Juiz de Fora - O furto de 45 armas do Centro Integrado de Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH, na madrugada de segunda-feira, repercutiu a quase 260 quilômetros de Belo Horizonte. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde fica a segunda unidade do gênero em Minas, o assalto preocupou a população e deixou agentes em alerta. O imóvel onde funciona a estrutura, que é da prefeitura e foi cedido ao estado, fica na Praça Senador Teotônio Vilela, Bairro Vitorino Braga, e não é muito diferente da casa que foi alvo de ataque em Neves. Do lado de fora, nenhuma câmera de segurança é observada por quem passa pela rua. Uma tela simples, que precisa de manutenção em alguns pontos, cerca o edifício. Não há muro externo e nenhuma guarita visível, condições que deixam apreensivos moradores da vizinhança.
Nessa terça-feira, aparentemente o movimento foi normal. Mais de 20 agentes foram vistos entre 15h e 18h e o trânsito de viaturas, entre veículos comuns, caminhonetes e vans, não parou em nenhum momento. Sem se identificar, um dos agentes disse que além do plantão para escolta de presos e guarda de armas há um expediente em horário comercial, que cuida do serviço administrativo. Outro servidor disse que não houve mudança na rotina da unidade depois que a equipe tomou conhecimento do furto das armas em Neves, apesar de a Seds ter informado que recomendou que a vigilância ficasse em alerta. Ninguém quis dar detalhes sobre a dinâmica do trabalho no local nem admitiu se o trabalho é feito em clima de insegurança.
O imóvel conta com grades de ferro nas janelas, que são de vidro e também de chapas de metal. Ontem, agentes circularam com fuzis durante o turno de serviço. Segundo a Seds, 90 servidores se dividem em quatro equipes, trabalhando em plantões de 12 de serviço por 36 horas de folga. Eles usam 12 viaturas e atendem as demandas de escoltas no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Juiz de Fora, Penitenciária José Edson Cavalieri, Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires e Casa do Albergado José de Alencar Rogêdo.
Na Praça Teotônio Vilela há ainda uma quadra esportiva, que ontem recebia um casal jogando tênis, além de alguns brinquedos enferrujados. Moradora do local, a manicure Jéssica Aparecida da Silva, de 22 anos, contou que há pouco tempo houve um tiroteio entre gangues rivais na praça e que os agentes se trancaram no Centro de Escoltas. “Aqui também é um ponto de uso e venda de drogas. Essa parte do bairro fica mais perigosa de noite”, diz. O militar do Corpo de Bombeiros Francisco Régis de Lima, de 43, mora há 25 anos em frente ao imóvel que já foi da Polícia Militar e hoje é do sistema prisional. Ele acredita que falta segurança para que os agentes penitenciários possam trabalhar tranquilos e para que as armas fiquem bem guardadas. “Um lugar desses precisaria de um muro alto, uma guarita com sentinela 24 horas e um sistema de câmeras integrado com uma central de monitoramento, que acionasse a polícia em qualquer suspeita, semelhante a um presídio mesmo”, disse ele.
Um vendedor de picolé que passa todos os dias pela praça e prefere não se identificar disse nunca ter presenciado nenhum tipo de problema, mas acha que o imóvel é vulnerável. “Só não sabemos como é lá dentro. Por fora todo mundo consegue ver que não é difícil entrar”, avaliou. Outra vizinha que também pediu anonimato disse temer a falta e um eventual enfrentamento nas imediações. “Todo mundo vê os agentes saindo com armas de grosso calibre. Se entraram perto de Belo Horizonte, por que não podem tentar aqui? E de noite nunca sabemos quantos ficam no plantão. Basta uma informação privilegiada e os assaltantes podem encontrar uma brecha”, diz.
O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade, diz que uma das prioridades do governo do estado é a recuperação das armas e na prisão dos ladrões que agiram em Neves. No entanto, até ontem nenhum suspeito havia sido identificado ou preso. Também não foram encontradas pistas que levassem à localização do armamento. Os nove agentes que trabalhavam na Central de Escoltas na noite de domingo começaram a prestar depoimento. Na segunda-feira, eles passaram por exames toxicológicos no Instituto Médico Legal (IML), na tentativa de descobrir se ingeriram alguma substância que provocasse sonolência, já que alguns foram encontrados dormindo e outros passando mal. O prazo para o resultado dos exames é de 30 dias, mas o governo do estado pediu urgência na conclusão dos laudos, que podem ficar prontos antes.