Jornal Estado de Minas

Moradores relatam pânico durante tremores de terra em Montes Claros

Terra volta a tremer no Norte de Minas, assustando moradores. Observatório detecta fenômenos com até 4,2 pontos na escala Richter, que deixaram 90 mil domicílios sem luz

Luiz Ribeiro
Ana Carolina Mesquita observa estragos no teto do imóvel - Foto: Danilo Evangelista/Esp EM
Ontem, o chão balançou de novo em Montes Claros. Cinco tremores assustaram moradores do Norte de Minas – o mais forte, às 10h40, atingiu 4,2 pontos na escala Richter, registrados pelo Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB). Por 45 minutos, 90 mil domicílios norte-mineiros ficaram sem luz – 70 mil deles em Montes Claros, metade dos imóveis da cidade. Os outros 20 mil ficam nos municípios de Coração de Jesus, Grão Mogol e Botumirim.


De acordo com a Cemig, os tremores provocaram problemas na subestação de energia que fica perto do epicentro do fenômeno. Serviços de telefonia e internet foram temporariamente interrompidos. Depois do abalo mais intenso, seguiram-se três menores, chamados réplicas. Às 16h31, o fenômeno voltou a assustar, alcançando 4,1 pontos, segundo a UnB.

O reboco do teto de uma casa caiu e uma criança ficou levemente ferida. Na Vila Alice, um telhado foi danificado.

Os serviços de telefonia deixaram de funcionar por cerca de 30 minutos. O Corpo de Bombeiros recebeu cerca de 200 chamadas de pessoas assustadas, pedindo orientação. Os tremores acabaram também com o sossego de frequentadores de bares e clubes de Montes Claros.

Maio Fenômenos sísmicos não são novidade para os montes-clarenses. Em maio de 2012, um tremor de 4,2 pontos na escala Richter provocou rachaduras em cerca 60 casas na Vila Atlântica, situada na área onde há uma falha geológica.

Desta vez, o susto foi considerável, pois os cinco tremores ocorreram no mesmo dia. Moradores se angustiaram com a falta de informações sobre a intensidade do fenômeno. Ontem de manhã, logo em seguida ao primeiro tremor, entrou em ação a força-tarefa formada por Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Cemig, Defesa Civil Municipal e Guarda Municipal. No entanto, a equipe não conseguiu informações oficiais do Observatório Sismológico da UnB sobre a magnitude dos abalos. O órgão é encarregado de monitorar tremores de terra no país.

O coordenador municipal de Defesa Civil de Montes Claros, Mattsson Malveira, disse que a falta de dados oficiais dificulta o trabalho de prevenção e orientação aos moradores. “É preciso postura mais séria por parte do governo federal. Necessitamos de informações mais detalhadas para podermos ajudar a população”, criticou Malveira. De acordo com ele, a situação foi atípica, pois houve vários tremores no mesmo dia.

O chefe do Observatório Sismológico da UnB, professor Lucas Vieira Barros, explicou ao EM que se encontrava numa cidade-satélite de Brasília. No fim de semana, não há funcionários no Observatório, informou.
No fim da tarde, o próprio professor foi à sede do órgão providenciar a leitura dos dados.

De acordo com o especialista, aparelhos registraram as magnitudes do primeiro e do último abalos, mais fortes. “Os outros tremores, secundários ao primeiro, foram de menor intensidade. É necessária leitura mais precisa para poder calculá-los”, afirmou.

Ação de bombeiros interdita moradia no Bairro Delfino - Foto: Wilson Ribeiro/TV Alterosa/Reprodução

 

Pânico e casa interditada

Ana Carolina Ferreira Mesquita, de 14 anos, assistia à TV na sala da pequena casa onde mora, no Bairro Delfino, quando despencou o reboco do teto. Um fragmento atingiu a adolescente. “Só fez um ‘galo’ na minha cabeça”, contou ela, muito assustada. Por causa da chuva, há infiltrações na laje, o que contribuiu para a queda do reboco.

O imóvel foi interditado pelo Corpo de Bombeiros. “Não sabemos para onde ir”, reclamou, desolado, o agente sanitário Francisco José Mesquita, de 43, pai de Ana Carolina. “Agora, só Deus”, lamentou a menina.

No Centro de Montes Claros, mais pânico. Uma mulher, que não quis se identificar, saiu correndo para a rua depois de ver surgirem rachaduras na parede da cozinha de seu apartamento, no terceiro andar. O Corpo de Bombeiros foi acionado para resgatar três pessoas presas em elevadores.

Apenas uma foi atendida. No caso das outras duas, a energia elétrica voltou antes da chegada dos agentes. Na Vila Alice, o telhado de uma casa foi danificado.

O tremor da manhã foi sentido com mais intensidade na Vila Atlântica, que fica perto do epicentro do abalo. Os moradores saíram correndo, muito assustados. “Estava lavando roupas, e a casa toda balançou”, contou a doméstica Sueli Pereira da Silva. No final da manhã, ela ainda temia voltar para sua residência.

Vizinha de Sueli, a auxiliar Alaíde Ferreira da Fonseca não escondia a apreensão. “O tremor foi muito forte”, revelou. Apesar do susto, Alaíde teve um consolo: desta vez, não houve rachaduras em sua casa, como ocorreu anteriormente.

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