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Estado de Minas

Opção de mães por ter só um filho pode estar ligada ao mercado de trabalho

Com o mercado de trabalho aberto ao sexo feminino, muitas mulheres optaram por ter apenas um filho, visando equilibrar a maternidade com os compromissos profissionais


postado em 11/05/2014 06:00 / atualizado em 11/05/2014 08:10

"Meu programa de vida é ter só a Sofia. Quero proporcionar para a minha filha a mesma qualidade de vida e os estudos que tive" - Patrícia Murta, controladora de multinacional em BH (foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)
 

 

Já foi o tempo em que um filho único teria toda a atenção para si. Com a chegada das brasileiras ao mercado de trabalho, mesmo que seja única, a criança terá de espernear para conseguir dedicação exclusiva. Ela terá que disputar com os compromissos marcados na agenda. “Meu programa de vida é ter só a Sofia. Vim do interior e consegui fazer meu currículo na capital. Quero proporcionar para a minha filha a mesma qualidade de vida e os estudos que tive”, afirma a contadora Patrícia Loyola Murta, de 40 anos, natural de Coronel Murta, que fez quatro pós-graduações e atua como controladora de empresa multinacional em BH.


Sorridente e realizada como mãe, Patrícia recebeu Sofia em 9 de fevereiro, exatamente no dia do seu aniversário. “Não fui eu quem a escolhi, foi ela quem me escolheu, quando a bolsa estourou. Nós duas temos uma conexão muito forte. Foi presente de Deus”, afirma ela, que está curtindo hoje o primeiro Dia das Mães. Patrícia adiou até o último minuto a ideia de ser mãe, mas recebeu o ultimato da ginecologista de que era preciso tomar uma decisão. O prazo estava se esgotando. Ela e o marido decidiram ter um filho só. “Mas vou tentar não sufocar minha filha. Vim muito cedo, sozinha, para a capital, e minha mãe me preparou para a vida. Pretendo fazer o mesmo com minha Sofia”, diz a mamãe de primeira e única viagem, que trabalhou ativamente até o último minuto antes do parto.

Para a psicanalista Ana Lydia Santiago, antes de tudo é preciso respeitar o desejo da mulher. “Há aquelas que sempre desejaram ter muitos filhos e outras que enfrentam certa dificuldade com a maternidade. Para alguns pais, ter um filho também pode causar certo impacto”, explica. Segundo a especialista, as famílias costumam ser até mais exigentes com o filho único. “Os pais idealizam um futuro para as crianças e propõem uma série de estratégias de acordo com o que acreditam. Uns incentivam o esporte, outros, a leitura, a música. Quando existem outros filhos, é possível dividir melhor as expectativas dos pais”, compara.

Apesar de trabalhar em média 10 horas diárias, a endocrinologista Flávia Beatriz Pieroni, de 41, faz questão absoluta de deitar todas as noites com a filha Mariana, de 6, e de contar histórias até a pequena pegar no sono. “Nesses momentos temos a oportunidade de dividir os nossos segredos e confidências. Converso muito com a Mariana. Ela sabe que, por ser filha única, é a nossa filha mais velha no sentido de ser cobrada em relação aos compromissos escolares. Por outro lado, é também nossa caçula e tem direito a receber todo nosso chamego e afeto”, brinca a médica.

"Eu me cobro muito como mãe, mas não poderia ter o segundo filho apenas para aumentar a família. Era preciso dar conta de cuidar do filho. Percebi que já estava realizada com a Mariana" - Flávia Pieroni, médica (foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
AGENDA ADAPTADA
A mãe conta que imaginava ter um segundo filho, mas a nova gravidez não se encaixou nos planos do casal. O marido, o engenheiro mecânico Márcio Costa, morou no Pará durante dois anos, transferido pela mineradora onde trabalhava. Já a médica, que nos primeiros quatro anos de vida da Mariana enxugou as agendas, havia recebido convite para assumir nova função. Ela se desdobra em três empregos. “Eu me cobro muito como mãe, mas não poderia ter o segundo filho apenas para aumentar a família. Era preciso dar conta de cuidar do filho. Percebi que já estava realizada com a Mariana”, afirma.

