“Eu sou minha”, “Tire o seu machismo do meu corpo”, “Meu corpo, minhas regras”, “Eu e minha filha não merecemos ser estupradas” são alguns dos “gritos” publicados pelas apoiadoras do movimento e até por alguns homens, que saíram em defesa das vítimas.
“Os crimes não acontecem no beco escuro ou no ponto de ônibus, mas sim no quarto ao lado, com a participação do próprio pai, do primo, de um amigo da família”, denuncia Nana Queiroz, que ouviu o depoimento de uma mulher abusada durante a vida inteira pelo próprio pai. Pela primeira vez, ela criou coragem para se abrir sobre o abuso.
A ação acontece após o resultado de uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontou que a maioria dos brasileiros acha que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Segundo o Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), 65,1% das pessoas – incluindo homens e mulheres – concordaram com essa informação. Já 58,5% concordam com a afirmação “se mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.
“Não tem a ver com a roupa, mas sim com a mentalidade das pessoas. A culpa é do estuprador e de uma sociedade doente que pensa ser normal culpar as vítimas”, defende Nana Queiroz. Ela lembra que, em um dos posts publicados na página, o uso de rímel em excesso foi acusado de ser provocar o aumento dos casos de estupro em mulheres de países islâmicos.
Paralelamente, a jornalista passou também a sofrer ameaças, em menor número, com a publicação de mensagens agressivas em defesa do crime de estupro. Um deles deixou a jornalista particularmente chocada: num perfil, que já foi apagado, um homem disse que já tinha cometido o crime e faria de novo. Ela decidiu dar queixa na Delegacia da Mulher. A Polícia Federal já está investigando o caso.
Três abusos
“Fui abusada dos quatro aos nove anos e/ou conheço pessoas que foram”. Com este título e a própria foto, a psicóloga mineira Laura Louise Richardson, de 35 anos, publicou há um ano o corajoso relato dos abusos sofridos na infância por meio de uma rede social na internet. “Por mais que a criança seja vista e olhada, em algum momento ela fica exposta. Da primeira vez, minha avó precisou sair de casa e me deixou sozinha, aos 4 anos, com um pedreiro. Na outra, minha mãe me mandou comprar algo na mercearia e eu sofri abuso do próprio dono. Na outra, me deixaram dormir na casa de uma amiguinha com quem eu brincava e o pai era doente. Durante muito tempo não falei nada, por achar que eu devia ter feito algo para provocar isso. Hoje, consigo ter dó dos abusadores, que devem passar por um sofrimento horroroso e repetem algo que também sofreram na infância”, diz.
A repercussão foi tão expressiva que ela tentou fundar um grupo de apoio às vítimas de estupro em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora atualmente. Dos mais de 20 relatos, porém, apenas três mulheres compareceram pessoalmente. “No sigilo do consultório, 80% dos casos que atendo revelam ter sido expostos à violência sexual. É uma pandemia silenciosa”, compara.
Proteção
ONDE PROCURAR AJUDA
Divisão da Mulher, do Idoso e da Pessoa com Deficiência
Rua Aimorés , 3.005, Barro Preto, Belo Horizonte
Telefone: (31) 3291-2931
Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos (NAVCV)
Belo Horizonte
Av. Amazonas, 558 – 4° andar, Centro
Telefone: (31) 3270-3294
Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Email: navcvbh@gmail.com
Montes Claros
Rua Tiradentes, nº 422 – Centro
(38) 3229-8515
Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Email: navcvmoc@yahoo.com.br
Ribeirão das Neves
Rua José Bonifácio Nogueira, n° 130 – Bairro São Pedro
Telefone: (31) 3627-2570
Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Email: navcv.rn@gmail.com
Governador Valadares
Em processo de reabertura. Até o momento, não possui sede
Telefone: (31) 3270-3294
E-mail: navcvbh@gmail.com
Fonte: Polícia Civil/MG
A presidente Dilma Rousseff demonstrou solidariedade à jornalista Nana Queiroz. A organizadora do protesto "#Eu não mereço ser estuprada” foi hostilizada e ameaçada por pessoas na internet. "Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, a jornalista foi ameaçada de estupro (...) Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade...", afirmou a presidente por meio de sua conta no Twitter. "O governo e a lei estão do lado de Nana Queiroz e das mulheres ameaçadas ou vítimas de violência", finalizou.