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Estado de Minas

Primeira semana de operação do Move indica que usuários ainda não se habituaram às regras

Além disso, falhas de segurança persistem em algumas estações de Belo Horizonte


postado em 16/03/2014 06:00 / atualizado em 16/03/2014 07:24

Na Praça Rio Branco, em frente à Rodoviária, uma viatura da Polícia Militar estava estacionada bem no meio da pista, impedindo a passagem do coletivo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Na Praça Rio Branco, em frente à Rodoviária, uma viatura da Polícia Militar estava estacionada bem no meio da pista, impedindo a passagem do coletivo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
primeira semana de operação do sistema BRT/Move revelou desafios e problemas que não estavam no cronograma oficial. O primeiro deles mostra que o novo meio de transporte de Belo Horizonte não está totalmente incorporado à vida das pessoas, a ponto de ignorarem a sua existência ao andar nas pistas exclusivas do ônibus.

Para alguns, os corredores são sinônimos de ciclovia ou pista de caminhada. O outro é visto ao longo das estações da Avenida Cristiano Machado, nas quais uma falha operacional compromete a segurança dos usuários. As portas deveriam ser abertas apenas quando o veículo se aproxima da plataforma, mas, na maioria dos locais, ficam escancaradas o tempo todo, facilitando o desrespeito aos limites da área de embarque e desembarque. Para detectar e tentar contornar obstáculos como esses, começaram ontem os testes com os ônibus articulados também no corredor da Avenida Antônio Carlos.


No trajeto dos ônibus que já estão em operação, o Estado de Minas flagrou vários exemplos da invasão na pista do BRT. No trajeto entre a Estação São Gabriel e o Centro, a primeira surpresa foi um ciclista que passeava tranquilo no sentido oposto. Quase na chegada ao túnel da Lagoinha, um carro que também trafegava na direção oposta surgiu de dentro do túnel e pegou a primeira saída para a pista mista da Cristiano Machado. No Viaduto Leste, uma picape e várias motocicletas trafegavam sem pudor na faixa do Move, com direito a cortar pela direita para ultrapassar os articulados.

No Centro, na Avenida Santos Dumont, dois idosos andavam tranquilamente pela pista e foi preciso o motorista acionar a buzina para alertá-los do perigo. Enquanto um se arriscou a atravessar quase em cima do veículo, o outro se espremeu entre o ônibus e a estação. No retorno da Avenida Paraná, a pista é tomada por pedestres e só resta ao condutor o som da buzina. Houve até viatura da Polícia Militar atrapalhando o tráfego. Durante uma operação na Praça Rio Branco, em frente à rodoviária, o militar estacionou o veículo bem no meio da pista, impedindo a passagem de um lado ou do outro da pista. O motorista Juraci Dias do Vale, de 40 anos, da linha 83P, desligou o Move e esperou, pacientemente, o policial abrir caminho. “Cruzamos com alguém na pista a todo momento”, afirmou.

No cruzamento da Cristiano Machado com a Rua Jacuí, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de BH, um agente da BHTrans orientava os pedestres imprudentes e os impedia de andar na pista exclusiva. Foi preciso parar até uma mulher com um carrinho de bebê. Ele só não conseguiu impedir um jovem que, ao desembarcar na Estação Ouro Minas, vindo da São Gabriel, simplesmente pulou da plataforma para não usar a passarela e seguiu caminho pela busway.

Funcionários que estão nas estações para ajudar passageiros e motoristas reclamam que a invasão das pistas tem sido comum. “Enquanto as portas não ficarem fechadas teremos esses problemas, porque as pessoas querem subir na plataforma pela pista ou descer nela. E, quando chamamos a atenção de alguém, ainda somos xingados”, reclama uma funcionária. As portas abertas representam ainda o risco de algum usuário cair na pista, pois, para ver se o coletivo se aproxima, muitos põem o corpo para fora da plataforma. Houve até funcionário da manutenção nessa situação. O motorista precisou buzinar três vezes para ele perceber que estava impedindo o emparelhamento do coletivo.

AJUSTES

O motorista Juraci do Vale acha que é questão de tempo para todos se acostumarem. Mesmo com essas questões, ele não tem dúvida ao avaliar a experiência: “Agora é bem melhor e mais rápido, mas ainda há alguns ajustes a serem feitos ”. Entre eles, banheiros na área de embarque e desembarque do Move na Estação São Gabriel. Afinal de contas, o tempo de chegada e saída é curto demais para ir até o andar superior.

Na São Gabriel ainda existem muitos passageiros em dúvida sobre a localização de paradas e saídas. Algumas placas começam a ser instaladas para substituir as faixas de pano e cartazes de papel com as orientações sobre as linhas de ônibus. Os painéis eletrônicos com as informações de tempo de chegada e partida ainda não estão disponíveis, assim como máquinas de recarga do cartão BHBus. Nas estações de transferência elas estão instaladas, mas não funcionam.

