Quem vê as casas imponentes, de muros altos, muitas de dois andares, nas ruas Sabrina Ferreira de Oliveira e Augusto Degois, nos bairros Brasil Industrial e Solar, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, não imagina que na vizinhança morem dois suspeitos de assassinatos. Filhos do mesmo pai e menores de idade, G.F.S. e L.H.P.J., ambos de 17 anos, têm em comum ainda o fato de serem acusados de dois crimes que chocaram BH no início do ano. De acordo com a polícia, ele são os autores dos latrocínios – roubos seguidos de morte – que vitimaram Christiano D’Assunção Costa, de 34 anos (funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, assassinado no Bairro Buritis) e Matheus Salviano Botelho de Morais, de 21 (estudante morto no Gutierrez).
As investigações indicam que os adolescentes integram uma gangue de roubos de carros do Barreiro, que vem agindo principalmente nas regiões Centro-Sul e Oeste de BH, esta última onde ocorreram os dois assassinatos. Christiano foi morto em 28 de janeiro e Matheus, em 7 de fevereiro. O delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, da Delegacia de Homicídios do Barreiro, em entrevista ontem no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que G.F.S é o assassino de Christiano. L.H.P.J. é acusado de matar Matheus.
No Bairro Brasil Industrial, ninguém atendeu ao interfone da casa verde, onde, segundo vizinhos, moram a avó, o pai, a mãe e dois irmãos de L. O mais velho dos irmãos estaria preso há cerca de um ano, também por roubo de carro. Na casa há um garoto de 12 anos e uma menina, a caçula. Moradores que não quiseram se identificar contaram que a fama de envolvimento com roubo de veículos que cerca os adolescentes é conhecida. L. teria até mesmo assaltado casas próximas. “Desde criança, todos eles são difíceis. Viviam perturbando os vizinhos e assustando pessoas que passam pela rua, jogando água e até bombas”, disse uma mulher. Embora surpresas com a suspeita de assassinato, pessoas da vizinhança não consideram a detenção do jovem um fato inesperado. “Há muitos anos ele dá trabalho. Só podia acabar nisso”, disse um morador.
No bairro vizinho, a casa grande de muro vermelho, na subida da rua, guarda as histórias de G.F.S., que mora com mãe e avó. Os moradores foram surpreendidos com as acusações. Ao contrário do irmão, G. não tinha fama de ladrão: era conhecido pela paixão por motocicletas e pela imprudência à frente delas. “Mesmo sendo menor de idade, vivia andando de moto para cima e para baixo. A mãe dele sempre pedia para ele tomar jeito”, contou um jovem. Sobrinho de uma policial civil, o rapaz teria ganhado de um tio uma moto pequena e depois aparecido com uma de 125 cilindradas. Recentemente dirigia um Gol batido, que disse ter comprado em um leilão.
E foi justamente um carro a peça-chave para chegar ao adolescente: um Ford Fiesta roubado em 24 de dezembro de 2013, no Bairro São Bento, Centro-Sul de BH. O carro foi visto rondando a academia onde Christiano estava momentos antes de ser morto. Uma semana depois, o Fiesta foi encontrado abandonado no Bairro Solar do Barreiro.
O veículo estava com placas clonadas e vinha sendo usado em uma série de furtos e roubos em BH e Contagem, segundo o delegado Alexandre Oliveira da Fonseca. Durante as investigações, polícia chegou primeiro ao adolescente D.J.M.A, de 16, acusado de roubar o Fiesta. Ele teria confessado o crime e informado que repassou o veículo a G., pelo valor de R$ 1,5 mil.
Na sequência, a Polícia Civil recebeu denúncias de que G. era o responsável pela morte do Christiano – além de ter matado um vizinho, o adolescente Gerson Carlos da Silva Cabral, de 17, assassinado uma semana antes do funcionário da Câmara. “As denúncias afirmavam ainda que a morte de Christiano estava ligada à de Matheus. Foi quando descobrimos que G. era meio irmão do acusado de assassinar o estudante de engenharia, 10 dias depois da morte do funcionário da Câmara, em circunstâncias semelhantes. Os dois irmãos são da mesma quadrilha de roubos de veículos e vinham cometendo os crimes para ostentar bens materiais, como tênis, roupas de marca e celulares”, informou o delegado.
ASSALTO E MORTE Funcionário da Câmara de BH, Christiano D’Assunção era fisioterapeuta e advogado. Foi morto com dois tiros de uma pistola semiautomática 380 ao tentar fugir da abordagem de G.F.S., de acordo com a investigação. Segundo a polícia, o adolescente desembarcou do Ford Fiesta com a arma na mão, se aproximou e mandou a vítima entregar as chaves do Gol. Na sequência o matou quando ele tentou arrancar. Imagens de videomonitoramento de imóveis e empresas vizinhas mostram, segundo os investigadores, que G., na direção do Fiesta, deu duas voltas no quarteirão antes estacionar do lado oposto ao da vítima e tentar roubar o carro.
