Belo Horizonte ainda era considerada uma cidade calma, com seus 352 mil habitantes e ares de interior, mas já dava sinais de crescimento em todos os sentidos.
Os desafios urbanos estão longe de ser um fenômeno recente. Em 1950, os efeitos do crescimento já eram sentidos. “Naquela época, BH assistia a um crescimento sem precedentes, determinado principalmente pelo êxodo rural que começou no fim da década de 1920”, afirma o historiador Yuri Mello Mesquita, diretor do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), vinculado à Fundação Municipal de Cultura.
O crescimento abrupto pegou a cidade desprevenida e sem planejamento. Era preciso descentralizar os serviços, criar secretarias, departamentos, enfim, pôr a máquina administrativa para funcionar. A tarefa demandou tempo e ultrapassou o governo do primeiro prefeito, sendo também uma das preocupações do sucessor, Américo René Giannetti. “Havia questões estruturais a serem resolvidas desde a fundação da cidade, entre elas o saneamento. A falta de moradia era outro problema sério. A prefeitura, então, procurava dar um norte para a situação”, diz Yuri. Nos últimos 64 anos houve muitas obras em todos os campos. O historiador cita como fundamental a construção, em 1973, do Sistema Rio das Velhas, em Nova Lima, na Grande BH, que começou a pôr o abastecimento de água da cidade nos eixos.
A cidade que pulsava era famosa pelo seu clima ameno, bom para se viver. Sem televisão e acompanhando as notícias do Brasil e do mundo pelo rádio, o belo-horizontino era louco por futebol e filmes na tela de cinema. Só para se ter uma ideia, havia 21 cines entre a área central e os bairros. “A capital era muito diferente de hoje, tenho saudade daquela atmosfera de inocência”, recorda-se Haroldo Falabella, que completará 90 anos em 16 de julho e está casado há 67 anos com dona Neide, de 85.
“Na época, não houve clima de muita euforia por aqui durante o Mundial. Os torcedores gostavam mesmo era dos times locais”, conta Haroldo, que trabalhou como publicitário e foi documentarista de 1955 até os anos 1970. O melhor mesmo, segundo ele, era reunir os amigos e seguir para o estádio, a que ele chama de “campo do Sete de Setembro”. “Quase todo mundo se conhecia, Belo Horizonte parecia uma grande família. A Praça da Liberdade era o ponto de footing, a gente caminhava, os namoros aconteciam e os amigos batiam papo. Nas manhãs de domingo, era a hora de ir ao Minas Tênis Clube, à noite, à hora-dançante, tudo sempre com muito respeito”, lembra-se, com um brilho especial nos olhos. Voltando ao futebol, apesar de ansioso para ver a atuação da Seleção nos gramados, Falabella acha difícil que o Brasil volte a ter um time com grandes jogadores do quilate de “Pelé, Garrincha e Jairzinho e outros”.
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