No domingo de Páscoa, a esperança de renovação da vida toca mais forte no coração dos familiares de pessoas em coma. Milhares de pacientes no Brasil estão deitados sobre a cama, há dias, meses e até anos inteiros, em uma espécie de sono profundo. Apenas no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em BH, há cerca de 40 pessoas nesta situação. A maior parte delas é vítima de traumatismo craniano provocado por acidentes diversos, como o ex-piloto alemão Michael Schumacher, em coma desde dezembro, quando se acidentou esquiando nos Alpes Franceses.
Para entender esta realidade pouco conhecida, que intriga até mesmo os médicos, o Estado de Minas publica a partir de hoje a série de reportagens “Vidas suspensas”. São relatos de uma lida solitária, que provoca uma reviravolta no cotidiano das famílias, caso do empresário Agostinho Scarpelli, que há sete anos e dois meses zela pela esposa Adriana, capaz apenas de abrir e fechar os olhos. “Decidi dar todo o suporte de que a Adriana precisa. Por mais dura que seja a situação, nossos filhos vão saber o que é a força da família”, ensina o empresário, que assumiu sozinho os cuidados com a mulher e os dois garotos, hoje com 14 e 18 anos.
Aos olhos da medicina, só mesmo um milagre é capaz de despertar pacientes de um coma prolongado. Segundo Gisele Sampaio Silva, médica do Departamento de Doenças Cérebro-vasculares e Terapia Intensiva em Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), depois de três meses em coma, o paciente de traumatismo craniano recupera-se totalmente ou entra no estado vegetativo, que se torna persistente depois de um ano. Se a causa for acidente vascular cerebral (AVC), depois de três meses o coma já se torna persistente. “As chances de recuperação são ínfimas”, diz ela, que, em 15 anos de atuação na área, nunca viu ninguém acordar após os prazos clínicos estabelecidos.