Para o neurologista Antônio Lúcio Teixeira Júnior, pesquisador do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o país convive, atualmente, com duas epidemias em curso. “Uma é a do crack e a outra é do traumatismo craniano, provocado tanto pelos acidentes automobilísticos quanto pela guerrilha urbana, que imobiliza principalmente os jovens, atingidos por armas brancas e de fogo”, alerta. Calcula-se que, por ano, ocorram 130 mil mortes por traumas no país, enquanto outras 400 mil pessoas sobreviverão com sequelas, incluindo o coma.
Para entender esta realidade pouco conhecida, que intriga até mesmo os médicos, o Estado de Minas publica a partir de hoje a série de reportagens “Vidas suspensas”.
Aos olhos da medicina, só mesmo um milagre é capaz de despertar pacientes de um coma prolongado. Segundo Gisele Sampaio Silva, médica do Departamento de Doenças Cérebro-vasculares e Terapia Intensiva em Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), depois de três meses em coma, o paciente de traumatismo craniano recupera-se totalmente ou entra no estado vegetativo, que se torna persistente depois de um ano. Se a causa for acidente vascular cerebral (AVC), depois de três meses o coma já se torna persistente. “As chances de recuperação são ínfimas”, diz ela, que, em 15 anos de atuação na área, nunca viu ninguém acordar após os prazos clínicos estabelecidos..