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Estado de Minas

Fazendas que pertenceram aos incofidentes estão em péssimo estado de conservação

Levantamento do Ministério Público de Minas Gerais mostra que 70% das propriedades do século 18 que pertenceram aos Inconfidentes estão em péssimo estado de conservação


postado em 20/04/2014 06:00 / atualizado em 20/04/2014 07:35

Proprietário da Fazenda do Registro Velho e Prefeitura de Barbacena firmaram contrato para recuperar casarão que hospedou Tiradentes no século 18(foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)
Proprietário da Fazenda do Registro Velho e Prefeitura de Barbacena firmaram contrato para recuperar casarão que hospedou Tiradentes no século 18 (foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)

Barbacena e Antônio Carlos –A vida de Marina Maria Lafayette de Andrada Ibrahim é um livro aberto. A casa, aula de história, e as lembranças que carrega em 94 anos, precioso manual de preservação da memória nacional. Descendente do inconfidente José Ayres Gomes, proprietário rural e dos homens mais ricos que participaram da Conjuração Mineira (1788-1789), movimento pela liberdade comemorado amanhã, Marina é uma das herdeiras da Fazenda da Borda do Campo, em Antônio Carlos, na Região Central. A família conserva o casarão erguido no início do século 18 e referência entre aqueles fora dos centros urbanos deixados pelos homens liderados por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792). Conforme diagnóstico do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), via Coordenadoria das Promotorias de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), mais de 70% das fazendas que pertenceram aos inconfidentes se encontram em péssimo estado.

“Muitas propriedades se tornaram ruínas tomadas pelo mato, como a Ponta do Morro, em Prados, na Região do Campo das Vertentes, e outras nem estão protegidas pelos órgãos do patrimônio. A Varginha do Lourenço, em Conselheiro Lafaiete, que foi de João da Costa Rodrigues, é um importante sítio arqueológico carente de vigilância. Pesquisa recente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que ali existiu a maior cata de ouro das Gerais, com mais de cinco quilômetros de extensão”, diz o coordenador do CPPC/MPMG, Marcos Paulo de Souza Miranda.

“Esse conjunto ainda pouco conhecido tem potencial turístico e deve merecer mais atenção do governo. É lamentável que o patrimônio cultural inconfidente esteja assim, quando poderia fazer parte de um circuito unindo Ouro Preto, São João del-Rei, Diamantina, Barbacena, Conselheiro Lafaiete e outros”, afirma Marcos Paulo. “Vamos fechar o cerco contra a omissão das autoridades, prefeituras e proprietários particulares, exigindo medidas efetivas para salvar as fazendas do abandono”, alerta.

Viúva, mãe de quatro filhos, com quatro netos e três bisnetos, dona Marina e os parentes fazem a sua parte e com muito gosto. Extremamente lúcida, esbanjando vitalidade e cheia de energia, ela escreveu o livro De volta à Fazenda da Borda do Campo – Na Estrada Real do Rio de Janeiro a Vila Rica, no qual relata a história desde os primórdios, quando o Coronel Rodrigues da Fonseca, que chegou à região com os bandeirantes paulistas, ergueu a capela da fazenda sob invocação de Nossa Senhora da Piedade. Mais tarde, casarão e terras passaram às mãos de José Ayres Gomes. “Sou a sexta geração; minha avó era neta do inconfidente”, conta com orgulho a professora de história aposentada, descendente também, pelo lado materno, do conselheiro do Império, Lafayette Rodrigues Pereira, e pelo paterno, do senador do Império Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, neto de José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca da Independência

LEMBRANÇAS

Durante o ano, dona Marina divide seu tempo entre a capital e a fazenda. No apartamento do Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH, ela guarda muitas fotos da Borda do Campo, recortes de jornais antigos, objetos de época e retratos dos antepassados, descrevendo com a maior desenvoltura detalhes da louça e do mobiliário, além dos nomes inteiros dos avós, bisavós e trisavós, datas e toda a árvore genealógica. Na sala, por exemplo, ela dividiu a parede, ficando do lado esquerdo os quadros com fotografias e pinturas dos antepassados do lado materno e, do direito, do paterno.

Mas o melhor mesmo é conhecer bem de perto esse patrimônio, que junta história, natureza, aconchego e boas conversas. Ciceroneados por outro herdeiro e caminhando entre árvores cobertas de musgo, Geraldo Francisco Ribeiro de Andrada, de 83, mineiro que trabalhou como antiquário durante 50 anos no Rio de Janeiro, fica mais fácil entender o cuidado com a Borda do Campo. “A fazenda está na nossa família há 321 anos”, diz Geraldo Francisco com orgulho, mostrando o sobradinho primitivo datado de 1711 , a capelinha com varanda na frente, típica da “arquitetura bandeirante”, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, e o cemitério onde estão enterrados os antepassados. “Veja, a escada que leva ao coro da capela também está do lado de fora”, acrescenta.

A fazenda, onde mora a professora universitária aposentada Maria Gabriela de Andrada Serpa, de 94, está ligada ao nome de outro bandeirante, diz Geraldo Francisco, citando Domingo Vidal Barbosa, natural de Juiz de Fora e que se casou com uma filha de José Ayres Gomes. O passeio se completa com a visita à parte mais nova, construída em meados do século 19. Nesse espaço gigantesco, há mobiliário de época, livros catalogados, retratos e uma cozinha dos tempos coloniais, com dois fornos, um deles original.


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