Depois de três dias de muito lixo acumulado, principalmente na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, terminou nessa quarta-feira a greve dos trabalhadores terceirizados que são responsáveis pela maior parte da limpeza urbana na capital, graças a acordo mediado pela Delegacia Regional do Trabalho. A promessa era retomar a coleta de lixo ainda ontem, com a equipe do período noturno e nos locais onde o recolhimento é feito nesse horário. Mas a sujeira deve perdurar pelo menos até sexta-feira, prazo dado pelos garis para normalizar a situação e limpar todo o amontoado de lixo que se acumula por ruas e avenidas. Enquanto isso, servidores da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), responsáveis, entre outros pontos, pelo recolhimento do lixo hospitalar, seguem de braços cruzados. No serviço público municipal, escolas e centros de saúde também ameaçam aderir com mais força à paralisação.
Os garis terceirizados tiveram salário reajustado de R$ 960 para R$ 1,1 mil, acréscimos no valor da cesta-básica e do tíquete-refeição, redução dos descontos desses benefícios, além de adicional noturno integral. O salário bruto ficará em torno de R$ 2.020 e, de acordo com o Sindicato dos Empregados de Asseio, Conservação e Limpeza Urbana (Sindeac), é o maior do país para a categoria atualmente. O movimento dos grevistas começou na segunda-feira à noite, quando a coleta foi interrompida na Região Centro-Sul. Anteontem, ela parou de ser feita no Barreiro e regiões Oeste e Leste.
Os 34 bairros da Região Centro-Sul estão entre os que foram mais afetados. Em avenidas como a Carandaí e a Bernardo Monteiro, no Bairro Funcionários, sacos de lixo empilhados formaram verdadeiras montanhas. Apesar do problema, o movimento teve apoio de cidadãos. “Tem muito lixo na rua e também muitos ratos que aproveitam a sujeira. Mas os lixeiros ganham mal, têm uma profissão insalubre e, pelo menos na minha região, trabalham em um horário também insalubre. Eles precisam de um salário digno”, destaca a aposentada Renee Levy, de 85 anos, moradora da Rua Miranda Ribeiro, no Bairro Vila Paris.
No Bairro de Lourdes, um enorme monte de sacos aguardava coleta no cruzamento das ruas Felipe dos Santos e Rio de Janeiro. No ponto nobre da cidade, bem ao lado de condomínios de luxo, lojas e restaurantes badalados, a situação incomodava moradores, comerciantes e trabalhadores. Auxiliar de serviços gerais de uma das lojas do entorno, Angélica Souza diz ser obrigada a contribuir para o aumento da pilha. “Os funcionários almoçam aqui e ficam restos de comida. Não dá para deixar isso guardado no interior da loja”, diz.
Com a greve, mesmo quem deixa os resíduos bem embalados teve surpresas e incômodos. “Faz dois dias que abro a loja e encontro todo o lixo espalhado. É horrível, porque causa péssima impressão, gera mau cheiro e atrapalha a passagem de pedestres”, disse o empresário Paulo Rubens Santos Xavier, de 53, que tem uma loja de bicicletas na Savassi.
A transformação dos passeios em lixeiras trouxe ainda outro transtorno: a dificuldade para os pedestres. Na Rua Palmira, esquina com Rua do Ouro, no Bairro Serra, alunos precisavam passar bem próximo à parede. Mesma situação era observada na Rua São Paulo, no Centro, onde um monte de sacos de lixo ocupava o passeio em frente ao Shopping Cidade.
Servidores
De acordo com a SLU, até ontem, 62% da coleta não havia sido feita. Alguns funcionários terceirizados, orientados pelas empresas a fazer horário mínimo e limpar pontos específicos, como a Avenida Afonso Pena, relataram ter sofrido ameaças. Em alguns casos, a Polícia Militar escoltou os caminhões. “Sou a favor do movimento, mas recebi ordem para trabalhar. Ainda assim, corremos o risco de ser agredidos por quem está parado”, contou o gari Leonardo Soares de Souza, de 29.
Enquanto os terceirizados conseguiram reajuste, a situação dos servidores da SLU fica pendente pelo menos até segunda-feira, quando haverá nova rodada de negociação entre a prefeitura e o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de BH (Sindbel). Eles ameaçam parar, a partir de hoje, o serviço de varrição. Os funcionários reivindicam 15% de aumento salarial. A contraproposta da PBH é de 5,56%. “O salário-base de um concursado do setor de varrição, sem quinquênios, horas extras e outros penduricalhos, é R$ 676. E de quem trabalha no caminhão, R$ 776. Gostaríamos que os vencimentos dos servidores e dos terceirizados caminhassem lado a lado”, afirmou o diretor do Sindibel Robson Rodrigues Machado, representante da SLU.
Negociação marcada com outras categorias
Além dos funcionários da limpeza urbana, a segunda-feira será dia de negociação também para os servidores da educação, da saúde e de setores administrativos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que entraram em greve anteontem de manhã. Por meio de nota, a administração municipal informou que houve paralisação parcial em 15 escolas (8%) e total apenas em duas (1%). Entre as unidades municipais de educação infantil (Umeis), duas (3%) pararam parcialmente, segundo a PBH. Ainda de acordo com avaliação oficial, nenhuma unidade de saúde deixou de funcionar por causa do movimento, mas 21% dos funcionários não trabalharam.
Por seu lado, os servidores ameaçam engrossar o movimento. Várias escolas prometem parar, mesmo que parcialmente, a partir de hoje. Caso da Senador Levindo Coelho, na Serra, onde decidiram cruzar os braços 90% dos professores do turno da manhã e 50% dos profissionais da tarde. Alguns centros de saúde também cogitam essa possibilidade. No Santa Rita de Cássia, no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul, a farmácia não funciona desde anteontem. (JO)
Dia a dia da coleta
A limpeza pública de BH em números
Lixeiros na coleta
Terceirizados - 4,5 mil funcionários
Efetivos da SLU - 1,5 mil servidores (sendo 1 mil na coleta e varrição
e 500 no administrativo )
SALÁRIOS DOS GARIS
Terceirizados - R$ 1,1 mil, tíquete de R$ 20 e cesta de R$ 540 (com reajuste)
Efetivo da SLU - de R$ 676 a R$ 776, vale-alimentação de R$ 20
REIVINDICAÇÃO
Efetivo da SLU -Reajuste de 15% no salário e aumento no tíquete,
de R$ 20 para R$ 28
FONTE: Sindibel