O crescimento da violência desde o início do acampamento William Rosa, em Contagem, na Grande BH, mudou a rotina de comerciantes e moradores da região da Ceasa Minas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais), que estão apreensivos com o aumento de furtos, roubos, assassinatos e tráfico de drogas. Somente nos 210 mil metros de terreno invadido, às margens da Avenida Severino Ballesteros, no Bairro Jardim Laguna, foram registrados sete homicídios entre 12 de novembro e 26 de fevereiro, média de um a cada 15 dias. “Num local de ocupação desorganizada, é inevitável a infiltração de criminosos”, explicou o major da PM Fabrizio Ortenzio, comandante do policiamento local.
A invasão de sem-teto na área, que pertence à Ceasa, começou em 12 de outubro de 2013. Líderes do movimento calculam que 2 mil famílias de baixa renda estejam instaladas em barracos de lona e madeira no local, somando 5,6 mil pessoas, quase metade de crianças. A Justiça já decidiu duas vezes pela reintegração de posse. A útima foi ontem, em julgamento de recurso no Tribunal de Justiça, que não acatou a suspensão da liminar para retonada da posse do terreno.
O coordenador de segurança da Ceasa, José Maria Gomes, informou que, além dos assassinatos, houve duas apreensões de drogas relevantes no acampamento. “O esquema de segurança da Ceasa foi reforçado e monitora a área interna e o entorno, principalmente na Severino Ballesteros. Estamos sempre alertas e, o que temos visto por meio das imagens das câmeras de segurança. é a movimentação do tráfico de drogas e roubos a veículos, entre outros”.
O sentimento de insegurança, porém, não se limita aos comerciantes do Ceasa. Na Avenida Bueno do Prado, no Jardim Laguna, o clima de medo é generalizado . “Moro no bairro há quase 40 anos e nunca vi tanta intranquilidade como agora”, afirmou o comerciante A.N., há 26 anos estabelecido na avenida.
O açougueiro I.L.G., conta que por uma semana fez parte do movimento. “Tenho cinco filhos, pago aluguel e queria garantir o cadastro para a casa própria. Mas, se antes era um movimento organizado por ativistas do Barreiro – em Belo Horizonte -, logo passou a ser refúgio de bandidos”. A dona de casa S.K., que mora no Novo Progresso, confirma a versão do açougueiro. “Conheço famílias da região que acamparam no local. Mas logo desistiram devido à infiltração de criminosos. E nas ruas, agora, vivemos com medo. Uma amiga teve o carro roubado em plena tarde”.
O major Ortenzio informou que houve reforço do policiamento. “Não brincaria aqui com a comunidade, dizendo que não há infiltração de criminosos na ocupação. Para combater esse quadro, intensificamos nosso patrulhamento, até mesmo para proteger as pessoas do acampamento”.
Lacerda Santos, de 36, um dos líderes da ocupação, minimizou o impacto do crescimento da violência na área. “Somos uma organização de luta popular pelo direito à moradia. Estamos sendo discriminados quando tentam responsabilizar a ocupação pelas ações criminosas na região, quando dizem que as pessoas assassinadas no entorno foram mortas no acampamento”, reclamou Santos, que admitiu que dois corpos foram “desovados” na área.
PM RECUPERA MOTO
A intensificação do policiamento resultou ontem na recuperação de uma moto Honda XRE 300, com queixa de roubo. PMs faziam patrulhamento pela Rua Cecóia II, vizinha ao acampamento William Rosa, quando perceberam o veículo. Dois homens que estavam perto do veículo correram em direção à ocupação. A Honda, que estava sem placas, tinha o tanque sujo de sangue. Em 18 de dezembro, durante operação policial no acampamento, oito adultos foram presos e um adolescente apreendido por suspeita de tráfico de drogas. Foram apreendidos 20kg de maconha, 235 pinos de cocaína, 14 tabletes de crack e 20 cartuchos calibre 32 e 38. Dias antes, a PM já havia apreendido mais de R$ 2 mil em dinheiro, crack e porções de maconha.