Jornal Estado de Minas

Governo vai intensificar parceria com outros estados para combater crimes nas fronteiras

Ataques crescentes de quadrilhas no interior preocupam. Intenção da parceria é coibir principalmente roubo a bancos e carros-fortes e o tráfico de drogas

Guilherme Paranaiba

Operação da Polícia em Itajubá, no Sul de Minas, cidade atacada pelo crime organizado; secretário reconhece que novos confrontos podem ocorrer - Foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS


Mais confrontos entre polícia e bandidos com a intensificação das operações na divisa de Minas com outros seis estados para coibir a ação de quadrilhas como a que aterrorizou pequenos municípios no Sul do estado nas últimas semanas. A estimativa foi feita nessa terça-feira pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), que busca o aumento da parceria com outros governos estaduais. “Graças à proporção das armas usadas pelos criminosos, às vezes, não há outro caminho que não os embates”, admitiu o secretário Rômulo Ferraz, durante a quarta reunião trimestral da Operação Divisas Seguras.

Nas próximas semanas o governo da Bahia assinará um termo de cooperação técnica para participar oficialmente da operação, que já conta com ações integradas de Minas, São Paulo, Goiás, Espírito Santo, além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que não fazem limite com o território mineiro mas estão em área de influência do crime organizado. O Rio de Janeiro estuda a adesão ao grupo.

Um dos indicadores da urgência de maior vigilância na divisa com São Paulo e Goiás, por exemplo, segundo a Seds, é o número de roubos consumados, que aumentaram 55% entre janeiro de 2013 e janeiro deste ano na soma de quatro regiões integradas de segurança pública do Triângulo Mineiro e o Sul do estado, que incluem Uberlândia, Uberaba, Pouso Alegre e Poços de Caldas.

Apesar de as estatísticas não retratarem só as divisas, elas também englobam municípios que estão perto desses dois estados. A necessidade de maior atenção às fronteiras também ganha força depois de dois casos de confrontos das autoridades com bandidos em pequenos municípios, onde os contingentes policiais são pequenos, o que facilita a ação de criminosos com armas de grosso calibre.

Em Itamonte, no Sul de Minas, policiais paulistas e mineiros interromperam um ataque cinematográfico a banco em 22 de fevereiro. Nove bandidos foram mortos depois de explodirem um caixa eletrônico na cidade.
Um professor que teria sido sequestrado por um dos ladrões também acabou morto. Outros cinco ladrões foram presos. Itajubá, na mesma região, também foi alvo de criminosos este mês.

Veja mais detalhes (clique para ampliar) - Foto: Arte EMPouco mais de uma semana depois, em 7 de março, bandidos invadiram Riachinho, no Noroeste do estado, para assaltar duas agências bancárias. Seis foram presos, três morreram em confronto com a polícia e um está desaparecido. Na prática, a Divisas Seguras já organizou 12 operações em quase um ano, abordou 100 mil pessoas e prendeu 462.

Há também casos recentes em que houve atuação das polícias sem confronto, desmantelando grupos criminosos que atuam especificamente em divisas. Em 9 de março, policiais militares e civis de Uberlândia e Ituiutaba prenderam 12 suspeitos de participar de uma quadrilha que explodia caixas no Triângulo Mineiro e em Goiás. Também foram apreendidos carros, armas, munição e dinheiro. Um dia depois, em 10 de março, 15 pessoas foram presas em Araçatuba (SP) e Uberlândia por integrar quadrilha especializada no roubo de caminhões para desmanche.

O secretário Rômulo Ferraz informou que o nível de organização dos criminosos aumenta nas regiões de divisas, o que exige uma resposta organizada das autoridades nesses locais. Ele traçou um perfil dos limites mineiros, apontando dois diferentes comportamentos de bandidos conforme a região do estado. Entre Minas e São Paulo, especialmente no Sul e Triângulo, a modalidade principal é roubo a bancos, além de caixas eletrônicos e carros-fortes. Já na divisa com Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, o foco é o tráfico de drogas.
“Como Minas Gerais é o estado que tem o maior número de divisas (seis), o trabalho nessas áreas é fundamental e proporciona uma maior sensação de segurança à população”, afirmou Ferraz.

Mesmo esperando mais confrontos com bandidos, o secretário acredita na redução de ataques. “A tendência é a diminuição dos crimes com a entrada de outros estados e a intensificação dos trabalhos nesses locais que estamos fazendo”, avaliou.

ROUBO É A MAIOR PREOCUPAÇÃO
O coronel José Roberto Malaspina, comandante da Polícia Militar de São Paulo na região de Ribeirão Preto, que também participou do encontro de ontem na Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, destacou a importância da prevenção: “Os roubos são nossa maior preocupação. O esforço conjunto é feito para identificar e prender os criminosos antes de cometerem os crimes, mas quando há confronto não temos como evitar”.

Já os coordenadores da Operação Divisas Seguras decidiram enviar para o Colégio Nacional dos Secretários de Segurança Pública (Consesp) um pedido de mais rigor para penas de furto e roubo de caixas eletrônicos, o que demanda modificação nas leis brasileiras. O principal objetivo é aumentar a pena para bandidos que cometem esse tipo de delito e criar mecanismos para controlar o uso e a circulação de explosivos no país.

ENQUANTO ISSO...
...Prevenção na Copa é debatida

A aprovação pelo Congresso Nacional da Lei Antiterrorismo foi defendida pelo secretário Rômulo Ferraz, no encontro de ontem, como importante instrumento de apoio ao trabalho da polícia mineira durante o Mundial, em junho e julho. Segundo Ferraz, a nova lei vai permitir que as autoridades prendam e mantenham presos baderneiros que pretendem agir nas manifestações durante os jogos da Copa em Belo Horizonte. “Sem esses dispositivos, as polícias têm que fazer uma ginástica jurídica para prender quem depreda o patrimônio público ou ataca autoridades”, afirmou. O Projeto 499/2013 está tramitando no Senado e aguarda avaliação de quatro requerimentos que pedem parecer de comissões específicas da Casa. Depois de submetido à avaliação dos senadores em plenário, se aprovado, ele segue para a Câmara dos Deputados para avaliação. O artigo 4º trata de “terrorismo contra coisa”, que estabelece pena de reclusão de oito a 20 anos para quem “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante dano a bem ou serviço essencial”.

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