Brincalhona, a médica diz que a filha já tem um “irmão por parte de tia”. Davi, de 4, é o caçula da irmã dela, Ana Luisa, e ambas moram no mesmo prédio, no Bairro Gutierrez. Nos fins de semana, dedicados exclusivamente à família, os passeios incluem levar a garotada à pracinha, ao cinema e a aniversários infantis, sempre em grupo.

 

Autoproteção não pode virar prisão

 

 “Ei, mãe, não sou mais menino/Não é justo que também queira parir meu destino/Você já fez a sua parte me pondo no mundo/Que agora é meu dono, mãe/e nos seus planos não estão você/Proteção desprotege e carinho demais faz arrepender”. Na letra de Filho único, o compositor e cantor Erasmo Carlos dá um puxão de orelha nas mães de filhos únicos como a dele, que, ao engravidar, decidiu assumir sozinha a criação do filho, que se tornaria famoso ao fazer dupla com Roberto Carlos. A letra foi redescoberta recentemente pelo músico Frejat, em parceria com o Tremendão. Os músicos fazem um alerta para aquelas mamães que, por terem um só filho, apresentam maior dificuldade em cortar a ligação umbilical.

Com 30 livros publicados, o psiquiatra e educador Içami Tiba alerta que nem sempre os filhos únicos resultam exclusivamente do parto. Segundo ele, há pais que lidam com seus filhos como se não tivessem irmãos, prejudicando-os de forma inconsciente. Entre os casos citados por ele, está o do filho caçula temporão e o dos filhos com intervalos de tempo maiores entre si, em que os pais tratam o caçula de forma muito diferenciada, já sabendo que não terão outro bebê.

“Especialmente o filho único de mãe sozinha constrói uma possessão mútua entre filho e mãe, que pode trazer futuros sofrimentos, caso eles se fechem contra o mundo e formem um vínculo de autoproteção tão forte que passa a funcionar como prisão, pois ali não cabem outras pessoas”, escreve Tiba. No livro, ele explica que o filho único mimado já foi considerado uma anomalia pelo americano G. Stanley Hall (1844-1924), um dos pais da psicologia infantil.

Com ajuda externa, um filho único pode se libertar desta teia tecida pela superproteção da mãe. Segundo o psiquiatra Carlos Byington, membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, a mãe pode começar, desde o parto, a garantir a felicidade do seu filho único. “Mais do que compartilhar com o pai, a mãe pode contribuir para que ele participe ativamente da vida do filho, desde a gestação. Nisso reside o grande segredo”, explica. Em outras palavras, a primeira lição é aprender logo a dividir o amor do filho com outras pessoas, como o pai. (SK)

 

O GRANDE SEGREDO


Como fazer seu filho único feliz

 

1- Seja generosa e dê ao seu bebê a participação íntima do pai dele, junto do seu amor.

2- Evite, desde a gestação, se identificar com o ninho formado por você e pelo bebê na barriga. Mostre ao pai o quanto você precisa dele para ir às consultas com o obstetra e ver o tamanho do nenê e seu estado de saúde no ultrassom. Peça para ele ouvir as recomendações do médico, para ajudar a cumpri-las.

3- Peça ao pai para participar dos cursos preparatórios da gravidez, para ajudar você nos momentos respiratórios do parto e aprender a dar banho e trocar as fraldas do bebê, quando precisar.

4- Evite que sua mãe substitua o pai e tome as rédeas do pós-parto.

5- Partilhe com o marido tudo o que você puder na gravidez. Peça a ele para fotografar o parto e trazer o bebê para vocês tirarem uma foto beijando-o, logo que nascer.

6- Facilite, ensine e peça para o pai participar da vida íntima com o bebê, desde o início. Essa será uma das maiores manifestações de amor pelo seu bebê, seja ele menino ou menina.

7- Mais do que compartilhar com o pai, a mãe pode contribuir para que ele participe ativamente da vida do filho, desde a gestação. Nisso reside o grande segredo.

Fonte: Carlos Byington, psiquiatra e membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica


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