Enquanto as atenções estão voltadas para a implantação do BRT/Move nas avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos, a instalação do novo sistema de transporte de massa de Belo Horizonte segue a passos lentos na Avenida Pedro II, uma das principais artérias de tráfego da Região Noroeste. As intervenções na via de oito quilômetros, que liga o Centro ao Anel Rodoviário e integra um dos trajetos de acesso ao Mineirão, já tiveram três projetos diferentes desde 2010, quando se abandonou a ideia de construir corredores exclusivos para ônibus articulados, com opção por uma solução paliativa de faixas exclusivas para coletivos simples. As intervenções deveriam ter sido iniciadas em 6 de janeiro, mas na prática só começaram nesta semana. Por enquanto, o canteiro de obras tem apenas 180 metros de extensão, ou 2,25% da via, e o prazo de conclusão, estimado para maio, dificilmente será cumprido.
Apesar de a prefeitura manter o cronograma de conclusão para maio, o diretor-presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, não fez previsão de datas em entrevista ocorrida esta semana, limitando-se a dizer que o corredor ficará pronto antes da Copa do Mundo, cujo jogo de abertura ocorre em 12 de junho. A indefinição deixa ainda mais inseguros os donos dos 1.357 estabelecimentos comercias e funcionários que trabalham ao largo da via.
Para instalar pistas que suportam o tráfego do chamado BRT light, a versão leve do Move, as faixas da direita da Avenida Pedro II precisarão ser quebradas e reforçadas. Da mesma forma, peças do sistema de drenagem pluvial devem ser trocadas por outras mais resistentes. Parte dos passeios será removida para alargar a via, que passará a ter a faixa da direita para o Move e outras duas para o tráfego dos demais veículos. Toda a avenida será recapeada, um trabalho que já começou com a retirada de camada do asfalto velho por 400 metros, no trecho do Bairro Bonfim, entre a Avenida Antônio Carlos e a Rua Jaguarão. Os trabalhos de recapeamento estão sendo feitos à noite. Para isso, a BHTrans proibiu o estacionamento nas ruas entre as 21h e as 5h.
Um dos grandes entraves ao Move na Avenida Pedro II é a resistência dos comerciantes em perder as vagas de estacionamento na via, que são usadas pelos clientes dos estabelecimentos. A equipe do Estado de Minas percorreu os dois sentidos da avenida e contou 193 estabelecimentos e pontos comerciais com estacionamento próprio para fregueses ou passeios recuados com vagas para carros e motocicletas. A média da oferta desse tipo de opção de parada na avenida é de uma a cada 83 metros, mas muitas lojas não passam de balcões praticamente no alinhamento dos passeios, que não teriam condições de ofertar vagas em seus espaços.
“Com uma semana de obras, nosso movimento caiu cerca de 60%. Ficamos imaginando quando mais quarteirões forem interditados. Além de menos vagas, ainda vai piorar o trânsito, por causa das máquinas pesadas”, disse Bruno Henrique Pinheiro, de 30 anos, vendedor em uma loja de peças usadas. O estabelecimento onde trabalha tinha vagas disponíveis na avenida e em parte do passeio, mas, devido às obras do Move, será perdida parte da calçada, onde será instalado novo ponto de ônibus. “Os clientes mesmo já estão reclamando, dizendo que ficou mais difícil de vir até a loja. Não temos condições de receber carros dentro do galpão, porque é onde ficam as mercadorias. Vamos ver como vai ficar quando tudo terminar, mas não tenho muitas esperanças”, disse Bruno.
PROBLEMAS PARA TODOS
O transtorno das obras também atingiu o dia a dia de quem circula por aquela que é uma das mais movimentadas vias de Belo Horizonte, com fluxo diário médio de cerca de 68 mil veículos. Os cones e cavaletes dos canteiros de obras entre as ruas Francisco Bicalho e Progresso e entre Ramos de Azevedo e Desembargador Tinoco obrigam os caminhões da coleta de lixo a parar na faixa central da pista e aguardar que os comerciantes corram até eles com sacos cheios de resíduos e restos de embalagens. Enquanto isso, apenas uma pista fica livre para o tráfego.
O mesmo vem ocorrendo com os ônibus, nas paradas para embarque e desembarque de passageiros. Tem sido comum ver as pessoas correndo ao lado das divisórias das obras, junto ao tráfego da faixa central, para alcançar o coletivo. “Ficou perigoso demais. A gente está tendo de pegar ônibus no meio da rua. Se não correr, os motoristas não esperam, porque os outros carros ficam buzinando”, disse a estudante Dalila Ramos, de 19, que diariamente usa o transporte coletivo para ir à escola.
Quando estiver pronta, a Avenida Pedro II contará com 42 pontos de ônibus, com abrigos modernos e cobertos, como os que existem no BH Shopping. De acordo com o presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, as vagas de estacionamentos que serão perdidas com a pista do Move passando pela direita serão compensados com a demarcação de novos locais nas ruas transversais, dentro dos bairros Caiçara, Padre Eustáquio, Carlos Prates, Bonfim, São José, Jardim Alvorada e Jardim Montanhês.
De acordo com a BHTrans, o projeto foi discutido em audiências públicas, com a comunidade, com a Câmara dos Dirigentes Lojistas e o com Sindipeças “em diversas reuniões”. O Ministério Público também foi informado sobre os detalhes, informou a BHTrans.