O acusado foi apreendido em 28 de fevereiro, um mês depois do crime. Com ele, investigadores apreenderam 16 pares de tênis e 17 bonés. Na página do Facebook do menor, a polícia descobriu uma imagem com a seguinte frase: “Somos lokos e vivemos pouco, mas vivemos como queremos”. O suspeito está acautelado no Centro de Internação Provisória Dom Bosco, no Bairro Horto, Leste de BH.
O meio irmão de G., o adolescente L.H.P.J. foi apreendido no fim de fevereiro, juntamente com outro menor, P.F.S., de 15 anos. A detenção ocorreu dias depois da prisão de Farley Bruno Bicalho Cardoso, de 18, que confessou participação na morte do estudante Matheus, assassinado com tiros de um revólver calibre 32 ao reagir à abordagem dos assaltantes, no Bairro Gutierrez. Farley afirmou ter apenas levado os outros suspeitos ao local para que roubassem o Fiat Punto do universitário.
Mãe em silêncio e apoio da namorada
Gustavo Werneck
Eram 14h30 quando Fernanda Sales, mãe de G.F.S., de 17 anos, chegou ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA), no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para acompanhar o depoimento do filho. O adolescente é suspeito de ter assassinado um vizinho e também acusado da morte do funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Christiano D’Assunção Costa, de 34 anos, em 28 de janeiro, no Bairro Buritis. Na recepção, informou que não falaria com a imprensa.
Do lado de fora, no entanto, a namorada de G.F.S, a jovem T., de 19 anos, esperou com paciência por Fernanda. A princípio reticente, dizenda apenas não saber de nada, T. acabou defendendo o namorado e disse que “logo ele vai sair” – o rapaz está acautelado no Centro de Internação Provisória (Ceip) Dom Bosco, no Bairro Horto, na Região Leste. A certeza decorre, segundo ela, de que não cometeu infração nenhuma e são necessárias “provas” para ficar privado da liberdade. Quando um agente da Polícia Civil saiu do prédio, a jovem perguntou sobre a situação do rapaz e ouviu a resposta: “No mínimo, três anos”.
Com uma garrafa de água mineral nas mãos e conferindo o tempo todo o telefone celular, T. disse que namora há um ano, tem aprovação dos pais e gosta muito de G. F. Para provar, mostrou a tatuagem no antebraço esquerdo: o nome do namorado e o símbolo que representa o infinito. “É amor para sempre. E ele tem o meu nome e o mesmo símbolo”, afirmou, com um sorriso. Às 15h50, vestindo blusa preta e calça jeans, Fernanda deixou o Cia falando ao celular. T. a acompanhou pela Rua Mato Grosso. De acordo com o TJMG, o teor do depoimento não pode ser divulgado, nem qualquer outro tipo de informação sobre a vida do menor.
As investigações indicam que os adolescentes integram uma gangue de roubos de carros do Barreiro, que vem agindo principalmente nas regiões Centro-Sul e Oeste de BH, esta última onde ocorreram os dois assassinatos. Christiano foi morto em 28 de janeiro e Matheus, em 7 de fevereiro. O delegado Alexandre Oliveira da Fonseca, da Delegacia de Homicídios do Barreiro, em entrevista ontem no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que G.F.S é o assassino de Christiano. L.H.P.J. é acusado de matar Matheus.
No Bairro Brasil Industrial, ninguém atendeu ao interfone da casa verde, onde, segundo vizinhos, moram a avó, o pai, a mãe e dois irmãos de L. O mais velho dos irmãos estaria preso há cerca de um ano, também por roubo de carro. Na casa há um garoto de 12 anos e uma menina, a caçula. Moradores que não quiseram se identificar contaram que a fama de envolvimento com roubo de veículos que cerca os adolescentes é conhecida. L. teria até mesmo assaltado casas próximas. “Desde criança, todos eles são difíceis. Viviam perturbando os vizinhos e assustando pessoas que passam pela rua, jogando água e até bombas”, disse uma mulher. Embora surpresas com a suspeita de assassinato, pessoas da vizinhança não consideram a detenção do jovem um fato inesperado. “Há muitos anos ele dá trabalho. Só podia acabar nisso”, disse um morador.
No bairro vizinho, a casa grande de muro vermelho, na subida da rua, guarda as histórias de G.F.S., que mora com mãe e avó. Os moradores foram surpreendidos com as acusações. Ao contrário do irmão, G. não tinha fama de ladrão: era conhecido pela paixão por motocicletas e pela imprudência à frente delas. “Mesmo sendo menor de idade, vivia andando de moto para cima e para baixo. A mãe dele sempre pedia para ele tomar jeito”, contou um jovem. Sobrinho de uma policial civil, o rapaz teria ganhado de um tio uma moto pequena e depois aparecido com uma de 125 cilindradas. Recentemente dirigia um Gol batido, que disse ter comprado em um leilão.
