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Estado de Minas

Após sofrer trote violento, estudante mineiro desiste de voltar a faculdade em SP

Aluno disse que foi obrigado a beber e sofreu humilhações. Direção da escola promete investigar caso


postado em 25/03/2014 06:00 / atualizado em 25/03/2014 06:40

Faculdade em São José do Rio Preto informou que diretores fizeram reunião com alunos para colher mais depoimentos sobre a calourada(foto: Reprodução /Internet)
Faculdade em São José do Rio Preto informou que diretores fizeram reunião com alunos para colher mais depoimentos sobre a calourada (foto: Reprodução /Internet)

O estudante de medicina Luiz Fernando Alves, de 22 anos, que sofreu trote violento de alunos da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior paulista, descartou nessa segunda-feira a possibilidade de retornar à instituição, que é uma autarquia do estado de São Paulo. Segundo ele, além das humilhações e agressões sofridas durante o evento, depois que fez uma denúncia na polícia local, passou a receber ameaças e deixou a cidade temendo por sua vida. “Vim fugido. Não tenho como retomar o curso. O que eu quero, que eu preciso, é a minha transferência para outra faculdade pública, pois não tenho recursos para pagar o curso.”

O drama do estudante, que mora em Contagem, teve início na semana passada, ao participar do evento de recepção dos alunos novatos do curso de medicina, denominado de “Semana do Bicho”. Os festejos, de acordo com a Famerp, foi organizado por estudantes veteranos, fora do câmpus. Os estudantes alugaram uma chácara no Jardim Aclimação, nas proximidades da faculdade, para a realização de churrascos, cervejadas, entre outras atividades.

“No primeiro dia, na noite da segunda-feira (dia 17), desisti de participar da festa logo que cheguei na chácara. Mas fui ‘convidado’ a retornar. Senti-me intimidado. Foi uma situação de humilhação. Os calouros tinham que ficar de joelho levando cerveja na cabeça para os veteranos. Éramos agredidos fisicamente e moralmente. Colocaram os alunos do sexo masculino nus num palco. Tínhamos que beber, pois estava muito frio e era a maneira de manter o corpo aquecido”, contou Luiz, que na madrugada da terça-feira (dia 18) foi encontrado desacordado próximo à piscina.

CONSTRANGIMENTO

Além do tratamento humilhante dado a todos os calouros, o estudante conta que sofreu constrangimento por ser de Minas. “Muitos dos veteranos diziam que não gostam de mineiros. Eram insinuações bairristas e acredito que, por ser de Minas, eles exageravam nas agressões”. Luiz conta que sofreu ferimentos na coxa, mão, rosto e orelha. Segundo disse, os veteranos lhe aplicaram chutes, tapas e golpes de garrafas. Os calouros pagaram ainda R$ 750 a título de taxa para comemorações do curso.

O estudante disse que, na quarta-feira, dia 19, pediu para deixar o evento, que iria seguir até o fim de semana. No dia seguinte, outros alunos levaram ao conhecimento dos professores o ocorrido. “Passei a receber ameaças por telefone e então decidi fazer uma denúncia formal na delegacia, não esperando que alguém seja punido, mas para me resguardar.” Ontem a direção da escola se reuniu para analisar o caso e abriu uma sindicância para investigar o trote.

Em nota, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) informou que vai apurar detalhes a respeito do trote e das agressões aos estudantes recém-ingressados. “O diretor da instituição, Dulcimar Donizeti de Souza, se reuniu pela manhã com alunos do primeiro ano de medicina para ouvir depoimentos sobre o ocorrido. Após a identificação dos responsáveis, a faculdade vai aplicar a punição de acordo com o regimento, que pode ser desde advertência até expulsão”, destacou o comunicado. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de São Paulo não soube informar que providências estão sendo tomadas em relação à denúncia do estudante mineiro e nem qual unidade de São José do Rio Preto será encarregada da investigação.

Três perguntas para...

Luiz Fernando Alves, estudante de medicina

1) Qual a sensação depois do episódio do trote?

Hoje conversei com uma psicóloga para colocar as coisas em ordem. Escolhi medicina pois tenho o objetivo de ajudar meu irmão que é deficiente físico. Quero me especializar em neurologia. Só não tenho condições de retornar à Famerp e espero que consigam me transferir para outra instituição pública.

2)Quais opções você tem para seguir o curso?

Por quatro anos fiz pré-vestibular, pois não tenho recursos para pagar o curso. Minhas notas eram suficientes para fazer medicina na Unicamp, mas quis fugir da violência de Campinas. Só que encarei uma violência, de futuros médicos, em São José do Rio Preto. De alguma forma espero que as autoridades não me desamparem e garantam o meu direito de fazer o curso.

3)Você, como vítima de um trote, como vê essa prática estudantil?


Não quero culpar ninguém, pois não vai consertar o erro que já aconteceu. A gente luta tanto para chegar lá e então se vê numa situação de perder seu sonho, curso, investimentos. E ainda de vítima passa a ser olhado como vilão pelos que defendem o nome da faculdade, que fez vista grossa, como ocorre na maioria dos trotes universitários


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