Fora - Imóveis sem guarita, cerca elétrica ou grades reforçadas e aparentemente desprovidos de sistema eletrônico de monitoramento. As condições que facilitaram a ação de ladrões na Central Integrada de Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH – de onde foram levadas 45 armas depois que nove agentes aparentemente foram dopados –, se repetem na outra unidade do tipo, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a 255 de Belo Horizonte. A Secretaria de Estado de Defesa Social admite a fragilidade, tanto que desativou, ainda que temporariamente, a central de Ribeirão das Neves, invadida na noite de domingo e de onde foram levadas 39 pistolas ponto 40 e seis submetralhadoras de mesmo calibre, além de cerca de 1,2 mil cartuchos de munição. O restante das armas foi transferido. A Seds adotou providências também no prédio de Juiz de Fora, onde houve reforço da segurança, redução do armamento armazenado e o policiamento foi colocado em estado de alerta. Recomendação semelhante foi adotada nos outros imóveis onde há guarda de armas em Minas.
A fragilidade dos depósitos bélicos já havia sido notificada pelos agentes penitenciários à entidade que representa a categoria. De acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária de Minas Gerais, Adeilton Souza Rocha, as queixas são frequentes.
A secretaria nega ter recebido qualquer alerta sobre as fragilidades. Porém, enquanto a Polícia Civil trabalha na tentativa de identificar os assaltantes e recuperar as armas, a Seds afirma estar fazendo um levantamento dos problemas de segurança das duas centrais de escolta. O objetivo, segundo o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade, é identificar falhas e promover melhorias, como instalação de câmeras ou eventuais obras. O secretário disse ainda que estudos técnicos vão apontar se as centrais de escoltas devem continuar nos endereços atuais.
Poderio em mãos erradas
A utilidade que as armas roubadas na Central de Escoltas de Ribeirão das Neves têm para a polícia dá a dimensão do poder bélico agora nas mãos de criminosos, ao mesmo tempo que demonstra o desfalque que o assalto representa para as forças de segurança. As pistolas Imbel modelos MD5 e MD7 e as submetralhadoras Taurus modelo SMT, todas de calibre ponto 40, são consideradas armamento extremamente importante para incursões em aglomerados, operações em rodovias, confrontos e trocas de tiros. O calibre oferece boa precisão e alto poder de imobilização do alvo.
O chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, Major Gilmar Luciano dos Santos, explica que o calibre ponto 40 foi adotado como ideal para uso das forças públicas de segurança – à exceção do Exército ou de unidades especializadas da PM, que usam o calibre 9mm – justamente pelo alto poder de parada do alvo. “Na prática, isso significa que tal calibre é capaz de colocar fora de combate um oponente atingido por um único tiro, tamanha é a energia cinética transferida pelo disparo. No entanto, por não transfixar o corpo, como ocorre no caso do calibre 9mm, e, consequentemente, não atingir terceiros, é um calibre menos letal”, diz o major.
A diferença técnica entre pistolas e submetralhadoras está centrada basicamente no precisão e alcance do disparo, além da quantidade de tiros de cada uma. As submetralhadoras estão na linha de frente em operações policiais por terem maior capacidade de armazenamento de cartuchos e alta precisão nos tiros em distâncias superiores a 15 metros. Já as pistolas roubadas são usadas para disparos a distâncias menores e contam com reserva para 17 cartuchos. “Ambas, no entanto, são consideradas do dia a dia do PM e de alta importância para o trabalho dos militares”, afirmou o major.
Sem aprofundar no prejuízo que o roubo pode causar à segurança, o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade, afirma que qualquer armamento em mãos erradas é perigoso. “Um volume desses é ainda pior.