Viagem recheada de histórias, movida a emoção e com destino certo: lembrar os 70 anos do embarque dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália e o “batismo de fogo” no campo de batalha europeu. A Coluna da Vitória 2014, formada por veículos pertencentes a colecionadores – jipes, caminhonetes, caminhões e motocicletas usados na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – chega amanhã ao Rio de Janeiro (RJ), onde haverá solenidade no Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo. Ontem, às 9h, em clima de festa, cerca de 30 viaturas, com os condutores fardados, partiram de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, e chegaram às 16h30 a Juiz de Fora, na Zona da Mata. Na cidade, a caravana ganhou mais jipes, que foram transportados de caminhão de Belo Horizonte.
“Estamos muito felizes, pois relembramos uma página importante da nossa história e damos ao efetivo da FEB o lugar que merece, já que lutou com tanta coragem”, disse o presidente da Associação Brasileira de Preservadores de Viaturas Militares (ABPVM), Marcos Moretzsohn Renault Coelho, que divide a organização do comboio com João Barone, dirigente do Grupo Histórico FEB (GHFEB), filho de um pracinha e mais conhecido como baterista da banda Paralamas do Sucesso, com o apoio do Exército. Junto, estão três pracinhas: Cláudio Soares de Sá, de 92 anos, João Batista Moreira, de 93, e Israel Rosenthal. Em Petrópolis (RJ), o grupo vai se encontrar hoje com outra coluna, vinda de Caçapava (SP), chegando a 100 veículos. No total, os dois comboios, com 200 pessoas, terão percorrido 320 quilômetros. “Está um sucesso, e tudo vai bem”, contou Marcos Moretzsohn no fim da tarde de ontem.
“Trata-se de um acontecimento único no país, para reverenciar os ex-combatentes, que estão na faixa dos 90 anos.
Do Brasil, foram para a Europa, de julho de 1944 a fevereiro de 1945, 25.334 militares de todos os estados, em cinco escalões, mais 73 enfermeiras (67 do Exército e seis da Aeronáutica). Segundo Marcos Moretzsohn, o evento foi antecipado devido à Copa’2014, com início em 12 de junho. “Não há qualquer tom político, mas uma iniciativa da sociedade civil. Somos pessoas dispostas a honrar os que lutaram pela paz.” Segundo especialistas, o Brasil, então presidido por Getúlio Vargas, declarou guerra à Alemanha de Adolf Hitler e demais países do Eixo, depois do naufrágio de mais de 50 navios brasileiros, em águas nacionais, torpedeados por submarinos alemães. O saldo foi de cerca de 1 mil brasileiros mortos. No final, 60 milhões de vidas perdidas e um cenário de destruição em vários países.
INTERESSE Na Europa, os pracinhas integraram o IV Corpo do 5º Exército dos Estados Unidos – dos combatentes, morreram 467 brasileiros, sendo 82 mineiros. “Outros 2,7 mil saíram feridos ou ficariam mutilados”, ressalta Marcos Moretzsohn. Em sua arrancada para a vitória, os brasileiros conquistaram com destaque, entre outras, as cidades de Monte Castelo e Montese, sendo que, em Collecchio e Fornovo, cercaram e aprisionaram a 148ª Divisão de Infantaria Alemã. O 1º tenente de infantaria Geraldo Campos Taitson, de 93, estava decidido a viajar, mas ponderou. “Está na hora de ensarilhar as armas”, disse, ontem, na sede da Associação Nacional dos Veteranos da FEB (ANVFEB)/Seção Regional de BH (Avenida Francisco Sales, 199, Bairro Floresta, Região Leste de BH), onde há um museu, amigos e visitantes.
Ao entrar num dos jipes militares estacionados em frente à seda da ANVFEB, Taitson despertou a curiosidade de cinco alunos do vizinho Colégio Nossa Senhora das Dores que passavam. Simpático, lembrou aos adolescentes, todos estudantes do terceiro ano, que “guerra é sempre uma tragédia para todo mundo – para quem ganha e para quem perde.
Gabriel Ribeiro, de 17, fez uma comparação com a situação atual de tensão na Ucrânia e falou que “as histórias de guerra são sempre tristes e devem ser evitadas com o diálogo”. Rodrigo Vieira, de 17, cujo avô foi pracinha, prestou atenção no momento em que Taitson afirmou que as viaturas, da mesma forma que levavam militares vivos, carregavam mortos. E Victor Antunes Oliveira, de 17, considera importante estudar e ter conhecimento, “para que a história não se repita”.
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