O aposentado Vicente Caetano de Paula, de 61, ficou revoltado porque não havia troco na bilheteria para sua nota de R$ 50 nem a possibilidade de recarga. “Só no metrô é possível. Ou seja, se a pessoa já está aqui, tem que andar até lá, sair, e ainda pagar outra passagem para voltar. Isso é um absurdo. Se o sistema aceita o cartão, tem que dar condições de usá-lo”, disse.

A BHTrans informou que as máquinas para recarga de cartões serão instaladas na estação de forma gradativa e, enquanto isso, os usuários podem carregar os créditos nas estações de metrô e nos ônibus alimentadores. Acrescentou que os ajustes dos sensores das portas estão sendo providenciados.

 

No primeiro dia de testes na Avenida Antônio Carlos, o BRT teve que dividir a pista com outros carros(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
No primeiro dia de testes na Avenida Antônio Carlos, o BRT teve que dividir a pista com outros carros (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Articulado estreia
na Antônio Carlos


A atenção era máxima. Mão no volante, olho no painel e outro no retrovisor. Direção macia e curvas benfeitas. Mas na chegada à Estação Pampulha, ainda inacabada, o motorista William Marques Diniz, de 42 anos e 20 de profissão, parou o ônibus a uma distância de 35 centímetros da plataforma, quando o recomendado é, no máximo, 13cm. Mas, tudo bem. Ontem, essa foi a primeira volta dele à frente do Move, em dia de estreia: os condutores que vão dirigir os articulados municipais e metropolitanos começaram os testes operacionais do BRT na Avenida Antônio Carlos, que vai transportar cerca de 400 mil passageiros por dia no novo modal, atendendo 35 mil usuários no pico da manhã.

Os testes foram feitos em 12 das 26 estações da via. Foram observadas a distância com a plataforma de embarque e desembarque, sinalização e posicionamento, entre outros quesitos. Em meio a obras e aos ônibus convencionais, foi preciso destreza para fazer ultrapassagens. O trecho entre a Bernardo Vasconcelos e o Viaduto São Francisco tem obras na pista e, por isso, os Move tiveram de dividir a pista mista com carros e outros coletivos.

Inicialmente, estavam previstos quatro ônibus para circular no trecho entre as avenidas Abraão Caram e Bernardo Vasconcelos, mas seis coletivos foram para a via. No fim da manhã, instrutores e motoristas foram autorizados a seguir até a Estação Pampulha, onde cones faziam as vezes de baliza para o retorno. Quatro motoristas deram início aos testes, além de instrutores que terão, depois, a responsabilidade de ensinar os condutores. Até sexta-feira, todos os motoristas que vão dirigir na Antônio Carlos, marcada para ser liberada mês que vem, devem ser treinados.

Apesar da apreensão inicial, o motorista William Diniz, que trabalha em linhas de Vespasiano, na Grande BH, estava confiante. “Tem que treinar mais para ter o ponto de referência para encostar. Mas é só uma questão de prática”, afirmou. Os colegas dele Wellington César Silva de Souza, de 36, e Claudiomar Gomes de Araújo, de 40, concordam. “A expectativa é de melhoria, segurança, agilidade e conforto. O resto é prática”, afirmou Wellington. “No início haverá transtorno, depois vai melhorar”, acrescentou Claudiomar.

BALANÇO De acordo com o cronograma da BHTrans, o sistema funcionará completamente em maio. Na Avenida Antônio Carlos, a Estação Pampulha entrará em operação parcial a partir do mês que vem. O corredor Venda Nova/Vilarinho só começa a operar em maio. Na Cristiano Machado, os ônibus começarão a circular gradativamente – atualmente, 18 estão em circulação, de um total de 136.

O último balanço divulgado pela BHTrans mostra que, ao longo da semana, houve redução no tempo das viagens na Cristiano Machado. No trajeto de ida e volta da linha 83D (Estação São Gabriel/Centro, direta), o tempo médio das 336 viagens feitas até as 16h de sexta-feira foi de 42 minutos. Na segunda-feira, primeiro dia útil de operação, eram necessários 50 minutos para fazer o percurso de ida e volta.

Já na 83P (Estação São Gabriel/Centro, paradora), foram 315 viagens, com média de 51 minutos para todo o trajeto, contra 70min gasta no início da semana. A linha 82 (Estação São Gabriel/Região Hospitalar e Savassi) contou com 323 viagens, sendo gastos, em média, 69min, abaixo dos 80min iniciais.

Transtorno No caminho


O Move pode enfrentar mais um desafio esta semana. Os metroviários ameaçam cruzar os braços quarta-feira, em uma paralisação de advertência, para cobrar posição do governo federal em relação a uma possível transferência do metrô para o estado. O transporte, que é de responsabilidade da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de BH, pode passar a ser administrado pela Metrominas. O diretor do Sindimetro Minas Gerais, José de Fátima Felício, afirma que os trabalhadores sairão em passeata, às 9h, da Praça da Estação até a Procuradoria do Trabalho. O número de passageiros do novo sistema de ônibus pode disparar caso ocorra a anunciada paralisação de 24 horas do metrô.


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