Às vésperas do desembarque das seleções de Chile, Argentina e Uruguai em Minas Gerais para o início da Copa do Mundo, o nível de alerta em relação à segurança pública e à mobilidade urbana se aproxima do máximo na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Além da expectativa natural provocada pela proximidade do evento que testará estruturas e anos de preparação, três situações contribuíram para fazer disparar o termômetro da tensão pré-Mundial na Grande BH. A mais surpreendente delas talvez seja a saída do principal homem de frente da estrutura militar responsável pelo policiamento durante o evento: a uma semana do início do campeonato, o chefe do Comando de Policiamento Especializado, coronel Antônio de Carvalho, pediu transferência para a reserva, deixando a liderança de nada menos que nove unidades estratégicas da PM, fundamentais para atuação em caso de manifestações.
Paralelamente, espalham-se pela capital, especialmente entre concessionárias, iniciativas de blindagem de estabelecimentos para evitar depredação. Os paredões de aço, já comuns na Avenida Antônio Carlos, perto do Mineirão, onde várias lojas foram destruídas no ano passado, agora são visíveis também em agências das avenidas Cristiano Machado e Raja Gabaglia. Em meio a esse clima, na véspera da chegada da primeira delegação internacional, manifestantes fecharam ontem por mais de quatro horas a principal ligação entre Belo Horizonte e o aeroporto de Confins, sem que a polícia tenha conseguido lidar com a situação e evitar transtornos para a população, especialmente para quem seguia rumo ao terminal.
Pela segunda vez em 15 dias, a MG-010, principal ligação entre o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e Belo Horizonte, ficou fechada, causando congestionamentos quilométricos e tumultuando a vida de milhares de pessoas, especialmente de quem tinha voo marcado. Os momentos do último dia 22, quando integrantes de ocupações urbanas fecharam a Linha Verde, se repetiram, mas, desta vez, os responsáveis pela interdição de mais de quatro horas em frente à Cidade Administrativa foram os professores estaduais, em greve desde 21 de maio. Em três momentos o clima ficou mais tenso, com motoristas enfurecidos tentando enfrentar os professores, e houve pelo menos um confronto entre um policial e um manifestante.
O novo bloqueio liga o alerta para a mobilidade das seleções que vão passar por BH na Copa do Mundo.
Ontem, para quem não tinha escolta, os bloqueios começaram às 9h30. Primeiro, os manifestantes se alternaram entre a marginal e pista principal no sentido BH, exigindo reunião com representante do governo estadual. Logo depois, a interdição foi ampliada para o sentido aeroporto, causando engarrafamento superior a sete quilômetros, que invadiu a Avenida Cristiano Machado. Em direção a BH, permaneceram as liberações alternadas entre pista principal e marginal, até que os manifestantes se concentraram apenas no sentido Confins, a partir de 12h24.
Às 14h, quando o clamor pela liberação era muito grande, os manifestantes aceitaram sair da pista sentido Confins e desceram de volta para as faixas em direção à capital. Porém, a PM alegou que houve descumprimento do que foi combinado e começou o tumulto. Militares alegam que professores cercaram o capitão Cláudio Antônio de Matos e, por isso, tiraram os manifestantes de perto, para liberar uma faixa de trânsito. O professor Fabrício Fraga, de 45 anos, mostrando uma marca na barriga, disse que foi empurrado por um militar e recebeu um jato de spray de pimenta no rosto.
A paralisação no tráfego, especialmente em direção ao aeroporto, obrigou várias pessoas a abandonar carros e ônibus e seguir a pé, arrastando malas pela MG-010. Um grupo de seis pessoas desceu de um coletivo e passou pelos manifestantes caminhando. À frente, com muita pressa, estava a engenheira Fernanda dos Santos Ribeiro, de 27 anos. Às 11h10, ela tinha apenas 50 minutos para evitar perder o voo em direção ao Panamá. “Vou para o México a trabalho e preciso encontrar um táxi ou qualquer outro meio de transporte para não perder o avião”, afirmou.