Sobre a pia de pedra-sabão do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, no distrito de Miguel Burnier, em Ouro Preto, o padre molhou com água benta a cabeça do bebê, caprichou na pronúncia e proclamou: “Eu te batizo Karol Wojtyla de Vasconcelos”. Assim, em 1981, o casal Geraldo Magno e Marilsa de Freitas, pais da criança, homenageava o papa João Paulo II (1920-2005) – nascido Karol Józef Wojtyla, em Wadowice, na Polônia –, que, no ano anterior, celebrara em Belo Horizonte missa para cerca de 1 milhão de pessoas. Hoje com 32 anos, o técnico em mecânica residente em Conselheiro Lafaiete, na Região Central, guarda orgulho do seu nome. “Considero uma honra”, afirma Karol, que, a partir de hoje, será xará não só do pontífice, mas também de um homem que se torna santo. Em Roma, o papa Francisco presidirá a cerimônia de canonização do polonês e do italiano João XXIII (1881-1963), esse com um homônimo na capital. “A responsabilidade é maior, pois você tem que dar exemplo”, acredita piamente o oficial de Justiça e estudante de direito Ângelo Roncalli Silva, de 44 anos, morador do Bairro Mangueiras, na Região do Barreiro.
Pai de Ana Carolina, de 9, e de Ana Clara, de 4, Karol conta outros casos que denotam o lado curioso do nome. “Certa vez, participei de um curso técnico e havia 43 homens na sala de aula. Ao conferir a lista de chamada, um deles comentou em voz alta: ‘Gente! Vai chegar uma mulher’. De imediato, avisei que o certo era Károl e dei o caso por encerrado”. Ouvindo a conversa, a bem-humorada Telma destaca o lado positivo da história. “Quando surge algum problema e meu marido está presente, a gente sempre diz que o papa chegou para resolver. Na verdade, ter esse nome é uma bênção, pois ele é ótimo marido e excelente pai.” E completa: “Se faltou o Józef (José, em polonês) do papa, eu já vim com meu sobrenome que é Guimarães de São José”.
Natural de Conselheiro Lafaiete e criado em Miguel Burnier, onde trabalha numa mineradora, Karol Wojtyla se diz muito católico e destaca que o nome de batismo ganhou força depois da morte de João Paulo II, quando já estava casado com Telma. “Até então, quase ninguém sabia que ele se chamava assim. Passaram a falar meu nome com a boca boa. Meus pais foram muito ousados e só tenho a agradecer pela ideia. Querendo ou não, as pessoas me viram com outros olhos, embora, na infância, eu ficasse meio encabulado”, diz o caçula da família e irmão de três mulheres.
Ao longo da vida, o técnico em mecânica tem pesquisado sobre a trajetória de João Paulo II, viu que ele falava vários idiomas, viajou mundo afora e se aproximou de outras religiões. E vocês teriam algum ponto em comum?, vem a pergunta. Com simplicidade, o brasileiro Karol responde que não tem a pretensão de ter semelhanças com o papa. “Pensando bem, tenho facilidade para me comunicar, a exemplo dele”, confessa um minuto depois.
FÉ EM DEUS
O oficial de Justiça Ângelo Roncalli Silva, pai de Tamara, de 23, e Túlio, de 18, é um homem de fé em Deus e Nossa Senhora Aparecida. Belo-horizontino e morador do Bairro Mangueiras, ele gosta de rezar o terço ao lado da mulher, Márcia Maria Barbosa, com quem está casado há quatro anos. “Sempre admirei o nome escolhido por tia Laudelina e prontamente aceito pelos meus pais José Jerônimo da Silva e Marli Freitas Silva”, diz Ângelo, nascido quase seis anos depois da morte de Angelo Giuseppe Roncalli, que se tornará São João XXIII. A falta do Giuseppe (José, português) não causa problema, afirma Márcia: “O pai dele e meu sogro se chamam José e tenho três irmãos com José no nome composto”.
Primogênito de uma família de quatro filhos, Ângelo soube da importância do nome aos 6 anos. Estudava na unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi/Fiemg) no Vale do Jatobá, dirigida por freiras, e todos os dias, ao voltar para casa, era convidado pela irmã Lisieux a rezar o terço numa gruta dedicada a Nossa Senhora. “Ela dizia: ‘Você tem nome de papa, tem de dar exemplo’. Então, mudava de rumo e a acompanhava na oração”, recorda-se. Foi a partir daí que a mãe lhe explicou a razão do nome. Estava sem ideia para o registro do primeiro filho e acolheu a sugestão da cunhada.
