Jornal Estado de Minas

Atitudes simples viram armas contra desperdício de energia elétrica

Saber o consumo de cada aparelho, usar aquecedor solar, economizar materiais. Veja como muita gente consegue poupar energia

Junia Oliveira
Fábio Gonçalves, da UFMG, participou de desenvolvimento de sistema que identifica origem do consumo - Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press
Tomar um banho rápido, apagar as luzes e passar as roupas de uma só vez são alguns truques diários para diminuir o consumo de energia em casa ou no trabalho. Mais que aliviar a conta, a questão entrou na agenda do país como necessidade absoluta por causa da ameaça de racionamento e apagão. Mas seriam esses os vilões do desperdício? Muitas vezes, eles estão onde nem imaginamos. Por isso, encontrar o "culpado" ficará bem fácil com um sistema criado em laboratórios de universidade para indicar onde e quando se gasta mais energia. A importância da eficiência no controle de equipamentos e de atitudes simples no dia a dia vai além do bolso: é fundamental para a preservação do ambiente.

O professor aposentado do Departamento de Engenharia Eletrônica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Gonçalves Jota alerta: “O excesso de consumo vem da falta de conhecimento das pessoas do quanto elas desperdiçam de energia no dia a dia”. Ele ressalta que equipamentos eletrônicos ligados em tempo integral podem ter mais impacto na conta que um chuveiro – ao lado do ar-condicionado e da geladeira, é o aparelho que mais consome energia.

Assim, a luzinha vermelha que, aparentemente, indica aparelho desligado, pode ter efeito devastador. “O chuveiro é usado em intervalos menores.
Uma casa pode ter dezenas de equipamentos ligados em stand-by e todos eles somados podem representar uma surpresa no fim do mês”, afirma. Dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) mostram que, atualmente, o desperdício de energia no Brasil é de aproximadamente 20%. Apenas desligar os aparelhos da tomada, por exemplo, representa uma economia de mesmo percentual.

A nova tecnologia, o Sistema Integrado de Gerenciamento Automatizado (Siga), criado por equipes da UFMG e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), vai permitir, numa casa ou numa empresa, saber com exatidão a origem do consumo. Ela chegará ao mercado nos próximos meses para ser comercializada. Sensores que atuam como medidores de energia são instalados em vários circuitos nas edificações (como elevadores e ou iluminação) e nos quadros de energia de uma casa.

Eles enviam as medidas para um banco de dados e, pela internet, o consumidor acompanha como está o gasto, por hora, dia ou mês, podendo comparar com datas anteriores. Será possível, inclusive, fazer previsão do valor da conta de eletricidade. Sinais verdes e vermelhos instalados individualmente nos aparelhos indicarão, ao longo do dia ou do mês, a relação entre a realidade e a meta estabelecida. O Siga permitirá ainda o controle inteligente da casa – ligar e desligar aparelhos mesmo sem estar no imóvel.

Atitudes simples Mas, com ou sem tecnologia, atitudes simples ajudam a reduzir, e muito, o consumo de energia. O orquidicultor Nilton César Pires, de 42 anos, decidiu eliminar, em 2009, o uso do chuveiro elétrico e, para isso, optou pelo aquecedor solar. Hoje, 80% dos banhos da família não dependem de energia elétrica. “Quanto menos energia, menos recurso natural usaremos. Ele está escasso e corremos sério risco de ficar sem água e, consequentemente, sem energia”, relata Nilton.
“Fizemos essa opção visando também a economia financeira e o conforto. Se tiver sol, tem água quente, no frio ou no calor”, acrescenta. Nilton diz ainda que a mudança em casa representou economia de cerca de 30% a 40% na conta de luz, cujo valor, hoje, gira em torno de R$ 100.

Todas as lâmpadas da casa, no condomínio Vale do Sol, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, também foram trocadas pelos modelos fluorescentes. Até o carro entrou na onda da redução de energia, já que a gasolina foi substituída por gás natural. Uma caixa com capacidade para 12 mil litros serve como reservatório de água de chuva, usada para lavar plantas, carro e fazer a limpeza da casa. “Numa emergência, se faltar água na rua, dá até para lavar roupa ou tomar banho”, conta. “São coisas simples de fazer. Aquecedor ou reservatório demanda um gasto, que em pouco tempo é reembolsado pelo que se deixa de pagar na conta”, afirma.

Hábitos

Economia e contribuição ao meio ambiente foram os motivadores de mudanças de atitude também em empresas. Desde o ano passado, o escritório de uma construtora investe na redução de energia, água e consumo de materiais.
O começo das ações foi o mais simples possível: apagar a luz quando sair da sala. E deu certo. A meta de economizar 6% do total da conta de luz foi logo alcançada.

Coordenadora de recursos humanos da Somattos, Raquel Cardozo dos Santos conta que a “moda” pegou entre os funcionários. A diminuição alcançou até mesmo a quantidade de papel toalha usado para secar as mãos e de papel na impressora. “Isso vira um hábito, se torna parte da cultura da empresa. A intenção é propagar, levando essa campanha também para as obras”, diz..