Com a proximidade das férias escolares, antecipadas por causa da Copa do Mundo no Brasil, os pais estão ansiosos para arranjar ocupação extra para os filhos. Caso contrário, crianças e adolescentes tendem a ficar ainda mais tempo no computador. “Já fiz a inscrição do Fernando no curso temporário de natação para as férias e também na orquestra do colégio, que vai continuar a ensaiar em junho. É preciso dar uma cutucadinha para eles saírem de casa”, diz a farmacêutica Jane Vilela Brandão, mãe do adolescente de 14 anos. Ela conta, orgulhosa, que o filho também devora livros, especialmente se o tema for mitologia grega.
Com a palavra Fernando Vilela, que concorda com os planos da mãe. “Se deixar, fico o dia inteiro no computador conversando com meus amigos”, admite o adolescente, que brincava no WhatsApp à tarde, quando a reportagem entrou em contato. “Minha mãe acabou de telefonar para ver se eu estava estudando. Tive de ser sincero, pois, se ela descobrisse depois a verdade, iria me colocar de castigo, sem acesso ao computador”, conta ele, que é incapaz de dizer o número da mãe na conversa pelo telefone. “Posso te passar uma mensagem pelo celular?”, pergunta o jovem.
“Aqui em casa, o ritmo é frenético. Não deixo sobrar tempo, senão ele vai direto para os games”, afirma a advogada Rúbia Borba, de 42 anos. Ela é mãe de Pedro, de 12 anos, que faz atividades complementares todos os dias da semana, menos na sexta-feira, quando costuma passear na casa dos amigos. Além de terapia e de inglês, o adolescente faz futebol, basquete e ginástica. “Não fico com dó, porque ele faz o que gosta. A veia dele é o esporte”, afirma a mãe, que já tentou também matricular o filho em aulas de música e teatro, sem sucesso.
“Se existe algo errado com o filho, que está mais arredio, a culpa não é do celular. Os aparelhos não funcionam sozinhos. Eles representam mais um indício de que a causa do problema”, lembra a pesquisadora da UFMG Luciana Alves. No mestrado, ela investigou a vida de crianças e adolescentes que tinham pouco contato com as ferramentas tecnológicas. “Comparando os testes das crianças que jogavam com as que não jogavam, os resultados mostraram que as usuárias desenvolviam maior atenção e inclusive despertavam o interesse de aprender inglês para lidar com os games.