Nos 44 anos de vida, Ângelo revela nunca ter ficado constrangido com o seu nome. “Felizmente, ninguém nunca me chamou de João XXIII”, brinca o oficial de Justiça, que, além do Hospital de Pronto-Socorro de Belo Horizonte, já viu uma praça com o nome do “papa bom”, como foi apelidado o líder dos católicos entre 1958 e 1963, que convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965). “Foi um nome escolhido com respeito. Durante muito tempo pensei até que meu filho pudesse estudar para ser padre, mas, ao contrário, se casou pela primeira vez aos 21 anos”, conta a mãe, que também mora no Bairro Mangueiras.
No quarto, Ângelo mostra o chaveiro do carro, vidro de água benta, a pequena escultura sacra e uma vela com a imagem da padroeira do Brasil. “Visitamos Aparecida (SP) e planejamos ir a Roma em 2015”, afirma olhando, cúmplice, para a mulher. O xará de João XXIII está certo de que o nome lhe trouxe sorte. “É bem marcante.” Hoje, a família verá na TV a cerimônia de canonização no Vaticano. E qual graça você gostaria de pedir ao novo santo? “Que meus filhos tenham um bom caminho, e os brasileiros um bom governo”.
Memória
Vidas de santidade
Em 5 de julho de 2013, o papa Francisco aprovou o decreto sobre o reconhecimento de um segundo milagre por intercessão de João Paulo II e abriu caminho para a canonização de João XXIII, embora sem o segundo milagre. O porta-voz, reverendo Federico Lombardi, confirmou que o milagre que levou João Paulo II ao caminho da santidade foi recebido por uma mulher da Costa Rica. Floribeth Mora teve aneurisma cerebral inexplicavelmente curado em 1º de maio de 2011, depois que a família rezou para João Paulo II. A decisão do papa de canonizar João XXIII sem registro de milagre, algo não muito frequente, é prerrogativa do chefe da Igreja, segundo normas do Vaticano. "Todos conhecemos as virtudes e a personalidade do papa Roncalli e não é necessário explicar as razões pelas quais alcança a glória dos altares", afirmou Lombardi. João Paulo II foi beatificado depois de provado um primeiro milagre com a assinatura do papa emérito Bento XVI: a cura da freira francesa Marie Simon Pierre, que padecia, desde 2001, do mal de Parkinson. João XXIII foi beatificado por João Paulo II em setembro de 2000 –o milagre aprovado para sua beatificação foi a cura da irmã Caterina Capitani, em 1966.
Pai de Ana Carolina, de 9, e de Ana Clara, de 4, Karol conta outros casos que denotam o lado curioso do nome. “Certa vez, participei de um curso técnico e havia 43 homens na sala de aula. Ao conferir a lista de chamada, um deles comentou em voz alta: ‘Gente! Vai chegar uma mulher’. De imediato, avisei que o certo era Károl e dei o caso por encerrado”. Ouvindo a conversa, a bem-humorada Telma destaca o lado positivo da história. “Quando surge algum problema e meu marido está presente, a gente sempre diz que o papa chegou para resolver. Na verdade, ter esse nome é uma bênção, pois ele é ótimo marido e excelente pai.” E completa: “Se faltou o Józef (José, em polonês) do papa, eu já vim com meu sobrenome que é Guimarães de São José”.
Natural de Conselheiro Lafaiete e criado em Miguel Burnier, onde trabalha numa mineradora, Karol Wojtyla se diz muito católico e destaca que o nome de batismo ganhou força depois da morte de João Paulo II, quando já estava casado com Telma. “Até então, quase ninguém sabia que ele se chamava assim. Passaram a falar meu nome com a boca boa. Meus pais foram muito ousados e só tenho a agradecer pela ideia. Querendo ou não, as pessoas me viram com outros olhos, embora, na infância, eu ficasse meio encabulado”, diz o caçula da família e irmão de três mulheres.
