Problemas em dois dos principais portais de acesso a Belo Horizonte aguardam os cerca de 380 mil turistas que devem passar pela capital enquanto durar a Copa do Mundo. Para quem chega pelo ar, o desafio, sem contar o atraso nas obras do aeroporto internacional de Confins, é driblar os cerca de 400 transportadores clandestinos que disputam com taxistas legalizados o direito de transportar os passageiros até a capital. Dificuldade agravada pelo fato de não estar previsto nenhum aumento no número de táxis que atendem o terminal, hoje limitado a 508. A perspectiva não é melhor para quem chegará à cidade por via terrestre: com esteiras rolantes desativadas há 30 anos, goteiras no teto, sinalização em apenas um idioma e até baratas em áreas próximas à lanchonete, a rodoviária de BH não tem nenhuma obra ou medida prática em andamento, a dois meses do mundial de futebol, quando BH deve receber cerca de 150 mil turistas estrangeiros e 230 mil brasileiros.
Os problemas do terminal rodoviário foram listados ontem por um grupo de vereadores, durante visita técnica ao terminal. Eles prometem cobrar medidas urgentes da prefeitura, mas questões prioritárias, como acessibilidade e melhoria da estrutura física, não têm data para começar a ser tratadas. Para os parlamentares, que integram a Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Câmara Municipal, os problemas mais graves são relacionadas ao atendimento a pessoas com necessidades especiais. Apesar de o terminal ter dois elevadores, os vereadores acreditam que a sinalização indicativa que leva aos equipamentos é insuficiente e não atende turistas estrangeiros, já que é somente em português. A mesma regra vale para todas as outras placas instaladas no terminal. Além disso, os vereadores cobram que a esteira rolante instalada no saguão volte a funcionar ou seja substituída, como forma de ampliar o atendimento a quem tem problemas de mobilidade.
“A implantação das regras de acessibilidade está prevista em lei. Deve ser cumprida. Um terminal com movimentação intensa de pessoas, como é o de BH, precisa estar preparado para atender bem esse público”, afirma o vereador Sandro Saltara, o Doutor Sandro (Pros). Segundo ele, um pedido urgente de intervenção será encaminhado à prefeitura para que escadas ou esteiras sejam instaladas o quanto antes. A providência, embora seja considerada de extrema importância para o período da Copa, não beneficiaria apenas os turistas atraídos pelo Mundial. Com mobilidade reduzida há cerca de um ano, depois de fraturar o fêmur, a aposentada Irene Corgosinho, de 74 anos, cobra melhorias na acessibilidade: “Eu nem sabia que aqui tem elevador. Assim como eu, muita gente não deve saber. Eles deveriam ser mais bem sinalizados e as esteiras iam facilitar muito para quem é idoso”.
O imóvel onde hoje funciona a rodoviária foi inaugurado em 9 de março de 1971 e enfrenta desafios relacionados à idade. “O prédio mantém a arquitetura, que é bonita e agradável, mas ficou antigo, com estrutura que hoje não atende bem o usuário. Precisa ser modernizado, melhorar”, ressalta o vereador Orlei Pereira da Silva (PTdoB). As marcas do tempo também podem ser vistas no teto da rodoviária. Sem manutenção adequada, infiltrações na cobertura e poças d’água no chão são uma constante. O desconforto se estende aos assentos. “Há cadeiras quebradas e em número insuficiente para atender a demanda, que é alta, especialmente em dias de recessos prolongados”, afirma o vereador Adriano Ventura.
A qualidade dos serviços prestados, com base no Código de Defesa do Consumidor, também não passou pelo crivo dos parlamentares. Para o grupo, os preços praticados pelo setor alimentício são altos. A queixa é confirmada pelos frequentadores do local. Um deles, o motorista particular Antônio Roberto da Silva, de 57 anos, afirma que semanalmente viaja de Ouro Preto, na Região Central, a Belo Horizonte, mas nunca faz lanche no terminal. “É tudo muito caro. Não dá para comer, nem para parar o carro aqui”, critica. O preço do estacionamento (R$ 8,60 a hora) foi classificado como caro pelos vereadores. Eles cobraram ainda que seja feita uma dedetização urgente, já que muitas baratas foram encontradas em ponto próximo a uma área de lanche.
ORÇAMENTO O gerente administrativo da rodoviária, Ricardo Coutinho, afirma que muitas providências foram tomadas para que os problemas do terminal fossem resolvidos a tempo da Copa do Mundo. No entanto, ele admite que nada ficará pronto até o evento e que as intervenções esbarraram em questões orçamentárias. “Uma concorrência pública será lançada em breve para reparos no teto que resolvam a questão das infiltrações”, disse. O processo, no entanto, precisa seguir os trâmites legais e, para isso, as obras não ficam prontas até o Mundial. Segundo Coutinho, o reparo das esteiras rolantes não pode ser feito, porque o equipamento, de origem alemã, é antigo e as peças não são mais encontradas no mercado. A melhoria na sinalização, que contemple ainda outros idiomas, tampouco tem cronograma marcado. “Temos funcionários capacitados para atender estrangeiros na recepção e nos demais serviços”, afirma o gerente.
Recentemente, a Belotur lançou um projeto de readequação da rodoviária para atender, com acessibilidade, os turistas da Copa. Estão previstos novos elevadores, uma rampa para ligar o estacionamento descoberto à entrada principal, espaços reservados para cadeiras de rodas, bebedouros e sanitários acessíveis, meios-fios rebaixados na área externa de embarque e escada rolante para substituir as esteiras inoperantes. Pelo projeto, as escadas terão os corrimãos substituídos, para atender a altura exigida em norma, e receberão sinalização tátil e em braile. Segundo a empresa, um convênio foi feito com o Ministério do Turismo em novembro do ano passado para execução de obras de acessibilidade no terminal, assim como na Fundação Zoobotânica e no trajeto entre o Mineirão e a Casa JK, na Pampulha. O investimento é de R$ 3,5 milhões. Os projetos estão sendo analisados pela Caixa Econômica Federal e as obras devem começar só após essa fase.