Não chamarás Move. Não para sempre. A palavra tem cheirinho ianque. “Dá para ser entendida tanto por quem fala a língua inglesa como por quem fala espanhol”, diz o jornalista Afonso José de Melo, assessor da BHTrans. Mas não chamarás Move. A criatividade brasileira há de rebatizá-lo. A voz do povo não é a voz de Deus? E a sugestão vem da Cidade Administrativa. Então não é do povo, uai! É do povo sim, claro. Se vem do centro de comando do estado não significa, obrigatoriamente, tratar-se de uma sugestão oficial, da cabeça do governador, autoridade com preocupações acima . Pode vir da cabeça do funcionário público, como veio.
A nova estrela siamesa do transporte urbano de BH não tem a dianteira ligada à traseira por uma sanfona arretada? Não tem aquele sanfonado que o torna também siamesista (olhe o neologismo aí)? Tem. Então, meu caro, é o Gonzagão. É que lá na Cidade Administrativa circula um ônibus articulado, entre um prédio e outro. E como o funcionalismo, mesmo com a cabeça cheia de serviço, não perde a graça, gritou: “Olhe lá, o Gonzagão!”. Vendo outro ônibus, do tipo padrão, a galera gritou de novo: “Olhe lá, o Gonzaguinha!”.
O Afonso Melo confessa: a BHTrans sabia disso. E convocou uma reunião às pressas entre tecnocratas e os profissionais da agência responsável pelas campanhas da empresa. O mote da reunião: “Gente, vamos bolar um nome para o veículo do BRT (Bus Rapid Transit, cruz-credo!), antes de o povo inventar um apelido jocoso”. E nasceu o Move, para dizer em português, inglês e espanhol de um novo movimento na cidade. Mas já era tarde. A galera da Cidade Administrativa estava bem adiantada.
E quem roda nas linhas alimentadoras do Gonzagão? Claro, é ele, o Gonzaguinha. E todo mundo sabe que durante quase toda sua existência, o filho do Rei da Baião não se dava bem com o pai. Como a arte imita a vida, a vida imita a arte e chinês imita tudo, o Gonzaguinha das linhas alimentadoras não está nem aí para a pressa do Gonzagão. O detalhe escapou à inteligência de Jonatas Martins, de 18 anos, estagiário e estudante de comunicação de dados e computação. “Esperei muito pelo alimentador no São Gabriel. Levei 35 minutos para chegar aqui.” E, olhe, do São Gabriel à estação, a distância é de um pulo. Jonatas não viajou mais que 20 minutos no Gonzagão até o Centro. E deu mostras de que a humanidade não está perdida: cedeu lugar a um idoso.
“É preciso consertar isso”, pede Jonatas. Mas tudo, tudo que ainda é motivo de reclamação vai ser consertado, promete Artur José Dias, gerentão da BHTrans. Até a distância de até 20 centímetros da porta de um outro Gonzagão à plataforma? “Tudo. Essa distância pode ser tanto de treinamento como do alinhamento do Move (para sempre foi e sempre será Move).” “Espero que fique tudo 100%”, diz o pedreiro José da Paz, de 49. Ele gastou 30 minutos do Ribeiro de Abreu à estação, no Gonzaguinha, e apenas 20 minutos da estação ao Centro no Gonzagão. Isso no horário de pico. E aí, José, gostou do Gonzagão? O pedreiro sorri. Gonzagão vai pegar, pode crer. “Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz!” E, Cristiano Machado afora, adentro e vice-versa, dá-lhe, Gonzagão!