Jornal Estado de Minas

Antiga hospedaria usada por exploradores de ouro abrigará centro cultural em Ouro Preto

Casa Bandeirista, no distrito de Amarantina, passa por obras há um ano e meio e já consumiu R$ 1,4 mi

Gustavo Werneck

Erguida entre o fim do século 17 e o início do 18, a construção tombada pelo Iphan passou por uma reforma e ganhou anexo para feiras, exposições e outras atividades - Foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS


Uma das mais antigas construções de Ouro Preto – a Casa Bandeirista, no distrito de Amarantina, a 28 quilômetros da sede – está pronta para se transformar em centro cultural e de eventos sob a administração da comunidade local. Este mês, a prefeitura deverá assinar convênio com uma associação para transferir o imóvel erguido entre o fim do século 17 e início do 18 e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1963. Conhecida também como Casa de Pedras ou Setecentista, a imponente edificação, localizada próximo à igreja do padroeiro São Gonçalo do Amarante, teve obras iniciadas há um ano e meio e ganhou um anexo para realização de feiras, exposições, palestras e outras atividades.

Entusiasmado com o resultado dos serviços na Casa Bandeirista, que consumiram R$ 1,4 milhão, recurso próprio do Iphan mais contrapartida da municipalidade nos projetos, o presidente da Associação de Cavaleiros Mestre Nico de São Gonçalo do Amarante, César Augusto Elias Alves, informou ontem que a entidade vai se reunir em assembleia para dar uma resposta: “É um equipamento da maior importância para Amarantina. Não é fácil nem simples cuidar da gestão de algo assim, mas vamos decidir da melhor forma possível”.

Já o secretário municipal de Cultura e Patrimônio, José Alberto Pinheiro, se mostra esperançoso de que o acordo seja firmado logo. “É melhor com uma associação já existente e tradicional do que com outra criada só para esse fim”, explicou.

Quem chega ao distrito, já famoso pelo Museu das Reduções, se impressiona agora com a Casa Setecentista, dona de paredão de pedras irregulares e sobrepostas, de uma jabuticabeira-guardiã, gramado bem tratato e uma placa, na entrada, revelando a importância dela na história de Ouro Preto, cidade patrimônio da humanidade. Conforme os estudos, o local servia de hospedaria para os primeiros desbravadores da região das minas de ouro, que podiam passar a noite, preparar os alimentos ou simplesmente dar uma descansada depois das longas caminhadas mato adentro.

O secretário destaca a destinação do espaço anexo para valorizar produtos da comunidade, como doces, quitutes e quitandas, entre elas saborosas roscas. “O ideal é que haja um estande para demonstração e venda, dentro do conceito de sustentabilidade”, afirma, lembrando que a prefeitura dará todo o suporte à gestão da entidade.
“A Casa Bandeirista, por sua vez, é o grande espetáculo, uma atração. A proposta é que abrigue o acervo da cavalhada, como os adereços, uniformes, selas etc., e também exposições de fotografias e pinturas”, afirma. A ideia é que, nessa área, não haja mobiliário, deixando-a vazios para que as pessoas possam admirar a estrutura de pedras e cada canto da construção.

 

Associação local deverá administrar a edificação tricentenária em convênio que será assinado neste mês - Foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS
CAVALHADA

Com 258 anos de história, a cavalhada de Amarantina tem seu ponto alto em setembro, quando ocorre a festa com a presença de muitos visitantes. “Ela é patrimônio imaterial de Ouro Preto”, orgulha-se César Augusto. Por isso mesmo, o restauro da casa era uma antiga reivindicação dos moradores, que assistiam à degradação do monumento sem possibilidade de obter recursos para a conservação. Antes do início do projeto, havia ruínas.

Para o chefe do escritório técnico do Iphan em Ouro Preto, arquiteto João Carlos Cruz, “torna-se fundamental a apropriação desse patrimônio pela comunidade”. A inauguração ocorreu em fevereiro e, embora ainda sem atividades, o prédio pode ser visitado diariamente. Segundo João Carlos, o espaço recuperado criou um ambiente de referência para mostras culturais e eventos à disposição da comunidade.

A representante da comunidade, Cássia Vitorino, está satisfeita. “Esperamos que sejam realizadas oficinas educativas e ações para preservar a memória cultural do nosso distrito”. Cássia acredita que a Casa de Pedra trará desenvolvimento para a arte e artesanato da região.

Também satisfeito está o funcionário Wesley Pierre Henrique, de 18 anos, que traz a história de Amarantina na ponta da língua. “Convivem aqui o antigo e o moderno. Grande parte da nossa história passa por estas paredes de pedra e temos que conservar muito bem”, diz o jovem, mostrando as marcas de um antigo forno usado pelos bandeirantes.

Foram muitos os serviços executados na Casa Bandeirista, sob supervisão do Iphan, incluindo estudos arqueológicos. Uma equipe de especialistas passou dois meses em Amarantina dedicada à escavação do terreno em busca dos vestígios do passado, fazendo ainda um mapeamento dos cômodos. O formato de um forno permitiu a identificação da cozinha antes mesmo das escavações. Depois de encontrados objetos históricos – armas, azulejos, moedas etc. - , o monumento passou pelo processo de eliminação e prevenção de cupins e recuperação da estrutura. Paralelamente aos trabalhos nas ruínas, foi construído o anexo, que, além de sediar eventos, abriga banheiros, salão e escritório para administração do local.

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