E foi justamente um carro a peça-chave para chegar ao adolescente: um Ford Fiesta roubado em 24 de dezembro de 2013, no Bairro São Bento, Centro-Sul de BH. O carro foi visto rondando a academia onde Christiano estava momentos antes de ser morto. Uma semana depois, o Fiesta foi encontrado abandonado no Bairro Solar do Barreiro.
O veículo estava com placas clonadas e vinha sendo usado em uma série de furtos e roubos em BH e Contagem, segundo o delegado Alexandre Oliveira da Fonseca. Durante as investigações, polícia chegou primeiro ao adolescente D.J.M.A, de 16, acusado de roubar o Fiesta. Ele teria confessado o crime e informado que repassou o veículo a G., pelo valor de R$ 1,5 mil.
Na sequência, a Polícia Civil recebeu denúncias de que G. era o responsável pela morte do Christiano – além de ter matado um vizinho, o adolescente Gerson Carlos da Silva Cabral, de 17, assassinado uma semana antes do funcionário da Câmara. “As denúncias afirmavam ainda que a morte de Christiano estava ligada à de Matheus. Foi quando descobrimos que G. era meio irmão do acusado de assassinar o estudante de engenharia, 10 dias depois da morte do funcionário da Câmara, em circunstâncias semelhantes. Os dois irmãos são da mesma quadrilha de roubos de veículos e vinham cometendo os crimes para ostentar bens materiais, como tênis, roupas de marca e celulares”, informou o delegado.
ASSALTO E MORTE Funcionário da Câmara de BH, Christiano D’Assunção era fisioterapeuta e advogado. Foi morto com dois tiros de uma pistola semiautomática 380 ao tentar fugir da abordagem de G.F.S., de acordo com a investigação. Segundo a polícia, o adolescente desembarcou do Ford Fiesta com a arma na mão, se aproximou e mandou a vítima entregar as chaves do Gol. Na sequência o matou quando ele tentou arrancar. Imagens de videomonitoramento de imóveis e empresas vizinhas mostram, segundo os investigadores, que G., na direção do Fiesta, deu duas voltas no quarteirão antes estacionar do lado oposto ao da vítima e tentar roubar o carro.
O acusado foi apreendido em 28 de fevereiro, um mês depois do crime. Com ele, investigadores apreenderam 16 pares de tênis e 17 bonés. Na página do Facebook do menor, a polícia descobriu uma imagem com a seguinte frase: “Somos lokos e vivemos pouco, mas vivemos como queremos”. O suspeito está acautelado no Centro de Internação Provisória Dom Bosco, no Bairro Horto, Leste de BH.
O meio irmão de G., o adolescente L.H.P.J. foi apreendido no fim de fevereiro, juntamente com outro menor, P.F.S., de 15 anos. A detenção ocorreu dias depois da prisão de Farley Bruno Bicalho Cardoso, de 18, que confessou participação na morte do estudante Matheus, assassinado com tiros de um revólver calibre 32 ao reagir à abordagem dos assaltantes, no Bairro Gutierrez. Farley afirmou ter apenas levado os outros suspeitos ao local para que roubassem o Fiat Punto do universitário.
Mãe em silêncio e apoio da namorada
Gustavo Werneck
Eram 14h30 quando Fernanda Sales, mãe de G.F.S., de 17 anos, chegou ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA), no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para acompanhar o depoimento do filho. O adolescente é suspeito de ter assassinado um vizinho e também acusado da morte do funcionário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Christiano D’Assunção Costa, de 34 anos, em 28 de janeiro, no Bairro Buritis. Na recepção, informou que não falaria com a imprensa.
Do lado de fora, no entanto, a namorada de G.F.S, a jovem T., de 19 anos, esperou com paciência por Fernanda. A princípio reticente, dizenda apenas não saber de nada, T. acabou defendendo o namorado e disse que “logo ele vai sair” – o rapaz está acautelado no Centro de Internação Provisória (Ceip) Dom Bosco, no Bairro Horto, na Região Leste. A certeza decorre, segundo ela, de que não cometeu infração nenhuma e são necessárias “provas” para ficar privado da liberdade. Quando um agente da Polícia Civil saiu do prédio, a jovem perguntou sobre a situação do rapaz e ouviu a resposta: “No mínimo, três anos”.
Com uma garrafa de água mineral nas mãos e conferindo o tempo todo o telefone celular, T. disse que namora há um ano, tem aprovação dos pais e gosta muito de G. F. Para provar, mostrou a tatuagem no antebraço esquerdo: o nome do namorado e o símbolo que representa o infinito. “É amor para sempre. E ele tem o meu nome e o mesmo símbolo”, afirmou, com um sorriso. Às 15h50, vestindo blusa preta e calça jeans, Fernanda deixou o Cia falando ao celular. T. a acompanhou pela Rua Mato Grosso. De acordo com o TJMG, o teor do depoimento não pode ser divulgado, nem qualquer outro tipo de informação sobre a vida do menor.