Ontem, cerca de 500 pessoas que reivindicavam melhorias no transporte e na infraestrutura dos bairros Liberdade, San Marino e San Remo fecharam a rodovia na saída para Brasília, queimaram dois ônibus e dois veículos particulares e entraram em confronto com a polícia. A interdição começou por volta das 5h40 da manhã e só foi solucionada ao meio dia, depois de muitas bombas e pedras arremessadas, seis pessoas presas e cerca de 10 quilômetros de trânsito parado em cada sentido.
A população ameaça com novos bloqueios, durante o Mundial, contra as condições de bairros às margens da 040. Moradores reclamam de falta de posto de saúde, do asfalto deficiente e de falhas no transporte coletivo. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) espera receber grupamentos de choque para atuar nesse tipo de caso, além do reforço de policiais de outros estados.
Enquanto autoridades ainda debatem qual a forma ideal de enfrentar o problema e se mostram incapazes de impedir que protestos paralisem alguns dos principais acessos a BH, ontem os manifestantes, além da tradicional barreira de pneus em chamas, incendiaram dois ônibus, assim como uma Kombi e um carro de passeio, que foram retirados da oficina do mecânico Flaubel Ribeiro, às margens da rodovia. Ao mesmo tempo, baderneiros atiravam bombas de uma rua paralela à BR e pedras nos coletivos da empresa Saritur, que atende a região. Outros dois ônibus foram depredados.
Em meio às queixas de comunidades, durante seis horas de interdição da BR quem pagou pelos problemas foram os motoristas. Um dos primeiros da fila, o caminhoneiro Claudemir Aparecido Ferreira, 44, ia de Recife para São Paulo. “Estou há 13 dias fora de casa e com pouca água para beber. Não tem como sair do caminhão, porque a gente tem medo de acontecer alguma coisa”, disse. O motorista de ônibus Gilberto Monteiro, de 43, seguia com passageiros de Brasília para o Rio de Janeiro quando foi surpreendido pelo fechamento. “Eles chegaram a mandar as pessoas descerem, porque iam incendiar o ônibus. Por sorte, desistiram”, disse, assustado.
Incapazes de dar conta do número de manifestantes, agentes da PRF pediram a ajuda da Polícia Militar. Quando o Batalhão de Eventos se preparava para intervir, os moradores prometeram sair. Porém, sem liderança definida e com muitos baderneiros infiltrados na manifestação, a todo momento um grupo voltava para a pista e tinha de ser contido por policiais, em alguns momentos, inclusive, com uso de spray de pimenta.
REFORÇO
O inspetor Aristides Júnior, chefe de Comunicação Social da PRF, afirmou que a corporação vai receber grupamentos de choque para atuar em Minas durante a Copa do Mundo, assim como policiais de outros estados. O tenente-coronel Júlio Cesar de Souza, comandante do 40º Batalhão da PM, responsável por Ribeirão das Neves, garantiu que a PM estará de prontidão para dar apoio à PRF, caso seja necessário. “Em atos de vandalismo a polícia intervém. Hoje (ontem), não houve como atuar no início do incêndio dos ônibus, porque não estávamos em maioria e havia muitas crianças e adolescentes”, alegou.
Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) informou que há necessidade de implantação de um acesso na BR-040 para facilitar a passagem dos ônibus em direção aos bairros San Remo e San Marino. O texto diz que a Prefeitura de Neves e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ficaram de resolver a situação, e que só depois disso a secretaria vai definir o melhor serviço para atender as duas comunidades. Sobre problemas nos coletivos do Bairro Liberdade, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG) informa que fiscalizou na última semana 42 ônibus da Saritur que atendem a região e retirou 21 de circulação, por más condições. A empresa passou a trabalhar na região exatamente devido às queixas contra a concessionária anterior, a Transimão.
A Prefeitura de Neves informou que acionará o Dnit para viabilizar mudanças na BR-040, e que formou uma comissão com moradores para discutir problemas das comunidades. Na empresa Saritur e no Dnit, ninguém foi encontrado para comentar o assunto.
Clima esquenta pelo país
Protestos e depredações tumultuaram a quinta-feira em pelo menos outras cinco capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Fortaleza e Curitiba. A situação mais grave ocorreu no Rio, onde cerca de 330 ônibus foram depredados quando se preparavam para sair as garagens, durante paralisação de motoristas e cobradores.
Em São Paulo, o movimento dos sem-teto fez cinco manifestações em locais distintos, com interdição de vias, invasão e pichação de sedes de construtoras e grandes congestionamentos. À tarde, um dos líderes do movimento foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, que visitou o Estádio Itaquerão, sede da abertura da Copa.
Em Salvador, sem-terra e servidores municipais em greve interromperam o trânsito em vários pontos. Já em Fortaleza, vias foram fechadas na Região Central pelos garis, em greve desde 23 de abril. Em Curitiba, o trânsito na BR-367 foi fechado por duas horas por grupos de sem-teto. À tarde, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que “o Estado brasileiro não aceitará violência” nos protestos.
Filme repetido
No ano passado, durante a Copa das Confederações, várias manifestações cobrando melhoria do transporte coletivo fecharam o trânsito na BR-040, na altura de Ribeirão das Neves. Em 17 de junho, o trânsito foi fechado por mais de duas horas, nos dois sentidos, na altura do Bairro Liberdade. O congestionamento chegou a 13 quilômetros. Quatro dias depois, cerca de 10 mil pessoas participaram dos protestos em cinco pontos da 040: nos kms 507, 508, 510, 513 e 517. Pneus foram incendiados e o Corpo de Bombeiros precisou ser acionado. Em 2 de julho, a rodovia ficou fechada por seis horas. Manifestantes bloquearam a estrada na altura do Bairro Liberdade e protagonizaram cenas de destruição a coletivos, provocando caos no trânsito. Cinco ônibus foram depredados e um, queimado.