Jornal Estado de Minas

Trecho onde dez morreram em acidente de ônibus é o mais violento da BR-262

Apesar do conhecido risco do local crítico, um declive em forma de "S", melhorias na pista não devem ser concluídas antes de 2019

Mateus Parreiras

Ônibus que transportava idosos de Caldas Novas (GO) para BH despencou de altura de 15 metros - Foto: JORNAL VISÃO/DIVULGAÇÃO


Os seguidos acidentes que fizeram do km 509 da BR-262, em Luz, no Centro-Oeste de Minas, um dos mais violentos da rodovia não resultaram em medidas de segurança para evitar tragédias. Como resultado disso, 10 pessoas morreram e outras 44 se feriram no domingo, depois que um ônibus com um grupo, na maioria de idosos, que viajava de Caldas Novas (GO) para Belo Horizonte perdeu o controle e despencou de um barranco de 15 metros na “curva da Estiva”.

Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), o trecho crítico da estrada onde ocorreu o acidente, em declive e em forma de “S”, registrou 2,5 vezes mais acidentes e 2,3 vezes mais feridos que a média por quilômetro da rodovia em um período de cinco anos (entre 2007 e 2011). Diante do perigo, um policial rodoviário federal que trabalha na região reconhece que é preciso mudar o trecho, com mudanças no traçado ou duplicação. Mas uma solução para o trecho ainda está distante: apesar da concessão da rodovia à iniciativa privada, o cronograma de obras prevê que a ampliação da estrada entre Nova Serrana e Uberaba será concluída apenas em 2019.

O veículo de passageiros acidentado no domingo é um ônibus de dois andares modelo double deck, pertencente à empresa de turismo Transjapa, com licença em vigor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e documentação em dia, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Além de dois motoristas, havia 52 passageiros, a maioria integrantes de um grupo de idosos da Região do Barreiro, na capital, e seus convidados. Eles tinham passado cinco dias em Caldas Novas, a 700 quilômetros de BH.

Segundo a PRF, o acidente ocorreu por volta das 18h15.
O veículo de passageiros não conseguiu terminar a primeira curva da sequência em “S”, atravessou a pista pela contramão e despencou de um barranco com 15 metros de altura. Por pouco a tragédia não foi pior, uma vez que o veículo deslizou de lado e ficou a três metros do Ribeirão da Estiva. Além disso, uma carreta carregada de milho não conseguiu reduzir a velocidade enquanto equipes de salvamento resgatavam as vítimas, bateu no caminhão dos bombeiros, em uma caminhonete e caiu da ponte do Ribeirão da Estiva. O condutor sofreu ferimentos leves.

- Foto: No acidente com o ônibus de turismo morreram Antônio Teixeira Amorim, de 62, Fortunato Braga Amorim, Francisco Avelino Martins, de 82, Isaura Cassini Teixeira, de 78, Luciene Maria da Conceição Assis, Maria Aparecida Pedrosa, de 58, Maria José Monteiro, de 76, Santuza Pereira Martins, de 78, Sônia Aparecida Honorato, de 56, e Maria das Graças Teixeira Cassino, sem idade confirmada. “A chuva fina tornou a estrada naquele local ainda mais perigosa. Pelo que testemunhas disseram, o ônibus perdeu o controle na curva”, contou o policial rodoviário federal Carlos Humberto Araújo, do posto de Bom Despacho. Ele admite a necessidade de mudanças no traçado da rodovia para dar mais segurança aos viajantes. “Não tem uma semana sem acidente naquele ponto. Os motoristas se assustam quando entram na sequência de curvas e podem perder o controle”, afirmou.

Velocidade

Testemunhas divergem sobre a velocidade do ônibus. Umas afirmam que o motorista corria muito e outros dizem que o viram trafegar a 80 quilômetros por hora. O tacógrafo foi levado pela perícia da Polícia Civil. A possibilidade de o motorista ter dormido está praticamente descartada, já que o acidente ocorreu a 17 quilômetros da parada anterior, num restaurante em Luz, onde houve troca de condutor.

Segundo o Dnit, o km 509 tem média de 5,4 acidentes por ano, com 3,2 feridos anuais.

A média por quilômetro da BR-262 inteira é bem inferior, com registro de 2,1 acidentes e 1,4 feridos a cada mil metros. A rodovia tem baixa mortalidade, com uma vítima a cada 7,5 quilômetros, o mesmo ocorrendo no km 509. No trecho crítico, os acidentes entre 2007 e 2011 indicam dificuldades de motoristas em manter o controle. Foram sete saídas de pista, três capotamentos e três tombamentos.

 

Parentes desesperados
O que era para ser uma viagem de amigos e familiares para aproveitar as águas termais de Caldas Novas se tornou um drama depois que o ônibus de turismo da empresa Transjapa saiu da pista e caiu num barranco na BR-262. Um dos 44 feridos é um garoto de 6 anos, que está em estado grave no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), com traumatismo crânio-encefálico. A criança viajava com as duas avós, Maria Aparecida Pedrosa, de 58 anos, e Sônia Aparecida Honorato, de 56, e foi o único sobrevivente da família.

Na recepção do hospital, com os rostos abatidos, parentes do menino tiveram um momento de comemoração, por volta das 13h de ontem, quando a médica deu a notícia de que a criança tinha acordado depois de passar por uma cirurgia. “Os pais dele estão em choque por terem perdido suas mães e sogras e quase ficarem sem o filho”, disse a estudante Débora Cristiane Pedrosa, de 25 anos.

A contadora Maria do Carmo Apolinário, de 57, conta que a família sentiu alívio quando soube que a sua sogra, Terezinha Teixeira Apolinário, de 69 anos, tinha sobrevivido. Mas a situação dela ainda é delicada. “Ela teve uma fratura na coluna vertebral e precisou ser transferida de helicóptero do hospital em Luz”, conta Maria. Os feridos foram levados pelo Corpo de Bombeiros de Nova Serrana e por ambulâncias de cidades da região para o Hospital Senhora Aparecida, em Luz, para a Santa Casa de Bom Despacho e para o HPS.

Um dos voluntários que ajudou a tirar os sobreviventes de dentro do ônibus foi Roberto Ferreira de Paula, de 40 anos, gerente do posto onde os passageiros e os motoristas tinham lanchado há menos de 20 minutos antes do acidente.

“Estavam todos contando sobre as coisas que tinham feito no passeio. Os motoristas não aparentavam estar cansados”, disse. O advogado da Transjapa, Jader Gomes, considerou o ocorrido uma “fatalidade” e disse que a empresa está arcando com as despesas dos parentes.

 

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