“Uma fatalidade”, disse o tenente Sodré, do 13º Batalhão da Polícia Militar, que foi à Praça da Solidariedade acompanhar a ocorrência. “Uma covardia”, afirmou Marta Helena Moreira Madeira, de 54 anos, mãe do jovem, apoiada pelos vizinhos. Há, como em todos os fatos, no mínimo duas versões para o que houve no início da tarde de ontem no São Bernardo: a da polícia e a da família do jovem e vizinhos. As duas divergem em detalhes, mas são semelhantes na conclusão: Luan não é um bandido e foi baleado porque tinha nas mãos um brinquedo que os PMs confundiram com arma de fogo.
De acordo com a versão de Marta Helena, corroborada pelos vizinhos, passava pouco do meio-dia e Luan brincava com outros meninos na Washington Luiz, perto da Praça da Solidariedade.
Na versão da PM, contata pelo tenente Sodré, Luan tinhas nas mãos uma imitação de arma de fogo, que achou no lixo. “Alguém, que ainda não identificamos, jogou um saco plástico cheio de armas de brinquedo em uma caçamba aqui perto. Acreditamos que os meninos tiveram acesso a esse material. Quando a nossa viatura passou perto dos meninos, esse jovem, que agora sabemos ser portador de deficiência mental, apontou o simulacro de arma e balbuciou palavras desconexas. Ao ver arma, a guarnição atirou. E imediatamente fizemos o socorro. Uma fatalidade.”
Os militares exibiram as imitações de armas – cerca de 40 – e, de acordo com o tenente Sodré, haverá investigação para descobrir quem as teria atirado na caçamba, ao alcance das crianças. O militar diz ainda que foram identificadas algumas das pessoas que incendiaram o ônibus. “Vamos esperar que o motorista e o trocador se recuperem do susto para nos ajudar no reconhecimento.
SEM JEITO A Polícia Militar vai abrir sindicância para apurar em que circunstâncias o jovem deficiente foi baleado e o tipo de arma usado na ação. Marta diz que o filho já esteve sob os cuidados do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus e de outras instituições para crianças e jovens com deficiência mental. “Disseram para mim que não há jeito para o Luan. Eu cuido dele e nem tudo ele faz sozinho.” Os vizinhos o recomendam como um jovem dócil e que todos os dias sai para brincar com as crianças na Praça da Solidariedade. “Todos na comunidade gostam do Luan”, disse uma jovem, indignada com o que o tenente Sodré chamou de “fatalidade” e o que a mãe classifica como “covardia”.
De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Risoleta Neves, o estado de saúde de Luan é grave. Ele deu entrada na unidade às 12h15, passou por procedimentos de emergência para que o sangramento decorrente do tiro fosse controlado e, às 15h30, foi submetido a uma cirurgia para drenagem do sangue na parte interna do tórax.