Juliana Ferreira e Paulo Henrique Vivas
Na corrida contra o tempo para entregar o BRT em pleno funcionamento antes da Copa do Mundo, a BHTrans interrompeu ontem o embarque e desembarque das três linhas em operação no Setor Oeste da Estação São Gabriel. A primeira etapa da operação do corredor Cristiano Machado teve início em 8 de março com o terminal ainda em obras. Para agilizar o término das intervenções, foram improvisados no Setor Leste pontos para as linhas 82 – que vai à Savassi e passa pela região dos hospitais – e 83P, que segue para o Centro parando em todas as estações. A linha 83D, que faz o mesmo trajeto, sem paradas, não
funcionou neste fim de semana. Apesar da sinalização reforçada e de funcionários da BHTrans para esclarecer dúvidas, a mudança temporária confundiu os passageiros.
No ponto improvisado, não houve embarque em nível. Os usuários entraram pelas portas do lado direito dos ônibus articulados, como ocorre nos coletivos convencionais. Já que apenas parte da frota do Move possui veículos com portas dos dois lados, a BHTrans optou por manter apenas a linha 83P no fim de semana. As bilheterias da estação estavam fechadas e o pagamento da tarifa foi feito no interior dos ônibus, com cartão BHBus ou em dinheiro.
A impossibilidade da compra prévia da passagem atrapalhou o embarque na manhã de ontem, quando muitas pessoas seguiam para o trabalho. A linha 83P foi a mais requisitada e partia a cada 15 minutos. No entanto, as filas imensas impediram um embarque ágil. O EM presenciou um embarque que demorou 20 minutos. O número de viagens foi ampliado de 67 para 80, a fim de atender à demanda do trajeto para o Centro. Já a linha 82 teve 67 saídas ao longo do dia.
Quem mal se acostumou com o novo sistema de transporte encontrou dificuldades. A operadora de caixa Fernanda de Souza reclamou da falta de divulgação. “Pego todo dia o Move. Cheguei aqui sem saber de nada. Não avisaram”, contou a jovem, que ficou meia hora na fila para o embarque. Logo atrás dela, o taxista Bruno Luiz da Silva pegava o BRT pela primeira vez. “Era para estar melhor. Já tem tempo que está funcionando”, criticou. Os dois enfrentaram o ônibus lotado na estação.
DEMORA Acompanhada da mãe idosa, a dona de casa Mara Rodrigues preferiu esperar pelo próximo ônibus para ir sentada até o Centro. Outros tiveram contratempos ao pagar a passagem. O garçom Aender Abade não sabia que tinha que avisar o cobrador da linha alimentadora que pegaria o Move. Para conseguir a integração da tarifa, deveria pagar o valor total na primeira viagem e receber um cartão para entregar na segunda linha. Abade teve de pagar duas vezes. “Eles passam informação errada”, gritou no terminal.
O gerente de Gestão Operacional do BRT, Artur José Dias, avaliou a alteração como positiva e disse que ela foi necessária para gerar benefícios. “Hoje é um dia de exceção. O sistema está funcionando com a porta direita, daí a demora”, alegou. Dias informou que a interdição do Setor Oeste ocorreu para a colocação da cobertura, para dar mais segurança aos usuários. Segundo ele, a chuva não deve atrapalhar os trabalhos. As obras no local, no entanto, ainda não serão concluídas. “Não haverá intervenções maiores. Se existirem, serão feitas à noite”, garantiu. Ele disse ainda que não há previsão para o início da segunda etapa do Move na Avenida Cristiano Machado, marcado para ontem, mas adiado. “Não posso falar em data. Mas não existe possibilidade de o BRT atrasar. Até o final de maio, estará em operação. Estamos trabalhando arduamente”, concluiu.
Pela parte da tarde, o movimento na estação São Gabriel era bem mais tranquilo. Alguns ônibus da linha 82 chegavam e saíam vazios das plataformas, enquanto pela linha 83P todos os passageiros seguiam viagem sentados. O jornalista Walmyr Lopes, que usa o BRT somente aos fins de semana, disse que foi pego de surpresa ao saber da não circulação da linha 83D. “A alternativa será pegar o 83P, que demora um pouco mais, devido às paradas nos pontos para chegar até ao Centro. Como tenho usado pouco o BRT, o sistema tem sido satisfatório para mim, embora necessite de alguns ajustes e mais informações para o usuário”.
Pela primeira vez , Maria José Souza, auxiliar de serviços e moradora da região da Pampulha aproveitou para usar e sentir como funciona o novo serviço de ônibus. “Quando a pista da Antônio Carlos tiver em pleno funcionamento, precisarei utilizá-la diariamente. Para não ter problemas futuros, decidi fazer a experiência de uma viagem de ida e volta até o Centro da cidade”. Entre os passageiros que desembarcavam na estação, alguns reclamavam dos ônibus cheios. A dona de casa Neuza Coelho disse que viajou em pé cerca de 45 minutos vindo do Centro. “Acho que ainda pode ser melhorado o serviço para termos mais conforto e rapidez no transporte”, opinou.