O Bairro São José, colado à Avenida Abrahão Caram (veja mapa), é o mais afetado pelas restrições de segurança. O esquema de controle de circulação em dias de jogos inclui cadastro de moradores e a obrigatoriedade de comprovante de residência na carteira. Foi preciso chegar ao São Luís para encontrar uma residência na região nas cores da bandeira brasileira. O comércio exibe algumas bandeirinhas, com vitrines enfeitadas para a temporada internacional.
Erguido há 40 anos – um dos primeiros do Bairro São Luís –, o imóvel está tomado de verde e amarelo. Até projeto de iluminação especial o endereço ganhou para dar mais visibilidade à enorme bandeira exposta na rede de proteção da quadra esportiva da casa. De acordo com Clélia, ali, o Brasil é uma paixão que se renova sempre. “Não vou deixar de enfeitar a minha casa por causa das manifestações. Meu patriotismo é muito maior do que o meu medo”, ressalta. A artista plástica, professora aposentada, comenta a decepção com a situação política e lamenta a “falta de preparo” do país para lidar com um evento “de tamanha importância e grandeza”.
No entanto, conscienciosa, Clélia deixa o que recado que compartilha entre os seus: “Já que a Copa vai ser aqui, vamos receber bem, com muito carinho, os nossos turistas”, sorri. Em casa, a paixão pelo “país do futebol” é também sentida pelos filhos e netos. A residência, ainda que tão próxima do Mineirão, é o “camarote” da família reunida para os jogos mais importantes. Há quarenta anos é assim. É o 10º Mundial de paixão nas raízes, com atleticanos e cruzeirenses, apaixonados, sob o mesmo teto.
Cláudia, a caçula, não é menos crítica: “Entendo perfeitamente a decepção das pessoas. A gente acreditava que no ‘país do futebol’, ao menos com a Copa, houvesse mais compromisso e responsabilidade com o dinheiro público”.
Vandalismo
Perto do endereço mais colorido dos dois bairros, a comerciante Luciana Beatriz é uma das mais empolgadas com a decoração verde e amarela. Atrás das vitrines, o time de objetos e adereços é do mais variado e chamativo. Chega a apagar o nome miúdo do estabelecimento. Luciana espera vender muito nas próximas semanas e quer deixar a melhor impressão possível aos visitantes. Animada com a proximidade do Gigante da Pampulha, alvo de “todas as lentes do planeta”, não quer deixar nenhum gringo de mãos vazias.
“Temos é que receber muito bem os turistas. O mau momento político do país não tem nada a ver com o excelente futebol brasileiro. A Copa é uma ótima oportunidade de mostrar para as pessoas do mundo que somos um povo de amor e paz”, diz. A vendedora não aprova nenhum tipo de vandalismo e entende que as manifestações passaram dos limites na Copa das Confederações, quando mais de uma dezena de lojas na região foram destruídas.
Acesso e circulação restritos
Se por um lado, a segurança é reforçada nos dias de jogos, por outro as ruas nas proximidades do Mineirão ficam tomadas por carros, trazendo muito aborrecimento aos moradores.
Érika Russo, de 29 anos, mora há duas quadras do estádio. A nutricionista, casada com o professor Frederico Mafra, e mãe dos pequenos Mariana, de 5, e Davi, de 1, não perde o humor e a simpatia com os aborrecimentos do bairro com os grandes eventos. Entretanto, lamenta a violência crescente dos últimos tempos, efeito, segundo ela, do bairro em evidência. “Na Copa das Confederações, além dos helicópteros, o trânsito e o controle das ruas trouxeram muito transtorno para os moradores”, relembra.
Erika diz que a vontade, na medida do possível, é evitar ficar em casa nos dias de partidas no Mineirão. “Sem falar que fica até difícil acompanhar os jogos pela TV e pelo rádio, porque estão sempre atrasados em relação ao estádio, aqui nos fundos”, diverte-se ao se referir às diferenças no tempo das transmissões. Quanto à empolgação com o Mundial, a nutricionista avalia que não há como descolar o evento da política. O que, para ela, justifica a ausência do clima de festa na família com a Copa.
Desânimo
Maria Rosa Cardoso, de 49, dona de comércio no Bairro São José, também comenta a falta de empolgação com a Seleção Brasileira, a menos de uma semana da abertura da Mundial. “O desânimo dos familiares e dos amigos tem me contagiado. Em outras Copas já estive muito mais animada. Mas vou torcer. Sempre torço pelo Brasil”, diz. Sobre ir aos jogos no estádio vizinho, “nem pensar. É muito caro. Está fora de questão”. Na banca da comerciante, de esquina, só agora bandeirinhas e cornetas começam a ter alguma saída. (JFC) .