Jornal Estado de Minas

Manifestação em BH termina sem violência, mas com tumulto

Primeira mobilização de grandes proporções após Copa das Confederações tem adesão baixa, mas gera caos no tráfego de BH. Não houve registro de vandalismo

Jorge Macedo - especial para o EM
Daniel Camargos, Valquiria Lopes, Landercy Hemerson e Mateus Parreiras

Na avaliação da polícia militar, cerca de mil pessoas, integrantes de pelo menos 10 movimentos, participaram das manifestações ontem no centro de BH. praça sete foi interditada - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press.

Sem a mesma adesão das manifestações que ocorreram durante a Copa das Confederações, em 2013, cerca de 1 mil pessoas se reuniram ontem, no Centro de Belo Horizonte, protestando contra os gastos com o Mundial de futebol e reivindicando pautas diversas, como aumento para os professores da rede pública, redução da tarifa de ônibus e desmilitarização da polícia. Apesar de a concentração ser bem inferior à do ano passado – quando mais de 50 mil pessoas foram às ruas –, o protesto deu um nó no trânsito de BH, fechando completamente a Avenida Afonso Pena, parte da Avenida Olegário Maciel, a Praça Raul Soares e a Praça Sete em momentos distintos, entre as 16h e as 20h. À noite, a situação ainda era tensa na Praça da Liberdade, onde um dos grupos protestava com uma fogueira diante do relógio da Copa, acompanhado por militares do Batalhão de Choque.

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A onda de protestos começou às 16h, quando servidores municipais em greve saíram da Praça Sete em passeata até a porta da Prefeitura de BH. Mesmo respeitando a ordem judicial de ocupar apenas uma faixa da Avenida Afonso Pena, o movimento complicou o tráfego. Também às 16h, na Praça da Assembleia, no Bairro Santo Agostinho, cerca de 300 professores das redes públicas estadual e municipais de diversas cidades se reuniram. Os servidores estaduais decidiram entrar em greve a partir do dia 21. Em seguida todos seguiram em passeata pela Avenida Olegário Maciel, em direção à Praça Raul Soares.

Ao chegarem ao local com bandeiras de centrais sindicais e um carro de som, os manifestantes engrossaram o Ato Unificado 15M, que foi convocado via redes sociais em todo o país para protestar por vários motivos, o principal deles em repúdio à realização da Copa do Mundo no Brasil.

Por cerca de 40 minutos ativistas fecharam o trânsito na praça e seguiram pela Avenida Amazonas em direção à Praça Sete. Como aconteceu diversas vezes nos protestos do ano passado, os manifestantes voltaram a tomar o Pirulito e fecharam o trânsito em todos os sentidos. De lá, seguiram para a sede da Prefeitura de Belo Horizonte.

Palavras de ordem e paródias de músicas de sucesso deram o tom das críticas a governantes e à polícia. Uma catraca de ônibus foi incendiada por integrantes do Movimento Tarifa Zero. Com a avenida fechada no sentido Centro-bairro, o outro lado também foi interditado pelos manifestantes, que organizaram um bate-bola na via mais movimentada do Centro da capital.

O protesto em frente o prédio da PBH durou pouco mais de uma hora e, quando a maioria dos manifestantes se dispersou, um grupo de 70 ativistas decidiu fazer um último ato na Praça da Liberdade. Eles fecharam o trânsito na Rua da Bahia, por volta das 19h45, e seguiram em direção à praça, onde ocuparam a Rua Gonçalves Dias e bloquearam o tráfego. Em frente ao relógio da Copa, colocaram fogo em uma catraca de ônibus. O grupo permaneceu no local por cerca de duas horas, sendo observado à distância por militares do Batalhão de Choque, que garantiram a segurança do marco da Fifa até que todos fossem embora.

CANSAÇO e irritaçãO A contadora Cláudia Dornelas, cansada de esperar no ponto de ônibus da Avenida Afonso Pena, em frente à prefeitura, questionou a comandante do Policiamento da Capital, a coronel Cláudia Romualdo, sobre o fechamento do trânsito. “Se eu pudesse estaria junto, mas trabalhei o dia inteiro e quero ir para casa. Da mesma forma que as pessoas têm o direito de protestar na rua, eu tenho o direito de ir embora”, afirmou a contadora. Ela disse ainda que quer participar da próxima reunião no Ministério Público e que pretende entrar com representação pedindo que o trânsito não seja fechado em dias de manifestação.
O gerente comercial Pedro Barbosa, de 34, apesar de ter ficado preso no engarrafamento na Avenida Augusto de Lima, apoiou a manifestação. “Alguém tem de mostrar que não estamos satisfeitos. Meus irmãos e primos mais novos também estão paticipando”, contou.

Para Marina Costa Val, de 23 anos, estudante de economia e uma das representantes do Movimento Tarifa Zero, o protesto de ontem foi o mais bem-sucedido desde que acabou a Copa das Confederações. O movimento prepara nova manifestação para terça-feira.

O coronel Antônio Carvalho, comandante de Policiamento Especializado da PM, calculou que a manifestação tenha reunido cerca de 10 grupos e disse que durante todo o percurso foram feitas negociações para organizar o trânsito e manter a ordem. De acordo com ele, os próprios grupos proibiram a entrada de pessoas que quisessem praticar atos de violência.

Na avaliação do coronel Carvalho, um dos motivos para o esvaziamento da manifestação de ontem em relação a protestos anteriores foi justamente o temor da população de enfrentar transtornos sérios no Centro. Por isso, segundo ele, muitas pessoas evitaram a região ou foram embora mais cedo do que o habitual.

“Venho ao Centro diariamente, mas hoje tive que encerrar o trabalho antes, por medo de confusão e de como pode ficar o trânsito.
Acho que as pessoas têm que protestar, mas não acho justo que fechem totalmente o trânsito e prejudiquem a vida das demais”, afirmou a advogada Bernadete Cardoso, de 39. Ela e um colega de trabalho observavam o movimento na Avenida Afonso Pena e se preparavam para ir para casa por volta das 17h.

Durante os protestos, algumas bandeiras vermelhas e pretas do movimento anarquista foram levantadas. Ativistas tamparam os rostos com máscaras, apesar de recomendação em contrário da polícia, e houve poucos momentos de tensão. Um deles ocorreu quando motociclistas furaram o bloqueio dos manifestantes na Avenida Afonso Pena e foram atacados com bandeiradas.


Manifestantes são assaltados

Ladrões assaltaram na madrugada de ontem um ônibus em que viajava um grupo de professores de Uberlândia e Ituiutaba, ambas no Triângulo Mineiro, ruma a Belo Horizonte, onde participariam da assembleia e de protesto da categoria. O veículo foi interceptado por quatro homens armados quando trafegava pela MG-452, próximo a Perdizes, no Alto Paranaíba. Os criminosos, que estavam em um carro, fecharam o ônibus e atiraram duas vezes para que o motorista parasse. Em seguida, levaram o coletivo para uma estrada vicinal, onde assaltaram os passageiros.

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