Jornal Estado de Minas

Mães mostram caminho para criar filho único sem atrapalhar amadurecimento da criança

Sandra Kiefer - Especial para o EM
Igor, Elaine e Ana Eliza, equilíbrio e bom senso na formação da adolescente - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press


Aos 12 anos, Ana Eliza já tem o costume de se levantar mais cedo aos domingos e preparar as panquecas para o café da manhã com a família. Independente e articulada, a estudante ainda tinha dúvidas sobre qual seria o recheio especial para comemorar o Dia das Mães. Normalmente, seria de queijo, mas para hoje ela pensou em caprichar mais. “Gosto muito de panqueca de chocolate. É bem fácil. Só precisa misturar um pingo de água com bastante Toddy. Fica uma delícia!”, ensina a pequena gourmet, filha única da analista de sistemas Elaine Drumond Pires e do violinista Igor Ribeiro, ambos de 41 anos.

A postura amadurecida de Ana Eliza desperta a curiosidade dos amigos do casal, pais de coleguinhas e de adultos em geral, que manifestam admiração pelos bons modos da criança.
“Graças a Deus tenho uma mãe muito boa e um pai legal. Deve ser por isso que tenho boa educação”, diz a menina. Desde cedo, ela derruba  os estereótipos de que a filha única será mimada, geniosa e tratada como a princesa da casa. Se for menino, por sua vez, o filho único receberá manto, cetro e coroa de sua majestade, o rei.

Longe dos contos de fadas, as famílias contemporâneas precisam se haver com a realidade de que os casais brasileiros estão optando por ter cada vez menos filhos, seja por razões econômicas ou pela falta de tempo das mães, que partiram para a disputa no mercado de trabalho. “As famílias estão ficando cada vez mais nucleares. É mais fácil criar e educar um único filho, diferente de quando era preciso dar atenção afetiva a seis filhos, por exemplo”, compara o advogado Rodrigo da Cunha, presidente do Instituto Brasileiro do Direito de Família (IBDFam). Segundo dados do último censo demográfico do IBGE, 29% das famílias brasileiras tinham só um filho em 2010.

MESA CHEIA Na década de 1960, o Dia das Mães era celebrado com a mesa cheia no domingo, já que a taxa de fecundidade no Brasil era de 6,3 filhos por mulher. Nos anos 1980, o número de filhos já havia encolhido para 4,4 por mulher. Duas décadas depois, atingiria a média atual, inferior a dois filhos por mulher. Elaine, mãe de Ana Eliza, nem faz questão de ganhar muitos presentes. Ela e o marido se preocupam em educar a filha sem tanto consumismo, aberta a outros valores.
“Ana Eliza nunca teve maiores regalias. É uma menina serena, sempre com a carinha boa e que sabe conversar. Desde pequena, conta histórias completas”, orgulha-se a mãe, que busca estimular a convivência da menina com duas primas, também filhas únicas.

Há seis anos, Elaine chegou a ter uma gravidez nas trompas. Para tentar o segundo filho, teria de recorrer a tratamentos de fertilização. Ela e o marido preferiram deixar a natureza decidir por eles. “ Na verdade, o processo correu de forma muito natural para a gente. Hoje, somos muito felizes e nos sentimos completos. Acredito que temos uma responsabilidade maior em preparar a Ana Eliza para o futuro, não no sentido de adquirir bens, mas de investir na educação dela, pois ela vai ter de se virar sozinha lá na frente”, alerta Igor Ribeiro, analista de sistemas e músico da banda Ora Pro Nobis..