Os epicentros dos últimos abalos sísmicos ocorridos em Montes Claros resultam da ativação de novo segmento da falha geológica no município, em um ponto distante da área urbana. Foi constatado ainda que a falha geológica tem dimensão maior do que a anteriormente conhecida, o que representa o risco de abalos de maior intensidade. É o que indica estudo do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) sobre os tremores de terra no município, cujo resultado foi divulgado ontem.
Montes Claros tem histórico de abalos sísmicos, que se intensificaram a partir de 2009. No início do mês, em apenas sete dias, os moradores sentiram a terra tremer sete vezes. Em único dia, 6 de abril, foram quatro tremores e, por causa do maior deles – a princípio medido em 3.9 graus na escala Richter, magnitude agora corrigida pela UnB e pela Universidade de São Paulo (USP) para 3.3 –, o reboco de uma casa caiu e feriu levemente uma adolescente de 13 anos.
O fenômeno atingiu uma subestação da Cemig e, por 45 minutos, ficaram sem energia elétrica 90 mil domicílios – 70 mil em outras duas cidades da região (Coração de Jesus e Grão Mogol). A população ficou muito assustada, o que motivou a vinda de uma equipe da UnB, coordenada pelo chefe do Observatório Sismológico, professor Lucas Vieira Barros, para averiguar a movimentação da falha geológica existente no município, apontada como a origem dos abalos.
No levantamento da UnB, feito em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), houve a análise dos fenômenos ocorridos no município entre 1º de janeiro deste ano e 12 de abril, período em que foram registrados 52 tremores, sendo 30 “naturais” e 22 resultantes de detonações em pedreiras.
“Podemos concluir preliminarmente que os abalos ocorridos de janeiro a abril deste ano resultam da ativação de um novo segmento da falha sismogênica de Montes Claros, onde ainda não havia sido observada sismicidade”, informa o relatório do Observatório Sismológico da UnB. O documento diz que os epicentros “estão migrando para Noroeste, em direção oposta à cidade, se distanciando (da área urbana)”. “Em contrapartida, estão mostrando que a falha ativa tem uma dimensão maior do que aquela previamente determinada a partir da sismicidade de 2011.”
MOVIMENTAÇÕES
O professor Lucas Vieira Neves, que assina o documento, diz que, mesmo com a “migração” dos epicentros, não é possível afirmar ou prever se a cidade está imune a movimentações de terra no futuro. Os dados coletados mostram que a extensão da falha geológica é maior do que a divulgada anteriormente. A constatação tem como base estudos realizados logo após um tremor de 4.0 graus (o maior já registrado em Montes Claros), ocorrido em 19 de maio de 2012. Na ocasião, 60 casas sofreram danos e oito delas foram interditadas pela Defesa Civil, quase todas na Vila Atlântica, a região do município mais afetada pelos fenômenos.
Vieira Neves lembrou que levantamentos anteriores indicaram que a falha geológica, situada a uma profundidade de 500 a 1 mil metros de profundidade, tinha extensão de 1,5km a 2km e que agora, com a migração dos tremores para o Noroeste – perto da saída para Januária (BR-135) –, verificou-se que a extensão da fenda pode chegar a três quilômetros, o que ainda está sendo estudado.
“Como a falha é maior, pode-se dizer que pode ocorrer um abalo com magnitude superior a 4.0 graus. Isso é pouco provável, mas não é descartável”, assegurou o especialista. Por outro lado, ele ressaltou que nem sempre a existência de uma falha de maior dimensão, “resultante de migração sísmica”, causa tremores, o que já foi verificado em João Câmara, no Rio Grande do Norte. Contudo, alertou que as autoridades e a Defesa Civil não devem deixar de lado as medidas recomendadas para a proteção contra abalos, sendo uma delas o reforço da estrutura das construções.