A integração de novas linhas ligando bairros à Estação São Gabriel, na Região Nordeste de BH, já sobrecarrega o transporte rápido por ônibus BRT/Move. Ontem, no primeiro dia útil da expansão do sistema, inaugurado há um mês, passageiros enfrentaram problemas semelhantes aos dos coletivos convencionais, como superlotação e atrasos. Os transtornos são notados mesmo depois do incremento de 55% nos ônibus da frota, como anunciou a BHTrans. As linhas 5523A (Conjunto Paulo VI) e 5508 (Aarão Reis via Minaslândia), que iam até o Centro, foram transformadas nas alimentadoras 815 e 734, respectivamente, com destino ao terminal São Gabriel. Passageiros questionam se o tempo ganho com o BRT no corredor exclusivo da Avenida Cristiano Machado vale o esforço e a espera das repetidas trocas de ônibus. Até o mês que vem, mais 17 itinerários passarão por mudanças no corredor.
O problema começa logo nas saídas dos bairros. Apesar de o despachante da linha 815 informar que o maior intervalo entre as viagens no horário de pico da manhã era de seis minutos ontem, houve quem disse ter esperado mais de um quarto de hora pelo embarque. Já na chegada à estação, outro gargalo: a fila para a compra do cartão do BRT. “Dezenas de pessoas chegam de uma só vez, com pressa, e só há uma pessoa no guichê. É estressante, porque se o passageiro perde o ônibus por causa da fila, ele só consegue pegar outro 15 minutos depois”, afirma a representante comercial Maria do Carmo Santos da Silva, de 51 anos, que cobra mudanças: “Até para o funcionário do sistema é ruim, pois ele fica sobrecarregado”.
Aliado a isso, faltam informações sobre o terminal – onde embarcar, como comprar a passagem ou qual direção seguir –, o que também gera atrasos para quem está na corrida contra o tempo e precisa viver a saga da baldeação. Com expressão nervosa e de olho no relógio, a auxiliar administrativa Leila Pereira Miranda, de 26, já sabia que se atrasaria para o trabalho, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul.
Moradora do Conjunto Paulo VI, ela disse ter saído de casa no horário de sempre, mas ficou no ponto 15 minutos à espera da linha 815, e mais 15 para embarcar no BRT. “Não vejo vantagem. Achei péssimo. Além dos 30 minutos que gastei com o primeiro ônibus e com o Move, vou ter que esperar outro ônibus no Centro. Quanto tempo isso vai demorar?” Leila chegou ao serviço com atraso de meia hora.
A baldeação também mudou a rotina de quem trabalha na Savassi. Apesar de ter sido criada como um itinerário que atende a região, a linha 82 (Estação São Gabriel/Região Hospitalar) não agradou a quem se dirige a aquele destino. Caso da vendedora Aparecida Lopes Quirino, de 44, que mora no São Gabriel e trabalha na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi. “Mesmo que eu economize tempo na Cristiano Machado, de BRT, vou andar sete quarteirões para chegar à loja. Se pego outra condução no Centro, tenho que esperar. É muito tempo perdido com baldeação.”
Dentro da recém-criada linha 734, a desinformação também era grande. A assistente administrativa Valéria Soares, de 45, moradora do Bairro Aarão Reis, na Região Norte, diz que o tempo gasto na troca de ônibus pode não compensar o trajeto com o Move. “Vou ter que pegar três ônibus. Antes, eram dois.” Outro passageiro, o vigia Marcos Fernandes, de 51, teme a extinção de mais linhas no bairro: “Eles não fazem qualquer consulta ao povo antes de mudar”.
SUPERLOTAÇÃO Não só o tempo gasto na viagem, mas a disputa para entrar nos coletivos do BRT também irrita os passageiros. Antes mesmo da parada do Move na plataforma, uma multidão já está à espera. Os ônibus ficam lotados e nem todos conseguem entrar. Há até quem embarque e saia logo do veículo para esperar o próximo e tentar viajar menos apertado.
“Precisam pôr mais ônibus e diminuir os intervalos. Hoje (ontem) estou com tempo e posso esperar, mas quando estiver com pressa?”, diz o porteiro Nelson Martins, de 41, que embarcou no terminal São Gabriel, na linha 83D, com destino ao Centro. Segundo a BHTrans, as linhas do 83D, 83P e 82 do sistema Move foram ampliadas em 55%, totalizando 55 veículos.
Mas há também quem esteja se beneficiando com o sistema. São pessoas que têm a região central como destino e andam poucos quarteirões até o trabalho. A vendedora Joseni Marques Silva, de 29, é uma delas. Apesar da baldeação da linha alimentadora, que vem do São Gabriel, onde mora, para o BRT, ela diz estar ganhando tempo: “Antes, ficava até duas horas para ir ao Centro. Agora, 40 minutos, no máximo”
PONTOS NEGATIVOS
» Superlotação das linhas 83P (paradora) e 83D (direta), que ligam Estação São Gabriel ao Centro
» Baldeação atrasa as viagens e gera desgaste
» Falta de sincronia entre horários das linhas alimentadoras e o BRT
» Fila para comprar o cartão na Estação São Gabriel
» Falta de informação nas estações
» Obras em curso na Estação São Gabriel
PONTOS POSITIVOS
» Ônibus modernos e com ar-condicionado
» Rapidez no trajeto entre a Estação São Gabriel e o Centro
Porta aberta
Defeito em um dos ônibus do BRT deixou passageiros assustados ontem. Uma porta do coletivo que saiu às 8h50 da Estação São Gabriel, com destino ao Centro, se abriu duas vezes. A primeira ainda na estação e o próprio motorista a fechou. Depois, na Cristiano Machado e, com o carro em movimento, o condutor pediu aos passageiros para fechá-la. “Deu medo. A gente já anda tão irritada com a precariedade do transporte público que qualquer coisa, ainda que pequena, nos irrita”, diz o auxiliar de serviços gerais Antônio José Marques, de 45 anos.