Jornal Estado de Minas

Com capivaras ainda na lagoa, PBH recorre a placas para alertar sobre febre maculosa

PBH tem dificuldade para retirar capivaras da Pampulha e adota medida paliativa para tentar evitar doença transmitida ao homem pelo carrapato-estrela

Sandra Kiefer

Rafael Monteiro e Luma Sales observam as capivaras no parque e lembram que elas também se proliferam sem controle em Carangola, na Zona da Mata, onde eles moravam - Foto: FOTOS BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS


Enquanto não consegue retirar as cerca de 250 capivaras da orla da Lagoa da Pampulha, a Prefeitura de Belo Horizonte decidiu instalar chamativas placas em tom laranja, com o desenho estilizado de um carrapato, de 50 metros em 50 metros no interior do Parque Ecológico Promotor Francisco José Lins do Rego, mais conhecido como parque da Pampulha. Os roedores podem servir de reservatórios da bactéria causadora da febre maculosa ou febre do carrapato, transmitida ao homem pelo carrapato-estrela.

No próximo fim de semana, os cerca de 5 mil visitantes do parque vão se deparar com o alerta de que a “área é sujeita à ocorrência de carrapatos”, conforme a placa alaranjada. Para se prevenir, ao chegar em casa as pessoas devem verificar as próprias roupas e o corpo, a cada três horas. Em caso de possível picada do carrapato, é melhor procurar um médico, avisam os dizeres das placas.

O parque ficou fechado para visitantes ontem. Sem saber das placas, a cabeleireira Lídia e o vendedor Ronald Pereira tiraram a tarde de folga para passear com a filha Sara, de 2 anos. “Capivala!”, disse a menina, apontando para os cerca de 50 animais que transitavam do lado de fora do parque, às margens da água empoçada.
Informados do risco, o casal ficou alarmado. “Venho aqui trazer o neném de três a quatro vezes no mês e nunca ouvi falar disso. Não gosto nem de imaginar o que poderia acontecer com minha filha”, protestou a mãe. “Não vamos chegar mais perto dos bichos”, afirmou o pai, assumindo que já tentou até fazer carinho nas capivaras.

Dentro do parque, os cartazes estão bem posicionados para alertar os visitantes. Já na entrada, os visitantes são orientados sobre os riscos, bem como em toda a pista de terra bastante usada para corrida e até na área de equipamentos de ginástica e brinquedos de madeira. Mais no fundo, chegando mais perto da área de isolamento das capivaras, os visitantes recebem novos avisos, tais como: “Não alimente as capivaras”. “Já sabemos do risco. Em Carangola, ocorreu um caso de morte, depois que um menino de 15 anos foi acampar em um lugar onde havia muitos carrapatos. Lá, virou praga, as capivaras andam no meio da rua”, informou Rafael Monteiro, de 21 anos, autônomo, em companhia de Luma Sales, de 18. Eles estão de mudança para BH.

Placa alerta frequentadores sobre a presença de carrapatos na região - Foto: FOTOS BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS
SURPRESA
O vice-prefeito Délio Malheiros, que acumula o cargo de secretário municipal de Defesa do Meio Ambiente, garante ter sido pego de surpresa ao ser informado sobre as placas do parque. “Você ter certeza? Não é só um folheto?”, disse. Ele considera um exagero a colocação de placas de alerta.
“É excesso de zelo. Mas você tem de perguntar à Saúde”, completou.

Já a Secretaria Municipal de Saúde informou, por meio da assessoria de imprensa, que a atribuição seria da Fundação Zoo-Botânica, responsável pela administração do parque. A fundação, por sua vez, já havia dito por telefone que “assuntos envolvendo capivara estariam centralizados em Délio Malheiros”.

O vice informou que fará uma visita ao parque ecológico na sexta-feira para conferir as placas. De início, ele considera que a medida poderá criar alarde na população, já que não há nenhum caso comprovado de contaminação na capital.

“Se tem risco, é preferível pecar por excesso do que por falta. É semelhante às placas alertando sobre risco de tubarão nas praias do Recife. Os tubarões pegaram cinco pessoas em 10 anos, a chance é pequena demais, mas existe”, compara ele. “Sempre fiquei absolutamente tranquilo. Nunca cheguei em casa e examinei minhas roupas para ver se tinha carrapato”, garantiu.


A hipótese de fechar temporariamente o parque até a remoção das capivaras foi descartada por Malheiros. “Não tem jeito. Vamos cercar a Lagoa da Pampulha inteira? Os roedores estão por todo lado e inclusive voltaram a atacar os jardins de Burle Marx“, afirmou ele, lembrando do início da polêmica, em julho do ano passado, com a descoberta da proliferação das capivaras nas imediações do Museu de Arte da Pampulha (MAP).

Segundo o vice-prefeito, o alarde criado em torno da questão das capivaras teria gerado problema para encontrar um lugar que receba os animais. “Nenhum prefeito quer as capivaras na cidade dele”, afirmou.

Em 31 de março, a prefeitura assinou contrato dando prazo de 180 dias para uma empresa vencedora de licitação remover as cerca de 250 capivaras da Pampulha, ao custo de R$ 182 mil. O serviço inclui apreensão, retirada, manejo e exames para verificar se os animais estão infectados. Segundo os últimos resultados de exames, não foi encontrada nenhuma capivara contaminada.

 

 

 

Saiba mais

não há vacina
contra a doença

A febre maculosa é transmitida ao homem pelo carrapato-estrela depois que ele se alimenta de sangue contaminado de animais como capivaras, cavalos, cães e aves domésticas. Os sintomas começam repentinamente e se confundem com os de outras infecções: febre alta, dor no corpo, dor de cabeça, falta de apetite e desânimo, seguidos de surgimento de manchas avermelhadas na pele, que crescem e tornam-se salientes. Não há vacina. O tratamento, com antibióticos, precisa ser administrado no período inicial da doença.
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