O aumento da produção de lixo em Belo Horizonte e a falta de soluções para dar conta de tantos resíduos resultam em outro problema: a convivência com a sujeira. Pela cidade, montanhas de detritos ganham as esquinas de ruas e avenidas e, onde há locais de entrega voluntária (LEVs), a quantidade de dejetos acumulada ao lado dos contêiners escancaram a insuficiência da coleta seletiva. Transtornos que expõem a falta de educação de parcela da população e as falhas do poder público.
Na esquina da Rua Wilson Modesto Ribeiro com a Rua Jacuí, no Bairro Ipiranga, na Região Nordeste de Belo Horizonte, a apenas um quarteirão da Avenida Cristiano Machado, lixo de todo tipo, inclusive orgânico, passa a semana inteira na calçada, embora as caixas coloridas apontem exatamente onde depositar cada tipo de material reciclável. A secretária Lúcia Helena, de 35 anos, moradora de um prédio em frente, conta que a situação se agravou há cerca de um ano. “Algo que era para ser bom se tornou dor de cabeça. Tem muito catador que revira o lixo e deixa tudo espalhado no passeio e muita gente mal educada que joga o que não pode e onde não deve”, reclama. Cansados do problema, os moradores pediram a retirada do serviço do local.
O chefe de cozinha Ronaldo Lessa, de 58, usa bengala e afirma que, muitas vezes, tem que passar pela rua, porque a calçada vive entupida de lixo. “É uma coleta seletiva que não deu certo”, diz. A vizinhança não entende os motivos de instalação do LEV, uma vez que a região conta com o serviço de coleta seletiva porta a porta. “Por que não levar os contêiners para outro bairro, onde não há esse serviço?”
Mau cheiro e sujeira também na esquina das avenidas 31 de Março e Itaú, no Bairro Dom Cabral, na Região Noroeste de BH. O caminhão passa uma vez por semana para recolher os resíduos dos LEVs, frequência considerada insuficiente pelo aposentado Lúcio Otávio Melo, de 61. No local, alimentos com validade vencida e até restos de carne dividem espaço com vidros, papéis, metais e plásticos, deixando um cheiro insuportável.
A coleta seletiva está há anos estagnada na capital. Atualmente, o modelo porta a porta atende apenas 34 bairros – quatro deles incorporados no mês passado. De acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), a meta é atender 60 bairros nos próximos dois anos. Já a coleta ponto a ponto é feita por meio de 90 LEVs instalados na capital.
No Bairro São Paulo, na Região Nordeste, a confluência das esquinas das ruas Joaquim Gouveia, Aruá e Jacuí é um verdadeiro depósito a céu aberto. No local, a placa especifica que ali é um “ponto limpo”, onde é proibido jogar entulho. Mas o que se vê vai de lixo orgânico a móveis. O pedreiro Jorge Estévão, de 57, aproveitou para incrementar a sujeira e jogar fora isopores que protegiam a geladeira nova. Sem graça, não soube explicar por que os moradores usam o lugar como lixeira . O dono do bar da esquina reclama que os resíduos chegam até o meio da rua, atrapalhando o comércio. “No quarteirão de cima, a calçada está sendo reformada, por isso está limpa. Mas normalmente também acumula lixo até chegar à rua. Já pensamos em pôr uma caçamba, mas chegamos à conclusão de que será pior”, diz Jorge.