Jornal Estado de Minas

Violência contra a mulher provoca Marcha das Vadias hoje em BH

Em sua quarta edição, o protesto traz como mote principal o fim da violência contra as mulheres e o direito ao próprio corpo

A Marcha das Vadias está marcada para acontecer neste sábado, com concentração na Praça da Rodoviária, no centro de BH, a partir das 13 horas.
Em seguida, os manifestantes pretendem fazem uma passeata pelas rua Guaicurus, Praça da Estação, Rua da Bahia e Praça da Liberdade. De acordo com Adriana Torres, uma das articulistas da Marcha e voluntária do Movimento Nossa BH, a violência contra a mulher está tão naturalizada que culpá-la pelo que sofre é a forma que a sociedade encontrou para jogar o problema para debaixo do tapete.

"Resolver o problema da violência exige um comprometimento de todos, desde o cidadão até a gestão pública com a desconstrução de um processo social e político que hierarquiza pessoas por gênero, idade, raça, etnia, classe e orientação sexual, limitando seus direitos e sua liberdade. É necessário revolucionar toda a nossa crença no que nos estrutura hoje e as pessoas estão pouco dispostas para uma mudança tão grande. Então jogam a culpa na vítima, quando não criam medidas absurdas como o vagão exclusivo para mulheres, que segrega e pune a vítima pelo que ela sofre", avalia Adriana.

Segundo Nathalia Duarte, cientista social, participante da frente feminista do movimento Tarifa Zero e participante da Marcha das Vadias, a violência diária sofrida pelas mulheres se traduz em um não direito à cidade e à  mobilidade, uma vez que as mulheres não podem circular sozinhas em determinados horários e locais e sem correr perigo. E mesmo nos trajetos diários, sofrem constantemente assédio. O espaço público e o transporte coletivo não são pensados para as mulheres, e o assédio se constitui, portanto, como mais uma catraca que precisam enfrentar durante o deslocamento de cada dia.

Letícia Gonçalves, psicóloga e também articuladora do coletivo da Marcha em BH, relata que uma das maiores preocupações do grupo no último ano foi compreender como e o quanto essas violências afetam as prostitutas. "Não temos a intenção de falar pelas mulheres, mas de aproximar e escutar o que elas dizem.
Percebemos nesse movimento que fizemos a necessidade de pautarmos a complexidade do assunto, já que estamos falando de realidades muito diversas. Consideramos fundamental reconhecermos o contexto de violência colocado na vivência de grande parte dessas mulheres, e não podemos perder de vista o capitalismo, o patriarcado, as questões de raça  e classe, como intensificadores”, explica Letícia.

A psicóloga lembra do projeto de lei que está tramitando na Câmara para a legalização da profissão: “Se faz urgente regulamentar a profissão, estendendo direitos trabalhistas e previdenciários às profissionais do sexo. Somos aliados da APROSMIG - Associação das Prostitutas de Minas Gerais - que vem lutando para a aprovação do projeto e nos unimos a elas nessa reivindicação. Esperamos também que se construam mais espaços para avançar no debate político, a fim de qualificar mais o projeto e para que toda a diversidade seja ouvida. Nossa luta é pelo enfrentamento da negação dos direitos, das violências, incluindo o extermínio dessas mulheres em Belo Horizonte”, disse Letícia.

O relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou a violência contra a mulher no Brasil, lançado ano passado, mostrou que foram registrados em Minas Gerais, de janeiro de 2011 a abril de 2012, 186.202 casos de violências contra as mulheres, sendo 554 estupros e 494 também estupros, mas sendo esses tipificados como de vulneráveis.

IBGE

A 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil registrou um aumento de 18,17% de casos de estupro em 2012 em comparação com o ano anterior: foram 50.617 casos em 2012, o que equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes.

Mas estudo divulgado pelo IPEA estima que esse número seja 10 vezes maior, já que a maioria não denuncia. Das notificações feitas ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) 70% das vítimas tem até 17 anos, sendo 88,5% das vítimas do sexo feminino, 51% da cor parda ou negra e o agressor é o próprio pai/padrasto (24,1%) ou amigos/conhecidos da vítima (32,2%).

Mesmo com esses dados alarmantes, a sociedade insiste em culpar a vítima pela violência que sofre. Roupas usadas, vida sexual, tudo pode se tornar uma tentativa de justificar o crime, fator que contribui para o baixo número de denúncias e a busca por soluções mais efetivas contra essa cultura nefasta..