Ao longo da vida, o técnico em mecânica tem pesquisado sobre a trajetória de João Paulo II, viu que ele falava vários idiomas, viajou mundo afora e se aproximou de outras religiões. E vocês teriam algum ponto em comum?, vem a pergunta. Com simplicidade, o brasileiro Karol responde que não tem a pretensão de ter semelhanças com o papa. “Pensando bem, tenho facilidade para me comunicar, a exemplo dele”, confessa um minuto depois.
FÉ EM DEUS
O oficial de Justiça Ângelo Roncalli Silva, pai de Tamara, de 23, e Túlio, de 18, é um homem de fé em Deus e Nossa Senhora Aparecida. Belo-horizontino e morador do Bairro Mangueiras, ele gosta de rezar o terço ao lado da mulher, Márcia Maria Barbosa, com quem está casado há quatro anos. “Sempre admirei o nome escolhido por tia Laudelina e prontamente aceito pelos meus pais José Jerônimo da Silva e Marli Freitas Silva”, diz Ângelo, nascido quase seis anos depois da morte de Angelo Giuseppe Roncalli, que se tornará São João XXIII. A falta do Giuseppe (José, português) não causa problema, afirma Márcia: “O pai dele e meu sogro se chamam José e tenho três irmãos com José no nome composto”.
Primogênito de uma família de quatro filhos, Ângelo soube da importância do nome aos 6 anos. Estudava na unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi/Fiemg) no Vale do Jatobá, dirigida por freiras, e todos os dias, ao voltar para casa, era convidado pela irmã Lisieux a rezar o terço numa gruta dedicada a Nossa Senhora. “Ela dizia: ‘Você tem nome de papa, tem de dar exemplo’. Então, mudava de rumo e a acompanhava na oração”, recorda-se. Foi a partir daí que a mãe lhe explicou a razão do nome. Estava sem ideia para o registro do primeiro filho e acolheu a sugestão da cunhada.
Nos 44 anos de vida, Ângelo revela nunca ter ficado constrangido com o seu nome. “Felizmente, ninguém nunca me chamou de João XXIII”, brinca o oficial de Justiça, que, além do Hospital de Pronto-Socorro de Belo Horizonte, já viu uma praça com o nome do “papa bom”, como foi apelidado o líder dos católicos entre 1958 e 1963, que convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965). “Foi um nome escolhido com respeito. Durante muito tempo pensei até que meu filho pudesse estudar para ser padre, mas, ao contrário, se casou pela primeira vez aos 21 anos”, conta a mãe, que também mora no Bairro Mangueiras.
No quarto, Ângelo mostra o chaveiro do carro, vidro de água benta, a pequena escultura sacra e uma vela com a imagem da padroeira do Brasil. “Visitamos Aparecida (SP) e planejamos ir a Roma em 2015”, afirma olhando, cúmplice, para a mulher. O xará de João XXIII está certo de que o nome lhe trouxe sorte. “É bem marcante.” Hoje, a família verá na TV a cerimônia de canonização no Vaticano. E qual graça você gostaria de pedir ao novo santo? “Que meus filhos tenham um bom caminho, e os brasileiros um bom governo”.
Memória
Vidas de santidade
Em 5 de julho de 2013, o papa Francisco aprovou o decreto sobre o reconhecimento de um segundo milagre por intercessão de João Paulo II e abriu caminho para a canonização de João XXIII, embora sem o segundo milagre. O porta-voz, reverendo Federico Lombardi, confirmou que o milagre que levou João Paulo II ao caminho da santidade foi recebido por uma mulher da Costa Rica. Floribeth Mora teve aneurisma cerebral inexplicavelmente curado em 1º de maio de 2011, depois que a família rezou para João Paulo II. A decisão do papa de canonizar João XXIII sem registro de milagre, algo não muito frequente, é prerrogativa do chefe da Igreja, segundo normas do Vaticano. "Todos conhecemos as virtudes e a personalidade do papa Roncalli e não é necessário explicar as razões pelas quais alcança a glória dos altares", afirmou Lombardi. João Paulo II foi beatificado depois de provado um primeiro milagre com a assinatura do papa emérito Bento XVI: a cura da freira francesa Marie Simon Pierre, que padecia, desde 2001, do mal de Parkinson. João XXIII foi beatificado por João Paulo II em setembro de 2000 –o milagre aprovado para sua beatificação foi a cura da irmã Caterina Capitani, em 1966.