pessoa viaja com amigos sem cobrar pela viagem: “O dono não quer aferir vantagem e divide os gastos da gasolina. É o rateio matemático dos gastos”, explica.

O problema dos perueiros se repete nas rodovias federais. Pela manhã e fim de tarde, é grande o movimento de perueios em vans e carros de passeio na BR-040, sentido Sete Lagoas, na Região Central. Os motoristas param os carros e abordam pessoas nos pontos de ônibus e, aos gritos, informam o destino e o preço da viagem. Os carros ocupam o ponto de parada dos ônibus coletivos e há risco de acidente. Alguns transportam até cinco passageiros espremidos no banco traseiro.

Em BH, pessoas que chegam à estação rodoviária são abordadas por agenciadores na Praça Rio Branco, anunciando viagens com preços mais baixos para várias regiões do estado. O embarque é feito em locais distantes, para não chamar a atenção da fiscalização.

Com a porta do carro aberta, perueiro espera passageiros em ponto na mesma rodovia - Foto:
FARRA NADA PASSAGEIRA


Os perueiros aproveitaram a greve dos rodoviários para intensificar o transporte ilegal. Na madrugada de segunda-feira, enquanto a plataforma Sul da Estação Vilarinho deixou de operar por falta de ônibus metropolitanos, muita gente recorreu aos perueiros para não perder compromissos ou deixar de trabalhar. Na noite de ontem, centenas de pessoas aguardavam pelos coletivos por quase duas horas nos pontos de embarque da Rua Aarão Reis, ao lado da Praça da Estação, no Centro de BH.


Muitos desistiram e voltaram para casa em carros clandestinos. Perueiros passavam gritando o destino e informando o preço da passagem, o mesmo cobrado pelos coletivos. O motorista de um Gol cobrava R$ 3,30 para o Bairro Palmital, em Santa Luzia, na Grande BH, e em pouco tempo o veículo dele ficou lotado. Na MG-010, sentido Lagoa Santa, Grande BH, perueiros também aproveitaram a paralisação dos ônibus para faturar um dinheiro extra

Em Betim, apenas 10% dos coletivos rodaram em direção à capital e à Estação Eldorado do metrô, em Contagem, também na Grande BH. A empresa Santa Edwiges, responsável por praticamente todas as linhas em Betim, garantiu que o fluxo de ônibus variou ao longo da manhã entre 30% e 50% da frota.

No ponto da Rua Rio de Janeiro, em frente à Câmara Municipal, no Centro de Betim, duas vans aguardavam enquanto o número de pessoas aumentava, todas aguardando uma das 20 linhas metropolitanas indicadas pela sinalização.

O office boy Wesley Ferreira, 33 anos, tinha quatro opções de linhas para ir ao metrô. Nenhuma delas passava e a van foi oferecida. "Não acho seguro. Prefiro esperar e ver o que vai dar", disse ele. (Colaborou Guilherme Paranaiba)

 

- Foto: Arte EM  

 

 

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