Durou pouco mais de um ano a solidez das obras de canalização que prometiam domar a força das águas dos córregos Sarandi e Ressaca, no Bairro Bandeirantes, Região da Pampulha, responsáveis por muitos alagamentos que carregaram veículos e levaram prejuízos para a vizinhança nas últimas estações chuvosas. Uma seção com mais de 25 metros de comprimento no canal do Sarandi está cedendo desde as chuvas de fevereiro, criando um afundamento com quase três metros de profundidade que já tragou parte do asfalto da Avenida Clóvis Salgado, rompeu muretas inteiras de concreto e ameaça a estabilidade de um muro de concreto que sustenta a estrutura. As obras foram iniciadas em 2011 num dos pontos mais suscetíveis a inundações da capital mineira e consumiram R$ 30 milhões. Juntamente com o Córrego Água Funda, o Sarandi e o Ressaca são responsáveis por 70% do volume de água que chega à Lagoa da Pampulha e também pela maior parte da poluição do reservatório.
Mesmo com poucas chuvas, as precipitações deste ano foram capazes de fazer estragos consideráveis na canalização nova. As enxurradas lavaram o solo sob o asfalto e as muretas, removendo a estrutura que dava sustentação às estacas de fixação (tirantes) das paredes do muro de arrimo da parte interna do canal. A força foi suficiente para estourar as cabeças de três tirantes, que se desprenderam, deixando o muro de arrimo seguro por poucas estacas. Enquanto isso, a água do córrego e das chuvas segue removendo o solo sob a estrutura feita para segurar as margens abaixo da avenida Clóvis Salgado, conforme moradores e comerciantes locais dizem ter visto.
O movimento de veículos na área afetada é intenso, pois a canalização dos dois córregos se encontra na confluência da Avenida Heráclito Mourão de Miranda, que vem da região do Castelo e da Avenida Dom Pedro II, com a Avenida Clóvis Salgado, que liga a Pampulha a Contagem e à região do Ceasa. As vias também são caminho para algumas das mais populares atrações da orla da lagoa, como o Parque Ecológico e o Zoológico da Fundação Zoobotânica. Ainda assim, apenas duas barreiras plásticas de cor laranja foram postadas para evitar que os veículos que trafegam no sentido Contagem caiam no buraco escavado na área de escape do pavimento. Até uma parte da faixa de pedestres e da mureta da ponte que faz a travessia entre as duas avenidas se soltou e ficou dependurada.
Desperdício de dinheiro
De acordo com o gerente de um restaurante que fica em frente ao local afetado, Alexandre dos Anjos, desde que as obras terminaram, em fins de 2012, uma parte começou a ceder e precisou de diversas intervenções. “Cada vez que chovia o barranco descia um pouco mais e eram necessárias novas obras. É um absurdo, por causa do dinheiro que se desperdiçou numa obra que não termina nunca. Foi mais de um ano de sofrimento, com as avenidas fechadas, muita poeira e a gente perdendo clientes”, conta.
Como essa parte ameaçada da canalização não foi isolada de forma eficaz, os depósitos de lixo e de entulho, comuns ao longo das avenidas sanitárias da Pampulha, começaram a ser formados dentro da vala, entre o solo exposto, as pedras laevadas pela chuva, as estruturas de concreto rompidas e os vergalhões de aço retorcidos. Num dos pontos já estavam empilhados montes de pedaços de pisos, cacos de telhas, restos de sacos de areia e até galhos e folhas de poda.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi procurada ontem para falar sobre a extensão dos estragos, do perigo para quem circula por lá e também para especificar se as obras de reparos serão feitas pela empreiteira ou pela administração municipal, mas, como o órgão estava funcionando em esquema de plantão de feriado, ninguém do setor técnico foi designado para comentar o problema.