A suspeita inicial foi confirmada: um agente penitenciário ajudou no roubo de 45 armas da Central Integrada de Escoltas, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em março. Ontem, depois de 27 dias de investigação, agentes da 5ª Delegacia de Repressão a Organizações Criminosas (Deroc), vinculada à Divisão Especializada de Operações Especiais (Deoesp), localizaram 39 das 45 armas. Quatro pessoas estão presas, entre elas Marco Antônio de Oliveira Nogueira, um dos nove servidores da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), de plantão no dia do furto.
O armamento foi recuperado e está sob poder da Polícia Civil. Também foram apreendidos carregadores e vasta quantidade de munição em quatro endereços, todos na periferia de Ribeirão das Neves, segundo o delegado Wanderson Gomes. A operação que culminou na apreensão da maioria das armas ocorreu na madrugada de ontem e foi batizada de Calibre Restrito, comandada pelos delegados Bruno Wink, titular da 5ª Deroc, e Wanderson Gomes.
Ainda restam seis pistolas automáticas .40 para completar o arsenal roubado em março, quando os nove agentes penitenciários que estavam de plantão foram encontrados dopados pelos colegas do turno seguinte. Foram localizadas 33 pistolas e as seis submetralhadoras, além de carregadores das mesmas armas e também de fuzil 556.
Os delegados não confirmaram se o armamento que está faltando já foi vendido para outros criminosos, mas é certo que pelo menos uma pistola já estava nas mãos de um comprador. “Em um dos quatro locais em que estivemos para recuperar o armamento, encontramos essa pistola em poder de um criminoso, que a comprou”, diz Wanderson Gomes. Pelo menos mais um suspeito está sendo procurado pelos policiais. Na casa dele também houve apreensão de armas e ele não se encontrava no momento da abordagem.
DENÚNCIA Também há a possibilidade de que a pistola apreendida pela Polícia Militar no último sábado no Bairro Veneza, em Ribeirão das Neves, seja do arsenal roubado. A arma de fogo foi encontrada com dois suspeitos, após denúncia anônima. Apesar de ter as mesmas características das pistolas usadas pelos agentes penitenciários e um florão da República – brasão impresso no punho de armas das forças de segurança pública –, a .40 apreendida teve a sua numeração raspada, o que impede a confirmação imediata de sua origem. Ela será periciada, assim como todo o material apreendido ontem.
A Polícia Civil prometeu uma apresentação completa de todo o inquérito quando as investigações avançarem mais, para esclarecer, principalmente, as circunstâncias em que ocorreu o roubo na madrugada de 24 de março. Ainda não foi confirmada a forma como o agente penitenciário preso agiu na noite anterior. Na ocasião do roubo, um dos nove agentes que estava de plantão levou para consumo dos demais um suco e uma salada de frutas, segundo a polícia, o que pode ter contribuído para deixar os servidores sonolentos e possibilitar o roubo. Todos passaram por exame no Instituto Médico Legal (IML) de BH para saber qual substância foi ingerida naquela noite, mas, segundo o delegado Wanderson Gomes, o resultado ainda não ficou pronto. Os quatro detidos pela operação estão presos provisoriamente, cujo limite é de cinco dias, mas a prisão pode ser prorrogada ou transformada em preventiva.
Lucro seria de R$ 258 mil
Apenas com a venda das 45 armas roubadas da Central Integrada de Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH, a estimativa é que os bandidos poderiam lucrar R$ 258 mil, segundo cálculos da Polícia Civil. O delegado Wanderson Gomes, chefe da Divisão Especializada de Operações Especiais (Deoesp), confirmou que duas submetralhadoras estavam em processo de negociação e poderiam ser vendidas a qualquer momento por R$ 21 mil. Mantendo o mesmo valor para as outras quatro, os responsáveis pelo crime tinham condição de arrecadar R$ 63 mil com a venda das seis armas desse tipo.
Já para as pistolas, o delegado explicou que o valor de revenda girava entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, totalizando até R$ 195 mil com as 39 unidades roubadas. Ainda não foram fornecidos detalhes de quem seriam os compradores, mas a principal suspeita é que os prováveis clientes sejam traficantes e assaltantes. Uma das pistolas, segundo a polícia, foi apreendida em poder de um comprador, o que comprova que pelo menos uma venda já tinha sido consumada. Os valores referentes às demais peças apreendidas, como carregadores e munições, não foram informados.
A apresentação das armas à imprensa contou com a presença da cúpula da Polícia Civil. O delegado Oliveira Santiago Maciel, chefe da corporação, não quis falar sobre as falhas de segurança do estado na guarda de armas tão importantes para o funcionamento das escoltas do sistema prisional e também para garantir a segurança da própria população. Ele ressaltou apenas a resposta que foi dada à sociedade, no sentido de localizar o armamento e identificar os responsáveis do maior roubo de armas da história de Minas Gerais.
MEMÓRIA: Megaoperação
Era madrugada do dia 24 de março quando bandidos invadiram um prédio do sistema prisional de Minas Gerais, perto do Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Nove agentes penitenciários que faziam a segurança do local foram dopados. As forças de segurança montaram uma megaoperação para prender o grupo. A Polícia Militar registrou ocorrência e a Polícia Civil foi até o local inspecionar os alimentos ingeridos. A Central de Escoltas é um espaço onde fica uma equipe especial de agentes penitenciários responsáveis por escoltar presos, agilizando transferências e encaminhando-os até delegacias, hospitais e fóruns. No dia, o então governador Antonio Anastasia determinou prioridade na captura e recuperação do armamento. Ele classificou o caso como “inusitado e bizarro” e já suspeitava da participação de funcionários do local. .