O observatório informou ontem que refez os cálculos e divulgou novas magnitudes para os tremores. O primeiro abalo ocorreu às 10h40 de anteontem e atingiu 3,9 na Escala Richter (e não 4,2 como tinha sido divulgado). Na sequência, foram três tremores de menor intensidade que não foram registrados. O que assustou a população foi o fato de às 16h31 um novo abalo de intensidade 3,8 (não 4,1 como foi anunciado) atingir a cidade. Faltou luz e os serviços de telefonia móvel e internet foram interrompidos temporariamente.
Uma das medidas anunciadas pela administração municipal foi o aumento do trabalho de distribuição de cartilhas em escolas para orientar sobre como agir diante dos abalos, além de melhorar a estrutura das casas em 18 áreas de baixa renda e propor mudanças no procedimento que regulamenta a liberação de projetos de construção. Em parceria com o curso de engenharia de uma faculdade do município, a prefeitura anunciou que vai criar um programa de melhoria da condição das casas para que elas suportem os abalos.
Segundo o prefeito Ruy Muniz (PRB), serão captados recursos do governo federal par reforçar o trabalho de defesa civil no município. “É uma questão do estado brasileiro e, infelizmente, afeta Montes Claros. Sozinha, a prefeitura não dá conta de enfrentar essa situação. Temos de nos preparar, pois pode ocorrer um fato de maior proporção”, afirmou.
A prefeitura também informou que vai adquirir dois sismógrafos. Hoje, estão instalados no município dois aparelhos da UnB e outro da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), que pretende cirar um núcleo de sismologia na cidade para aprofundar os estudos sobre as causas dos tremores. É o que cobram especialistas. O ambientalista Eduardo Gomes diz que as ações preventivas demoram em função da falta de conhecimento em relação às causas dos tremores e questiona se realmente é uma falha geológica. “Para saber exatamente a causa do fenômeno é preciso uma pesquisa mais extensa”, avalia. O técnico em meio ambiente José Ponciano Neto também critica a falta de respostas mais completas. Segundo ele, a cidade já recebeu vários estudiosos, inclusive do Japão, e até então não há uma explicação clara sobre as causas dos tremores.
PREJUÍZO As autoridades do município também estão preocupadas em evitar o pânico. Hotéis e agências de turismo, por exemplo, segundo a prefeitura, receberam cancelamentos de reservas de passagens e hospedagem por medo dos tremores. No entanto, a subchefe do Observatório Sismológico da UnB, Mônica Von Huelsen explica que, embora não seja possível fazer previsões precisas sobre os tremores, pelo histórico de Montes Claros e do Brasil, é muito pouco provável que a cidade tenha abalos com magnitude superior a 5,0 graus na Escalara Richter. A pontuação seria capaz de provocar danos em construções bem estruturadas.
A especialista lembrou que existe histórico de registros de tremores no município desde 1978 e que estudos realizados pela UnB e Universidade de São Paulo (USP) indicam que a causa deles é existência de uma falha geológica existente próximo da área urbana. Mônica Van Huelsen destacou que também devem ser reforçados os trabalhos de orientação dos moradores para a convivência com os abalos. “Quando ocorrer um tremor na cidade, as pessoas devem se proteger, ficando debaixo de uma mesa ou saindo para a rua. Elas precisam saber que o máximo que vai acontecer é queda de objetos”, disse.
O coordenador municipal de Defesa Civil de Montes Claros, Mattsson Malveira, disse que o município tem um plano de convivência com os abalos, que inclui também as medidas que devem ser adotadas imediatamente para evacuação de locais fechados, como escolas e hospitais. “Quando ocorrer tremor, a primeira dica para quem estiver em local fechado é manter a calma e se proteger debaixo de uma viga (derrubada apenas por um terremoto acima de 9 pontos)”, disse Mattson, lembrando que todas as orientações estão em cartilhas, das quais já foram distribuídas cerca de 6 mil em escolas de Montes Claros.
Apreensão e medo entre moradores
Enquanto as autoridades e órgãos públicos anunciavam medidas para a convivência com o fenômeno, ontem, moradores de Montes Claros ainda estavam apreensivos por conta dos tremores de domingo. O medo maior era na Vila Atlântica, bairro apontado pelos estudos feitos na UnB como situado na região onde está a falha geológica.
O aposentado Artur Soares Ferreira, de 82 anos, um dos moradores da Vila Atlântica, ainda estava assustado, recordando o momento do forte tremor da tarde de domingo. “Eu estava escorado no portão quando ocorreu o estrondo. Quase caí. Dormi com muito medo de domingo para hoje (ontem)”, disse Artur.
O servente Geraldo Gonçalves de Jesus, de 65, contou que, na hora do primeiro e mais forte tremor, estava escorado em uma árvore: “Fiquei com medo, a árvore balançou toda”. Ele disse que na tarde de domingo, quando foi registrado um outro abalo de maior intensidade, estava acontecendo um jogo de futebol no campo de terra em frente a sua casa. “Por causa do tremor, o juiz passou mal e o jogo terminou”, relatou Geraldo.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Guilherme Guimarães, Engenheiro e professor do curso de Engenharia Civil da Unimontes
Deve-se pensar nas edificações
“Com a ocorrência mais frequente de tremores na região de Montes Claros, deve-se começar a pensar em dimensionar as edificações para os efeitos dos sismos, caso exista a possibilidade de tremores de magnitude maiores. O reforço da estrutura deve ser verificado em todo tipo de construção, incluindo hospitais, hotéis, indústrias e casas. Deve-se levar em conta aspectos como a intensidade usual dos sismos na região da obra; características do subsolo em que se faz a fundação; característica de resistência e flexibilidade da estrutura.”
Tecnologia
A fábrica das sandálias Havaianas, inaugurada em Montes Claros em outubro de 2013, já foi construída com o sistema de amortecimento nos pilares da construção, capaz de suportar abalos sísmicos. A tecnologia é semelhante à usada no Japão, onde há registros de terremotos.