Bandeiras com as cores do Brasil começam a tomar conta de janelas de casas e apartamentos. No comércio, bandeirolas também dão o tom verde a amarelo. Nos bairros, moradores prometem abusar da criatividade para enfeitar as ruas com pompa e circunstância. E tem até empresa deixando o local de trabalho com a cara da festa. Faltando 19 dias para a Copa do Mundo, Belo Horizonte começa a entrar no clima do torneio e a se preparar para deixar a casa pronta para a competição de futebol mais importante do planeta.
A Rua Francisco Bicalho, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH, por exemplo, já está em clima de futebol. Bandeirinhas nas cores verde e amarela enfeitam o quarteirão entre as ruas Nadir e Zenite. No chão, uma enorme bandeira do Brasil pintada no asfalto chama a atenção de motoristas e pedestres. Pela quinta Copa consecutiva, o comerciante Zelino Correia de Freitas, de 51 anos, enfeita a via e se diverte com os funcionários durante os preparativos.
Foi preciso até mesmo “controlar” o trânsito para fazer os arremates finais – frases de incentivo ao hexacampeonato da Seleção. Fita zebrada, sacos de lixo, pedidos de desculpa a condutores e muito bom humor ajudavam a fazer o desvio dos carros, impedindo que atrapalhassem a pintura das palavras. Os motoristas pareciam não se incomodar e correspondiam às brincadeiras – a maioria deles são vizinhos e velhos conhecedores da tradição do dono do depósito Gran Lar.
Zelino explica o motivo de tanta animação. “Primeiro, é a paixão pelo futebol. Eu e meu filho jogamos bola e temos até um time de pelada. Segundo, a clientela gosta”, conta, sorridente. Em dias de jogos da Copa, a rua fica preservada, pois o local da farra em família é o terraço da casa. A tinta lavável garante que, depois da festa, a rua volte ao aspecto de sempre. “A gente faz pela farra, pela diversão, pelo prazer”, relata.
Mas se a adesão da vizinhança é certeira, houve também críticas este ano. Zelino conta que, por causa das manifestações contra o Mundial, muita gente questionou se ele não tem consciência política. A resposta veio rápida. “Tenho e sei separar cada coisa.
Sem deixar se abalar, aos sábados, ele vai levar adiante mais uma tradição: fechar o quarteirão e deixar pincéis e tinta à disposição de quem quiser contribuir com o trabalho. “A criançada adora. Pode desenhar uma estrela, escrever o nome. É só usar a criatividade”, relata. E, diante de tudo isso, o Brasil vai ganhar o hexa? Eis mais uma resposta na ponta da língua: “Sou profeta do acontecido. Depois que acontecer, te respondo”.
ANIMAÇÃO Em outro ponto da cidade, na Rua São Lázaro, no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de BH, a ordem é repetir o feito da última Copa, quando os moradores enfeitaram o quarteirão entre as ruas Geraldo Menezes Soares e João Carlos. O sapateiro Douglas de Moura, de 21, acredita que, no fundo no fundo, as pessoas estão bem animadas para receber o Mundial. “Brasileiro adora uma festa”, diz.
Ela aguarda apenas uma das vizinhas, também à frente da organização, distribuir as cartas entre os moradores para começar os preparativos. O desenhista já tem, bem como os voluntários para pintar as imagens. Postes e passeios também ganharão nova roupagem. A única preocupação é com a operação em si: “O pessoal está bem animado aqui, mas não sei ainda como faremos. Antes a rua era mão única e, agora, sendo dupla, tem movimento de carro a madrugada toda”.
Na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, na Região Centro-Sul de BH, a enorme bandeira listrada de ver e amarelo, cobrindo o prédio de uma empresa de segurança há quase um mês, é a senha de que, ali, a bola já está rolando. Todos os andares estão produzidos para a Copa. Nas bancadas de atendimento, cornetas, óculos e panos coloridos dão mais vida ao local, que funciona com equipes atuando 24 horas.
Até o término da competição, o funcionário que mantiver a criatividade e a ousadia poderá ser escolhido para ganhar uma camisa oficial da Seleção Brasileira. Os empregados também poderão escolher diversos itens, como chapéus, óculos e colares, para compor a decoração. Haverá campanhas também voltadas aos clientes. “Gostamos de sair na frente e, por isso, decidimos entrar no clima bem mais cedo. Acho até que a cidade está ainda um pouco parada. Por ser no Brasil, esse processo já devia estar mais adiantado”, afirma a gerente de marketing da empresa, Luciana Ulhoa.
O universitário Davidson Ribeiro, de 22, estagiário da Emive, faz questão de ressaltar que clima de festa sim, mas sem atrapalhar o profissionalismo. Para ele, a mesma empolgação vista na empresa, em breve, vai se espalhar pela cidade: “Durante a Copa, o cenário vai mudar e as pessoas vão torcer pelo Brasil. É uma coisa nata e intuitiva do brasileiro.”